A campanha de saúde no mês de novembro tem por foco a saúde do homem. Uma das razões da escolha do período foi o movimento Novembro Azul, cujo objetivo é chamar atenção para a prevenção e o diagnóstico precoce das doenças que atingem a população masculina, com ênfase na prevenção do câncer de próstata.

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Nesse contexto, em 2008, foi criada a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem com finalidade de ampliar o olhar para além da prevenção ao câncer de próstata. Segundo a referência técnica de Atenção Primária à Saúde (APS) da Unidade Regional de Saúde (URS) de Belo Horizonte, Roseli Lima, é preciso ter a visão sobre os cuidados integrais com a saúde do homem. “Saúde mental, infecções sexualmente transmissíveis, doenças crônicas (diabetes, hipertensão), entre outros pontos, devem ser sempre observados pela população masculina”, salienta. Lima ressalta a diretriz da política em promover ações de saúde que contribuam significativamente para a compreensão da realidade singular masculina nos seus diversos contextos socioculturais e político-econômicos, respeitando os diferentes níveis de desenvolvimento e organização dos sistemas locais de saúde e tipos de gestão de estaduais e municipais. “A política da saúde do homem é uma construção que passa, necessariamente, pela Atenção Primária porque é a porta de entrada do Sistema Único de Saúde. A Atenção Primária é o local onde ele é reconhecido enquanto sujeito do território. O homem deve ser corresponsável na gestão do autocuidado.”
O analista de sistemas da Regional de Saúde de Belo Horizonte, João Ferreti Macieira, afirma que o autocuidado com a saúde por parte dos homens passa por mudança comportamental. “Como mudar o comportamento de alguém? Eu me lembro de uma situação de infância. Fui com meus irmãos e minha irmã na casa de uma tia que tinha piscina. Pulamos na piscina e não sabíamos que era funda. Quase afogamos. Aprendemos a lição. Quando chegar à casa das pessoas, devemos observar antes de agir”. Com essa analogia o analista de sistemas pondera sobre questões biológicas e culturais. “As mulheres vão ao médico com maior frequência. O autocuidado é muito maior. Eu não vou ao médico toda hora, apenas quando incomoda muito. Acredito que seja um instinto protetor em relação aos outros em detrimento de si mesmo. Eu não sou prioridade.” Nesse contexto, o também analista de Sistemas da Regional de Belo Horizonte, Wilson dos Santos, reforça a percepção de João. “Faço um check-up anual completo. Como, normalmente, está tudo certinho, não me preocupo. Infelizmente, não tenho outras ações preventivas. Não é o certo. Eu sei.” Wilson e João destacam a necessidade de aperfeiçoamento da assistência. “Ao procurar a assistência, vemos que há dificuldades. A saúde é cara e, não raro, demanda grande tempo para consultas, exames e procedimentos. Esse contexto acaba potencializando a percepção de apenas procurar a assistência em caso extremo”, enfatizam.

Saúde masculina em 5 eixos

Para atingir o objetivo geral, que é ampliar e melhorar o acesso da população masculina adulta – 20 a 59 anos – do Brasil aos serviços de saúde, a Política Nacional de Saúde do Homem é desenvolvida a partir de cinco eixos temáticos:

· Acesso e Acolhimento. O objetivo desse eixo consiste em reorganizar as ações de saúde por meio de uma proposta inclusiva, na qual os homens considerem os serviços de saúde também como espaços masculinos e, por sua vez, os serviços reconheçam os homens como sujeitos que necessitam de cuidados.

· Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva. Possui por finalidade sensibilizar gestores, profissionais de saúde e a população em geral para reconhecer os homens como sujeitos de direitos sexuais e reprodutivos, os envolvendo nas ações voltadas a esse fim e implementando estratégias para aproximá-los dessa temática.

· Paternidade e Cuidado. O foco consiste em sensibilizar gestores, profissionais de saúde e a população em geral sobre os benefícios do envolvimento ativo dos homens com em todas as fases da gestação e nas ações de cuidado com descendentes, destacando como esta participação pode trazer saúde, bem-estar e fortalecimento de vínculos saudáveis entre crianças, homens e cônjuges.

· Doenças prevalentes na população masculina. O centro desse eixo está na busca do fortalecimento da assistência básica no cuidado à saúde dos homens, facilitando e garantindo o acesso e a qualidade da atenção necessária ao enfrentamento dos fatores de risco das doenças e dos agravos à saúde.

· Prevenção de Violências e Acidentes. A sensibilização da população em geral e dos profissionais de saúde é a questão principal desse eixo que visa propor e/ou desenvolver ações que chamem atenção para a grave e contundente relação entre a população masculina e as violências (em especial a violência urbana) e acidentes.

Novembro Azul no Brasil

Em 2008, mesmo ano da criação da política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, nasceu o Instituto Lado a Lado pela Vida com missão extremamente desafiadora: promover a conscientização dos homens acerca da doença e dos exames necessários para detectar precocemente o câncer de próstata e diminuir o número de mortes pela doença no país.

A primeira campanha criada pelo Instituto Lado a Lado pela Vida no período de 2008 até 2010 levava o nome “Um toque Um drible”, uma clara referência a linguagem usada no futebol, a grande paixão dos brasileiros. O objetivo era pegar uma carona neste esporte tão popular e aproveitar para promover a conscientização sobre saúde junto aos homens.

Foi neste período que o Instituto Lado a Lado pela Vida começou a olhar para a Campanha Outubro Rosa, um movimento internacional de conscientização sobre o câncer de mama e decidiu se organizar para lançar no Brasil uma campanha semelhante, só que voltada para a conscientização dos homens sobre o câncer de próstata e a saúde integral.

E foi assim, que em 2011, nasceu a Campanha Novembro Azul, criada pelo Instituto Lado a Lado pela Vida e hoje, uma das maiores campanhas sobre saúde do homem no Brasil, parte do calendário nacional.

Para se ter uma ideia, a campanha impactou em 2020 mais de 82 milhões de pessoas, estando presente em 24 estados, realizou 1.500 palestras e contabilizou o engajamento de 610 empresas em todo o Brasil.

A campanha vem ajudando também o Instituto Lado a Lado pela Vida, nestes 10 anos de intensas atividades, a caminhar e dar passos cada vez maiores na contribuição para as mudanças necessárias na saúde dos homens não só em relação ao câncer de próstata, mas na saúde de forma mais ampla.

A conscientização sobre as principais doenças que acometem o homem, como os cânceres de pulmão, pele e melanoma, rim, bexiga, pênis e testículo, assim como, as doenças crônicas, cardiovasculares, saúde mental, paternidade e violência também passaram a fazer parte das informações que a campanha leva ano a ano para todo o Brasil.

Informação, maior acesso aos serviços de saúde com equidade e qualidade de atendimento nas unidades de saúde e nos tratamentos disponíveis para todos os homens é uma luta que o Instituto Lado a Lado pela Vida vem travando todos os dias.

A Campanha Novembro Azul está aí para engajar cada vez mais a população, os gestores da saúde pública e privada, os profissionais da saúde, empresas e todos que buscam políticas públicas efetivas e educação que contribuam para a diminuição de mortes por câncer de próstata e o crescimento da consciência de cada homem sobre a importância de cuidar do seu corpo e de sua mente.

 

Por Leandro Heringer