Nesta sexta-feira, 7 de julho, durante reunião da Comissão Intergestores Bipartite do Sistema Único de Saúde (CIB-SUS), a Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Montes Claros destacou a necessidade dos municípios reforçarem a vigilância epidemiológica e de saúde contra a febre maculosa. Isso porque, no período de estiagem mais intenso no Norte de Minas, entre maio e outubro, há proliferação mais intensa do carrapato-estrela, transmissor da doença, com ocorrência do aumento da atividade desse vetor em áreas de matas.

A coordenadora de vigilância em saúde da SRS, Agna Soares da Silva Menezes lembrou que no período de 2018 a 2022 foram confirmados 190 casos de febre maculosa em Minas Gerais e notificados 62 óbitos. Já neste ano, são 14 casos notificados e ocorrência de quatro óbitos. Na área de abrangência da Superintendência Regional de Saúde, neste ano foi notificado um caso de febre maculosa num homem com 55 anos de idade, mas que evoluiu para a cura.

Créditos: Pedro Ricardo

“É importante que os municípios fiquem atentos para a notificação e investigação dos casos suspeitos de febre maculosa, isso porque a doença tem sintomas parecidos com a dengue. O diagnóstico deve ser viabilizado por meio sorológico, nos primeiros dias de aparecimento dos sintomas e a investigação dos casos deve levar em conta onde o paciente esteve nas últimas semanas. Os serviços de saúde devem assegurar a assistência necessária aos pacientes, pois a febre maculosa tem altos índices de letalidade”, destacou Agna Menezes.

Entre outras medidas apontadas pela SRS para que os municípios reforcem a vigilância epidemiológica e de saúde contra a febre maculosa estão: a qualificação e treinamento de médicos e enfermeiros para a suspeição oportuna e assistência aos pacientes; aprimoramento e ampla divulgação dos fluxos assistenciais (manejo clínico, tratamento, vigilância laboratorial, notificação e investigação); qualificação do banco de notificações; intensificação das ações de educação em saúde envolvendo todos os segmentos da população; identificação e monitoramento de áreas de risco e articulação permanente com a Superintendência Regional de Saúde para o desenvolvimento de ações conjuntas.

Nos últimos cinco anos os municípios da área de atuação da SRS que tiveram casos notificados suspeitos, mas não confirmados da doença foram: Montes Claros (12); Bocaiúva e Francisco Sá (dois casos em cada localidade). Com um caso suspeito notificado ficaram Engenheiro Navarro, Monte Azul, Salinas e São João da Lagoa.

Mesmo com a situação sob controle, a referência técnica em febre maculosa na SRS de Montes Claros, Nilce Almeida Lima Fagundes observa que “em áreas sujeitas à ocorrência de carrapatos as pessoas devem evitar andar, sentar ou deitar em gramas ou vegetação alta. Caso seja necessário entrar nessas áreas o recomendado é que as pessoas usem repelentes à base da substância Icaridina; vistam roupas de cor clara e longas; meias brancas; calçados fechados e, preferencialmente, de cano longo”.

O uso de equipamentos de proteção individual para atividades ocupacionais como capina e limpeza de pastos também é importante. Se forem verificados carrapatos no corpo, devem ser retirados com leves torções e preferencialmente com o auxílio de pinça, evitando contato com as unhas e o esmagamento do animal.

A doença

A febre maculosa é transmitida pelo carrapato-estrela ou micuim, infectado pela bactéria Rickettsia rickettsii. Não existe transmissão da doença de uma pessoa para outra. O carrapato-estrela não é o carrapato comum, que é encontrado geralmente em cachorros.

Já a espécie Amblyomma cajennense, transmissora da doença, pode ser encontrada em animais de grande porte (bois, cavalos, entre outros), cães, aves domésticas, gambás, coelhos e, especialmente, em capivaras.

A transmissão da doença se efetiva quando o carrapato infectado fica pelo menos quatro horas fixado na pele das pessoas. Os carrapatos mais jovens e de menor tamanho são os mais perigosos, porque são mais difíceis de serem vistos.

A doença começa de forma repentina com um conjunto de sintomas semelhantes aos de outras infecções: febre alta, dor no corpo, dor de cabeça, falta de apetite e desânimo. Posteriormente aparecem pequenas manchas avermelhadas que crescem e se tornam salientes.

Essas lesões, parecidas com uma picada de pulga, às vezes apresentam pequenas hemorragias sob a pele. Aparecem em todo o corpo e também na palma das mãos e na planta dos pés, o que em geral não acontece nas outras doenças como sarampo, rubéola e dengue hemorrágica.

“Por essa razão, profissionais de saúde devem observar o histórico do paciente, principalmente se esteve em regiões onde há cavalos ou animais silvestres ou em locais onde foram registrados casos de febre maculosa”, pontua a coordenadora de vigilância em saúde, Agna Menezes.

Os sintomas levam em média de sete a dez dias para se manifestar e a partir daí o tratamento deve ser iniciado com antibióticos nos primeiros dois ou três dias. O ideal é manter a medicação por dez a quatorze dias, mas logo nas primeiras doses o quadro começa a regredir e evolui para a cura total.

“Atraso no diagnóstico e, consequentemente, no início do tratamento pode provocar complicações graves, como o comprometimento do sistema nervoso central, dos rins, dos pulmões, das lesões vasculares e levar ao óbito”, alerta a coordenadora.

Referência

Em Minas Gerais a Fundação Ezequiel Dias - (Funed) é o Laboratório de Referência Nacional para febre maculosa e outras riquetsioses, que são doenças infecciosas com manifestações clínicas de quadro febril e hemorrágico, causadas por bactérias do gênero Rickettsia. Na prática, a Fundação é responsável por dar suporte às análises realizadas em todo o país, orientando acerca da vigilância epidemiológica e ambiental, além de capacitar profissionais para a implantação de diagnósticos.

Por Pedro Ricardo