O Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs), sediado na Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Montes Claros, emitiu alerta aos municípios do Norte de Minas quanto à circulação da bactéria do gênero Rickettsia, transmissora da febre maculosa. A circulação da bactéria foi detectada pela Fundação Ezequiel Dias (Funed), a partir de amostras de carrapatos recolhidas em agosto, durante a realização, em Montes Claros, de curso teórico e prático sobre investigação entomológica da febre maculosa. O treinamento reuniu profissionais de dez municípios e equipes técnicas da Funed e da Coordenadoria de Vigilância em Saúde da SRS.

A febre maculosa é uma doença febril aguda, de gravidade variável, que pode cursar com formas leves e atípicas, até formas graves, com elevada taxa de letalidade. A doença é transmitida às pessoas pela picada de carrapatos infectados pela bactéria Rickettsia.

A coordenadora do Cievs Regional de Montes Claros e da Coordenadoria de Vigilância em Saúde da SRS Montes Claros, Agna Soares da Silva Menezes, explica que “o alerta de risco tem como objetivo a divulgação rápida e eficaz de conhecimento à população e instituições parceiras da área da saúde, possibilitando o acesso a informações fidedignas que possam auxiliar nos diálogos para tomada de medidas de proteção e controle em situações de emergência em saúde pública”.

A coleta de carrapatos em animais e em áreas verdes, para análise laboratorial, é fundamental para a vigilância contra a febre maculosa

Nesse contexto, observa Agna Menezes, “o resultado detectável em duas amostras de carrapatos indica a presença da bactéria no meio ambiente, escolhido aleatoriamente, e que os vetores podem ser transportados de forma passiva. Por esse motivo, o Cievs orienta os gestores de saúde para a intensificação da vigilância não somente em âmbito municipal, pois a detecção da circulação da bactéria transmissora da febre maculosa é notadamente relevante para a epidemiologia, considerando que o município de Montes Claros é polo macrorregional de saúde, referência médico-hospitalar e de outras atividades, além de sediar o segundo maior entroncamento rodoviário do país”.

A bióloga e referência técnica em entomologia da SRS Montes Claros, Patrícia Brito, completa que “é importante salientar que, atualmente, os municípios se encontram silenciosos em relação à febre maculosa e que medidas de detecção de vetores positivos para o gênero Rickettsia são primordiais para direcionar as medidas de controle e orientação adequada à população.

Entre as medidas de manejo ambiental e de repasse de orientações à população, o Cievs recomenda a ampliação do monitoramento, com coleta ativa de carrapatos para análise laboratorial.  Os municípios também estão sendo alertados a reforçar o repasse de orientações aos profissionais de saúde que atuam nos serviços de atenção primária, sobretudo em relação a pessoas que são atendidas com sintomas compatíveis com a febre maculosa e com histórico de circulação em áreas passíveis de estarem infestadas por carrapatos. 

Outra medida recomendada é a intensificação das ações de educação em saúde e comunicação de risco junto à população; a implementação de medidas de manejo ambiental, independente da confirmação da circulação da bactéria do gênero Rickettsia; realização de ações de vigilância de vetores; fortalecimento das parcerias intra e intersetoriais para a assistência adequada de pacientes e monitoramento de áreas de risco; notificação de casos suspeitos de febre maculosa no prazo máximo de 24 horas e investigação dos agravos detectados. 

 

Sintomas

Os principais sintomas da febre maculosa são: febre; dor de cabeça intensa; náuseas e vômitos; diarreia e dor abdominal; dor muscular constante; inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e sola dos pés; gangrena nos dedos e orelhas; paralisia dos membros que inicia nas pernas e vai subindo até os pulmões causando parada respiratória. 

Além disso, com a evolução da doença, é comum o aparecimento de manchas vermelhas nos pulsos e tornozelos, que não coçam, mas que podem aumentar em direção às palmas das mãos, braços ou solas dos pés. Embora seja o sinal clínico mais importante, as manchas vermelhas podem estar ausentes, o que pode dificultar e/ou retardar o diagnóstico e o tratamento, determinando uma maior letalidade.

O diagnóstico pode ser sorológico (padrão ouro) ou por meio da pesquisa direta da Rickettsia, realizada através de técnicas de imuno-histoquímica, biologia molecular ou isolamento.

 

Tratamento

O tratamento da febre maculosa é realizado com antimicrobianos e deve ser iniciado de forma precoce, nas fases iniciais da doença, como forma de evitar óbitos e complicações. O sucesso do tratamento está diretamente relacionado à precocidade de sua introdução e à especificidade do antimicrobiano prescrito.

Se não tratado, o paciente pode evoluir para um estágio de apatia e confusão mental, com frequentes alterações psicomotoras, chegando ao coma profundo.

 

Prevenção

As principais medidas preventivas na febre maculosa são aquelas voltadas às ações educativas, com vistas ao repasse de orientações à população sobre as características clínicas da doença; unidades de saúde e serviços para atendimento; importância do diagnóstico e tratamento oportunos; áreas de risco e ciclo do vetor.

Para áreas de conhecida infestação por carrapatos ou sob risco de ocorrência de casos recomenda-se:uso de repelentes à base da substância Icaridina, que são eficazes na prevenção de picadas por carrapatos; uso de roupas de cor clara, vestimentas longas, calçados fechados (preferencialmente com meias brancas e de cano longo); uso de equipamentos de proteção individual nas atividades ocupacionais (capina e limpeza de pastos); evitar se sentar e deitar em gramados em atividades de lazer como caminhadas, piqueniques, pescarias etc.;examinar o corpo periodicamente, tendo em vista que quanto mais rápido o carrapato for retirado do corpo, menor a chance de infecção; se verificados carrapatos no corpo, retirá-los com leves torções e com o auxílio de pinça, evitando o contato com unhas e o esmagamento do animal; utilização periódica de carrapaticidas em cães, cavalos e bois, conforme recomendações de profissional médico veterinário;  limpeza e capina periódica de áreas de vegetação passíveis de cuidados. 

Por Pedro Ricardo