A Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Montes Claros retomou, no dia 12 de setembro, a realização de reuniões presenciais do Comitê de Investigação de Casos de Transmissão Vertical das Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), HIV, Sífilis e Hepatites B e C. O Comitê foi implantado em 2018 mas, durante a pandemia da covid-19, os encontros presenciais foram paralisados.
O comitê é composto por um representante de cada coordenadoria da Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros: Vigilância em Saúde; Regulação; Assessoria de Gestão Regional e Assistência à Saúde; representante de serviços de Vigilância Epidemiológica dos 54 municípios da área de atuação da regional e dos hospitais que possuem maternidades; serviços especializados no atendimento da área de Infectologia e dos Serviços Ambulatoriais Especializados (SAEs) de Montes Claros e de Janaúba. O Comitê tem o objetivo de analisar eventos relacionados às infecções evitáveis, entre elas a sífilis congênita, HIV/Aids e hepatites virais, e apontar medidas de intervenção para a sua redução na área de atuação da regional.
A referência técnica do agravo HIV/Aids na SRS Montes Claros, Helen Regina Pinheiro Rodrigues, entende que “o Comitê desenvolve trabalho estratégico para efetivar intervenções macrorregionais, por ser composto por profissionais capacitados e especializados no atendimento e na gestão da política da atenção materno-infantil. Isso porque infecções como o HIV/Aids, sífilis e hepatites virais são preveníveis e possuem tratamentos e profilaxias que estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS)”.
Através das Unidades de Saúde da Família (USFs), os serviços especializados em infectologia podem realizar a testagem rápida e exames para o diagnóstico precoce das três doenças e outras como clamídia, gonorréia, doença inflamatória pélvica e uretrites, possibilitando, com isso, o diagnóstico precoce e o encaminhamento de pacientes para tratamento.
Helen Pinheiro reforça ainda que “os profissionais de saúde devem articular estratégias para o enfrentamento dos desafios relacionados ao medo, preconceito e à desinformação que ainda persistem por parte da população em torno do diagnóstico de uma infecção sexualmente transmissível, ampliando o acesso às ações de prevenção combinada, saúde sexual e reprodutiva para o público adolescente nas escolas, população adulta, gestantes, populações chaves e prioritárias mais vulneráveis”.
No Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), entre 2017 e agosto de 2023, foram registrados 78 casos de gestantes HIV positivas que são atendidas nos serviços ambulatoriais especializados de Montes Claros e Janaúba; 126 casos de crianças expostas ao HIV, que no fluxo de atendimento macrorregional são acompanhadas pelo Serviços de Atendimento Especializado (SAE) Ampliado de Montes Claros. Ainda na macrorregião Norte, foram registrados três casos de transmissão vertical do HIV entre 2017 e 2022.
Destaca-se que a taxa de transmissão vertical de HIV em Minas Gerais obteve redução de 2,4 casos a cada 100 mil nascidos vivos em 2017 para zero em 2021. Também houve redução na taxa de detecção de HIV em menores de cinco anos de idade, que passou de 0,75 casos a cada 100 mil habitantes em 2017, para 0,16 em 2021.
A coordenadora de Vigilância em Saúde da SRS Montes Claros, Agna Soares da Silva Menezes, observa que “os dados reforçam a importância da melhoria na qualidade do pré-natal, atenção ao parto e ao nascimento, além da ampliação do acesso ao diagnóstico por meio da testagem rápida, ofertada na rede básica de saúde. Também é importante a promoção, prevenção e controle da cadeia de transmissão das Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), através de estratégias de prevenção, combinada como o uso de preservativos; acesso à medicação; profilaxias alternativas como Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP), que consiste na tomada diária de um comprimido que impede que o HIV infecte o organismo, antes de a pessoa ter contato com o vírus; a Profilaxia Pós-Exposição (PEP); e acompanhamento multidisciplinar dos serviços especializados para alcance de certificação de boas práticas emitido pelo Ministério da Saúde (MS)”.
Sífilis e hepatites
Em 2022, houve queda nos casos de sífilis notificados nos municípios da área de abrangência da SRS Montes Claros. Enquanto em 2021 foram registrados 297 casos de sífilis em gestantes, no ano passado foram notificados 260 casos. Já os casos de sífilis congênita, que em 2021 chegaram a 211 notificações, no ano passado caíram para 156 casos.
Com relação à hepatite C, Minas Gerais não teve nenhum caso notificado em 2021 e um registro no ano passado. Já referente à hepatite B, em 2021 foram notificados três casos e, no ano passado, dois.
Ampliar a testagem rápida das ISTs no primeiro e terceiro trimestre gestacional, no parto e nos casos de violência sexual e abortamento, assim como a testagem das parcerias sexuais é importante para o diagnóstico precoce das ISTs e proporciona vinculação da pessoa acometida ao serviço especializado para intervenção nos desfechos desfavoráveis como aborto, parto prematuro, baixo peso ao nascer e morte neonatal.
Prevenção
A referência técnica em HIV/Aids, Helen Pinheiro, lembra que a prevenção é a melhor alternativa contra as Infecções Sexualmente Transmissíveis. Entre elas estão: uso de preservativo (masculino ou feminino) e gel lubrificante em todas as relações sexuais; não compartilhamento de agulhas, seringas, canudos ou cachimbos; uso de material esterilizado na aplicação de tatuagens e piercings; realização de pré-natal, com exames regulares durante a gestação para garantia do nascimento do bebê saudável; uso de materiais esterilizados em clínicas odontológicas, manicures e barbearias; evitar o uso abusivo de álcool e outras drogas ilícitas (elas podem alterar o nível de consciência da pessoa e a capacidade de tomar decisões sobre a forma de se proteger); vacinação contra hepatite B e HPV (câncer de colo do útero); realização de testagem rápida e/ou sorologia nas parcerias sexuais.
O acesso a tratamentos contra as ISTs tem como benefícios a diminuição das complicações relacionadas às infecções pelo HIV, sífilis e hepatites virais; redução da transmissão dos vírus; melhoria da qualidade de vida; tratamento com Benzilpenicilina benzatina, o medicamento de escolha é a única droga com eficácia durante a gestação; diminuição da mortalidade.
As indicações de profilaxia pós-exposição ao HIV são direcionadas a pessoas vítimas de violência sexual; relação sexual desprotegida (sem o uso de camisinha ou com rompimento da camisinha); vítimas de acidente ocupacional (com instrumentos perfuro-cortantes ou contato direto com material biológico).