Em 1988, o Brasil teve a primeira mulher indicada ao Prêmio Nobel. Desde então, houve mais oito indicações. Desse total, entre homens e mulheres, a liderança é delas: 5 vezes indicadas. Isso tem um significado importante. Afinal, faz mais de 110 anos que houve a primeira indicação de um brasileiro ao prêmio. E até que a freira católica Irmã Dulce, em 1988, chegasse mais perto de obter o Nobel, 31 homens brasileiros tiveram a oportunidade de sonhar vencendo a premiação. É bom lembrar que há apenas 91 anos a mulher votou pela primeira vez no Brasil.,

O jogo virou. No século 21, das 4 indicações, 3 foram para mulheres.

O dia 8 de março foi concebido por meio da luta feminina. Por meio da busca de direitos. Na área da saúde, há mulheres buscando direitos, há mulheres fazendo história. E há mulheres se tornando notáveis. Haja prêmios Nobel daqui pra frente. O Brasil e as mulheres merecem.

E hoje, apresentamos parte de diferentes, mas igualmente impressionantes e admiráveis,  histórias e relatos de 8 mulheres que todos os dias constroem a história da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Juiz de Fora e da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG).

Dulce

“Eu não choro mais, não consigo chorar”. No dia 16 de março, Dulcinéa Augusta Neto, a Dulce, completa 13 anos de serviços prestados à Superintendência Regional de Saúde de Juiz de Fora. Ela atua como auxiliar de limpeza e também faz um café maravilhoso. Para ela, o dia da mulher é uma data importante para celebrar as conquistas alcançadas por todas. “Antigamente a mulher não podia fazer quase nada, nem trabalhar, nem falar. É satisfatório ver uma mulher dirigindo ônibus, carreta, virando deputada”, revela Dulce.

Uma frase para resumir Dulce poderia ser retirada da letra do Hino Nacional: “gigante pela própria natureza”. Mulher forte, que continua perseverando, apesar das adversidades. Aos 7 anos de idade, ouviu o médico dizer ao pai dela que ele iria morrer se não largasse a bebida.

Ela nunca esqueceu isso. Ficava preocupada aos fins de semana, quando o pai sumia. Achava que receberia uma notícia ruim. Pensando em se precaver, percebeu a necessidade de trabalhar para ajudar no sustento de seus 10 irmãos, caso o pai viesse a faltar. Aos 13 anos conseguiu vaga como menor aprendiz, numa fábrica de papel. Sua função era montar caixas de sapato.  “Na época, a firma pegava, né, menor de idade”, diz.

Desde então, Dulce só parou de trabalhar por três anos, para cuidar do seu filho quando nasceu. O marido dela a abandonou tempos depois por causa da bebida.

O pai morreu cedo, cumprindo a sentença do médico. Depois dele, partiram os avós de Dulce. Aos poucos foram morrendo os irmãos. A mãe, há 10 anos, está acamada. Não anda mais, também não fala. Come com dificuldade.

Por isso, há 10 anos Dulce pega a bicicleta, no horário de almoço, e vai até a casa da mãe para dar banho e almoço. Todos os dias. Faça chuva ou faça sol. Meia hora para ir e meia hora para voltar. “Sou grata aos diretores da Regional que desde o começo tiveram essa compreensão”, revela.

Dos dois irmãos que restaram, uma está com um câncer em estágio avançado, com pouco tempo de expectativa de vida. “Com o tempo, parece que a gente se acostuma com a morte. Já estou meio anestesiada. Quando você tá chorando por um, daí a pouco ta chorando por outro”, conta.

“Mas eu tô feliz. Nessa caminhada, com todas as dificuldades, já tive muitas conquistas. É satisfatório olhar pra trás e ver tudo que eu fiz. Sustentei meu filho. Hoje tem profissão. Comprei terreno, fiz minha casa. Comprei terreno pro filho”.

Hoje, a mãe de Dulce, que faz aniversário no mesmo dia que ela, recebe consulta em casa, desde novembro, do médico do Sistema Único de Saúde (SUS). O que a alivia.

E Dulce não vai parar. “Quando tudo isso passar, vou curtir mais a minha neta, meu filho. Outro dia, na fila do mercado, tinha um moço muito triste porque a esposa morreu. Falei com ele ‘cria coragem e vai em frente’. Não tem jeito, a vida não pode parar”.

Flávia Pinheiro

A pessoa que almoça mais cedo na Regional. Flávia Pinheiro faz faculdade de administração e faz estágio na direção da Regional há 16 meses. Para ela, o Dia Internacional da Mulher representa as lutas e conquistas por respeito e igualdade no mercado de trabalho, em casa ou na rua. “Apenas no século XX as mulheres conquistaram direito ao voto, as casadas não precisam da autorização dos maridos para trabalhar e os primeiros direitos trabalhistas foram concedidos às mulheres. Seguimos derrubando barreiras e superando limites”, destaca Flávia.

Ísis Prock Nani

Os sobrenomes de Isis são de origem austríaca e italiana. Talvez isso deva ser um dos motivos de tamanha resiliência que ela desenvolveu. Herdou um pouco do melhor de cada lugar de onde veio sua família.

