Virgem da Lapa, município situado no Vale do Jequitinhonha, esteve entre os destaques durante a II Conferência Nacional da Planificação à Saúde, realizada em Brasília, nos dias 10, 11 e 12 de dezembro. Este reconhecimento veio como resultado do sucesso do projeto "Saúde na Estrada", uma iniciativa inovadora no campo da imunização, especialmente voltada para comunidade rural e quilombola.
A região de Virgem da Lapa, que pertence à área de abrangência da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Diamantina, enfrenta desafios significativos no campo da saúde pública, principalmente devido à sua localização remota e às dificuldades de acesso. Diante deste contexto, o projeto "Saúde na Estrada" foi desenvolvido pela Secretaria de Saúde do município com o apoio da Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) e do Hospital Israelita Albert Einstein, com o objetivo de superar essas barreiras, para oferecer imunização efetiva à toda população.
Lançado em 2018, o projeto teve uma pausa devido à pandemia de covid-19, mas foi retomado em novembro de 2022, após revisão abrangente conforme orientações e diretrizes do Saúde em Rede, projeto vinculado à SES-MG. Os desafios enfrentados incluíam dificuldades de acesso às unidades de saúde, condições precárias das estradas rurais e falta de informação sobre a importância da vacinação. A retomada do projeto visou abordar esses problemas, com um foco na melhoria da cobertura vacinal.
Para atingir a população rural, a coordenação de Atenção Primária à Saúde (APS) do município implementou um cronograma semanal de visitas às comunidades, realizando a busca ativa de indivíduos com cadernetas de vacinação desatualizadas e oferecendo vacinas de rotina e campanha. Para a população urbana, a iniciativa incluiu a oferta de vacinações noturnas quinzenais em escolas municipais, permitindo o acesso de pessoas que não conseguiam visitar as unidades de saúde durante o horário regular de funcionamento.
A enfermeira Mylena de Oliveira Araújo, referência técnica de imunização do município e autora do projeto, expressou sua satisfação com os resultados alcançados com o Saúde na Estrada. Ela ressaltou a importância do trabalho em equipe, que envolve enfermeiros, técnicos de enfermagem e agentes comunitários de saúde, na superação dos desafios impostos pelo terreno e acesso limitado em algumas áreas.
"Temos algumas comunidades remotas de difícil acesso e, por diversas vezes, os técnicos de enfermagem tiveram que utilizar motocicletas para chegar às casas”, afirma Araújo. Ela também destacou o apoio fundamental da Secretaria Municipal de Saúde de Virgem da Lapa, que fornece veículos e insumos necessários, além de enfatizar a contribuição determinante do projeto “Saúde em Rede” na organização dos macro e micro processos de sala de vacina, um elemento chave na estratégia de planificação nas unidades básicas de saúde.
Resultados alcançados
Os resultados do projeto foram bastante significativos. Conforme dados do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI Web), em janeiro de 2022, a cobertura acumulada da Vacina Inativada Poliomielite (VIP) no município era de 21,62%, e da vacina PENTAVALENTE, que garante a proteção contra a difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e contra a bactéria haemophilus influenza tipo b, 54,05%. Já em março de 2023, esses números saltaram para 147,54% e 137,70%, respectivamente.
“Iniciativas como essa demonstram a capacidade de adaptação e inovação dos municípios em enfrentar desafios únicos, fortalecendo o Sistema Único de Saúde e reforçando a importância da vacinação”, destacou Cleya da Silva Cruz, superintendente da Regional de Saúde de Diamantina.
Projeto Saúde em Rede
O projeto "Saúde em Rede", iniciado em 2019, no Vale do Jequitinhonha, pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), é uma iniciativa estratégica que visa aprimorar a qualidade dos serviços de saúde ao cidadão, por meio da qualificação das equipes de Atenção Primária (APS) e de Atenção Ambulatorial Especializada (AAE) em municípios mineiro. Seu objetivo central é reorganizar a forma de trabalho dessas equipes, melhorando a integração entre atenção primária, atenção especializada e hospitalar, e assim criar uma Rede de Atenção à Saúde focada nas necessidades dos usuários do Sistema Único de Saúde.
Por Ricardo Maciel
