Durante todo este primeiro mês do ano, as equipes de saúde da Atenção Primária dos 31 municípios que compõem a Gerência Regional de Saúde (GRS) de Ubá estão mobilizando entre a população o tema da conscientização e combate à hanseníase. Tradicionalmente chamada Janeiro Roxo, a campanha tem por objetivo alertar para os principais sinais e sintomas da doença, como a diminuição de sensibilidade na pele, sensação de dormência e o aparecimento de manchas mais claras, vermelhas ou marrons, além de ressaltar sobre a importância do diagnóstico precoce e tratamento gratuito disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).

O Janeiro Roxo lança luz sobre o trabalho que a GRS Ubá vem construindo para que o diagnóstico, tratamento e acompanhamento das pessoas acometidas pela hanseníase sejam feitos completamente dentro do município de residência do paciente. Para isso, em 2023 foram realizadas duas oficinas sobre “Avaliação Neurológica Simplificada (ANS) da pessoa acometida pela hanseníase e o grau de incapacidade física”, contemplando equipes de 11 municípios. O objetivo foi dispor de profissionais habilitados no diagnóstico da hanseníase dentro das unidades de Saúde da Família, que façam a avaliação clínica do paciente e proporcionem um início mais rápido do tratamento, interrompendo a transmissão da doença e evitando a ocorrência de incapacidades e deformidades.

Enfermeira Cíntia Moreira aplicando a avaliação neurológica simplificada em pessoa que teve contato com hanseníase

Anteriormente, os municípios encaminhavam os pacientes com suspeita de hanseníase para o hospital da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), em Ubá, o que aumentava o tempo e dificultava o diagnóstico oportuno. 

“O olhar das equipes de Saúde que estão nos bairros é determinante no sucesso da detecção, pois, apesar de existir exame laboratorial que, em alguns casos, aponta a hanseníase, que é a baciloscopia, ele sozinho não possibilita fechar o caso”, pontuou Priscila Teixeira, referência técnica em hanseníase da GRS Ubá. Ela explica que “a impossibilidade de fechar o diagnóstico somente com o exame aumenta a importância da aplicação da avaliação clínica, que pode ser realizada pela enfermagem, conferindo mais agilidade ao processo”.

As oficinas foram ministradas pela terapeuta ocupacional, Eliane Duarte, da Casa de Saúde Padre Damião, pertencente à rede Fhemig. “Nosso intuito foi propor a simplificação do acesso do usuário, estando tudo a disposição dele dentro do seu próprio município, desde os exames, tratamento, acompanhamento até a cura. Todo esse processo o SUS oferta gratuitamente para a população”, completou Priscila Teixeira. 

A GRS Ubá publicou recentemente um boletim de Vigilância em Saúde, com dados regionais, sobre o cenário epidemiológico da hanseníase, que pode ser conferido clicando aqui. Estão previstas mais duas oficinas até março deste ano para capacitar os outros 20 municípios da sob jurisdição da GRS Ubá. 

 

Diagnóstico da hanseníase na Atenção Primária

Em agosto de 2023, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Visconde do Rio Branco implantou o diagnóstico da hanseníase na Atenção Primária, logo após a primeira oficina realizada pela GRS Ubá. O fluxo estabelecido prevê a identificação de casos suspeitos pelos Agentes de Saúde, que encaminham para avaliação da enfermagem do Posto de Saúde da Família (PSF) e consulta médica, se necessária. Identificada a suspeita de hanseníase, o paciente é encaminhado para o Centro de Saúde Beira Rio, onde será aplicada a Avaliação Neurológica Simplificada e outros procedimentos confirmando ou não o caso. Toda a medicação é fornecida pelo SUS e as doses são supervisionadas pelas equipes de PSF, para prevenir o abandono do tratamento. 

Para implementar esse fluxograma, foram realizadas capacitações e alinhamentos. “Trabalhamos para sensibilizar nossos profissionais quanto à hanseníase, porque é uma doença silenciosa e, se não tratada a tempo, pode deixar sequelas graves. Nestes seis primeiros meses, foram 13 avaliações e seis diagnósticos confirmados, que estão tomando os medicamentos e em acompanhamento”, contou Cíntia Moreira, enfermeira referência técnica em Imunização e Hanseníase da Secretaria de Saúde de Visconde do Rio Branco. 

Ela ressaltou que metade desses pacientes haviam abandonado o tratamento por fatores diversos como não compreenderem bem o processo e questões sociais. “O PSF conseguiu fazer esse resgate, impedindo assim que os quadros continuassem se agravando, sendo que hanseníase tem tratamento e cura”, complementou Cíntia Moreira

 

Mais informações sobre a hanseníase

Sintomas - A hanseníase inicia-se, em geral, com manchas brancas, vermelhas ou marrons em qualquer parte do corpo, com alteração de sensibilidade à dor, ao tato, ao calor e ao frio. Podem aparecer também áreas dormentes, especialmente nas extremidades, como mãos, pernas, córneas, além de caroços, nódulos e entupimento nasal. Nesses casos, o paciente deve procurar uma unidade de saúde mais próxima para confirmar o diagnóstico. Se a hanseníase não for tratada, pode causar lesões severas e irreversíveis.

 

Tratamento - É feito por meio de comprimidos que são fornecidos gratuitamente nas unidades de saúde. Devem ser tomados diariamente até o término do tratamento, o que é muito importante para alcançar a cura. Vale ressaltar que, imediatamente após iniciar o tratamento, que dura entre 6 a 12 meses, mesmo os pacientes da forma contagiosa, cerca de 30% do total de doentes, já não há perigo de contágio para as pessoas com quem convivem. Os contatos domiciliares dos pacientes com hanseníase têm maior risco de desenvolver a doença, portanto, também devem ser examinados e orientados. 

Por Keila Lima / Fotos: Juliana Vieira