Há pouco tempo Ísis superou um câncer. Ainda faz acompanhamento semestralmente, mas o tratamento teve resultado positivo. Está em remissão. “Sou uma guerreira. Percebi isso ao passar pela descoberta de um câncer e fazer todo o tratamento. Passar pelo processo e descobrir forças e levezas que nem sabia que tinha”.

O Dia Internacional da Mulher para Ísis é um lembrete “de que há ainda muitas causas para serem discutidas e muito a ser conquistado”, afirma. “É também um dia em que percebemos mais claramente a admiração do mundo para conosco e de nós mesmas umas com as outras”.

Rafaela Almeida

Ra faela ou Ra dical. Você decide. Enfermeira por formação, atua no núcleo de epidemiologia, onde é referência em doenças exantemáticas, Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s), e várias outras coisas. Mas quando bate o ponto e pega o capacete, sai a enfermeira e entra a motociclista desbravadora da América do Sul. Já foi de moto para a Argentina. Mas a viagem para o Uruguai foi a mais longa.

“Experimentar a liberdade que a estrada nos proporciona está entre os meus hobbies favoritos. A viagem para o Uruguai foi a que mais me marcou. Fomos eu, meu pai e uns amigos. Partimos de Paraíba do Sul, no Rio de Janeiro, e percorremos quase 6 mil quilômetros de ida e volta”, relata.

No caminho para o Uruguai conheceu muitas cidades e paisagens que a surpreenderam. “Foram dias mágicos. Passar pelo litoral e conhecer as belezas do nosso país.  Conhecer as famosas curvas da Serra do Rio do Rastro, entre tantas experiências fantásticas”. Até eu fiquei empolgado.

Sandra Kilesse

Séria. Se dependesse de Sandra, as coberturas vacinais estariam em 100%. Ela é a referência técnica em imunização da Regional. Volta e meia vou lá perguntar se chegou a vacina tal, se vai vir mais. Sandra faz tudo que estiver ao seu  alcance para servir.

“O dia da mulher, para mim, não é simplesmente o 8 de março. São todos os dias. Nos dias que ela sai de casa, que levanta cedo para o seu trabalho. Essa é a mulher brasileira. Não abaixa a cabeça, mostra onde é o seu lugar e está sempre presente na vida das pessoas”, destaca.

Mas quem é a mulher Sandra? “Sandra é esse exemplo de mulher brasileira. Que correu atrás dos seus sonhos. É mãe, avó, filha e profissional da enfermagem que está todo dia acolhendo os usuários do SUS”, descreveu.

Júlia Costa

No livro “A insustentável leveza do ser”, de Milan Kundera, há um trecho que diz mais ou menos assim: “A bondade humana, se for realmente pura, só pode existir se o destinatário dessa bondade não tiver poder. Assim, o verdadeiro teste moral da humanidade é a misericórdia que se mostra para com os animais.”

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Essa misericórdia está presente em Júlia. Ela tem dois gatos, um cachorro e atua numa ONG que resgata animais de rua, no município de Santos Dumont, cidade onde nasceu e para onde vai aos finais de semana. Em Juiz de Fora ela estuda enfermagem, curso que termina esse ano. Na Regional é estagiária no setor de Imunizantes.

“O dia internacional da mulher é um dia de comemoração relacionada a toda a luta que as mulheres tiveram durante os anos por direito de voto, de estudo, de ter seu próprio espaço e tomar suas decisões. É para comemorar as vitórias que já tivemos e as que virão também. ”

Júlia é mais uma mulher tentando ganhar espaço. “Para a mulher existem vários obstáculos durante todo o trajeto.  E em todas as áreas. Algumas pessoas tentam inferiorizar, tanto pela idade quanto pelo gênero”, desabafa.

Suzy Darly

“Sem a nossa empatia e sabedoria, a vida seria mais difícil”. Olha, Suzy, eu tenho a mesma opinião. Suzy é servidora desde 2019 e atua no laboratório macrorregional. Mãe da Emanuelly, de 11 anos, e divorciada, ela gosta de correr ao ar livre, viajar e curtir a natureza.

Para ela, o dia 8 de março é muito importante. “Esse dia é para mostrar que nós, mulheres, devemos ainda aprender a nos amarmos e respeitarmos em primeiro lugar, antes de tudo e de todos. Pois será a nossa força que irá movimentar o mundo”, ressalta.

Adriana Lemos

Adriana começou a trabalhar na regional há cerca de duas semanas apenas. Leve e tranquila, “mas no primeiro dia fiquei assustada”, revela. Adriana atua na unidade da Farmácia de Minas da Regional, atendendo o público, com outros servidores. Aproximadamente 500 pessoas são atendidas diariamente. Mas Adriana emana leveza: “só almejo chegar à velhice com serenidade e tranquilidade”, conta.

“O dia da mulher é uma data que a gente pode relembrar o quanto algumas pessoas lutaram para que a gente tivesse direitos. É também um lembrete para a gente não se acomodar. Pois, apesar das conquistas que já tivemos, temos outras lutas, outros direitos para reivindicar”, observa.

E é isso. Talvez alguém diga que seria melhor que fosse uma mulher entrevistando outras mulheres e contando suas histórias. O que eu posso responder é que homens precisam cada vez mais ouvir as mulheres.

Por Jonathas Mendes