Em comemoração à Semana Nacional de Doação de Leite Humano e ao Dia Nacional e Mundial de Doação de Leite Humano, celebrado em 19 de maio, a Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Ponte Nova, por meio da Coordenação de Atenção à Saúde (CAS), realizou, na mesma data, o webinário “A importância do aleitamento materno e da doação de leite humano”. Participaram profissionais que atuam na Atenção Primária à Saúde (APS), na saúde materno-infantil das maternidades, e tutores da Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil (EABB) da área de abrangência da SRS. 

A superintendente da SRS Ponte Nova, Josy Duarte Faria Fialho, abriu os trabalhos trazendo sua experiência como doadora de leite à época do nascimento da sua filha e seu período de puerpério. “Foi muito gratificante poder doar meu excedente ao Banco de Leite de Viçosa, e saber que outras crianças, como as prematuras e internadas na UTI Neonatal, puderam se beneficiar com isso. O leite materno é o alimento mais completo que existe e preparar não somente as mães, mas os profissionais da saúde envolvidos nesse cuidado, é fundamental”, frisou.

A convite da CAS, a referência técnica da Coordenação Materno-Infantil da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), Natália Oliveira Dias, participou do webinário. Ela destacou a importância do Banco de Leite de Viçosa, vinculado ao Hospital São Sebastião, para a rede materno-infantil e citou o projeto – já aprovado – do Hospital Nossa Senhora das Dores, de Ponte Nova, para a abertura de um Posto de Coleta de Leite Humano (PCLH), com previsão de financiamento pela SES-MG, conforme Resolução 8466/2022. “Temos que pensar que a rede de apoio à gestante e à puérpera não é só familiar, mas que nós, profissionais da saúde, também fazemos parte dela. Cada um tem seu papel e precisamos rever desde as pequenas atitudes, como o tipo de abordagem, a readequação da fala, a aproximação da família e o respeito a questões culturais que podem intervir no processo de amamentação”, disse Natália.

A coordenadora da CAS da SRS Ponte Nova, Saskia Maria Albuquerque Drumond, defendeu como prioritário o fortalecimento da amamentação pelos serviços de saúde. “Temos que pensar não como uma coisa única, específica, mas como algo que deve perpassar cada ação da APS e dos hospitais, tornando-se uma prática rotineira. Estamos falando em reavaliar nossa postura e ampliar o nosso olhar, que deve ser de promoção à saúde. A amamentação é um processo natural e de direito”, enfatizou.

 

Palestras

A primeira palestra do webinário, intitulada “Como fortalecer o Aleitamento Materno”, foi conduzida pela fonoaudióloga e avaliadora da Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC), Eliane Aparecida Fonseca Ferreira. Ela, que também é membro do Comitê Estadual de Aleitamento Materno do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Mineira de Pediatria (SMP) e da Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar/International Baby Food Action Network (IBFAN), iniciou sua apresentação trazendo informações sobre o uso indiscriminado de fórmulas infantis: “O Código Internacional de Substitutos do Leite Materno, da Organização Mundial da Saúde (OMS), exige que os pais recebam informações completas sobre os riscos à saúde que decorrem do uso desnecessário e inadequado das fórmulas para bebês”, alertou.

Segundo Eliane, crianças não amamentadas com leite humano têm maiores riscos de desenvolver asma, alergias, doenças respiratórias agudas, mal oclusão dentária, deficiências nutricionais, obesidade, otite média, além de poder apresentar desenvolvimento cognitivo reduzido. “Conforme alguns estudos, os bebês com baixo peso ao nascer e nunca amamentados apresentaram pontuações inferiores nos testes de função intelectual geral, capacidade verbal, habilidades espaciais-visuais e motoras em comparação às crianças que foram amamentadas”, reforçou.

Imagem: Print de slide

A fim de fortalecer o processo de incentivo à amamentação, a fonoaudióloga sugeriu a implantação de boas práticas e protocolos nos serviços de saúde. “É preciso que as normas e rotinas estejam definidas por escrito. E, para que o processo ocorra, é fundamental ter uma equipe multiprofissional e um comitê com papel de liderança. Precisamos envolver toda a equipe, falando a mesma linguagem, e não sobrecarregando a figura do enfermeiro/técnico de enfermagem. Os profissionais de saúde envolvidos com o aleitamento materno são figuras facilitadoras, e devem não somente orientar, mas também apoiar”, finalizou. 

 

Desafios

A programação também contou com a palestra “(Des)romantização da amamentação”, a cargo da enfermeira e referência técnica da CAS, Ana Flávia de Paiva Mendes, e da estagiária do setor e acadêmica de enfermagem, Milena Anselmo Lopes. De início, Ana Flávia trouxe os “Dez passos para o sucesso do aleitamento materno”, um sumário das orientações para maternidades apresentado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e aceitos como critérios globais mínimos para atender à condição de Hospital Amigo da Criança (HAC), iniciativa que credencia hospitais que são referência em qualidade e humanização do atendimento durante todas as etapas da gestação, parto, nascimento, e período neonatal precoce.

“Entendo que temos muitos desafios a enfrentar enquanto profissionais de saúde em apoio ao processo da amamentação, que é doloroso, cheio de percalços, mas com benefícios que superam qualquer dificuldade. Precisamos aliar nosso conhecimento técnico às crenças e particularidades culturais de cada gestante, puérpera e familiares, de forma a não haver desrespeito nem quebra de vínculo. Convoco a todos para sair da zona de conforto e construir a mudança que queremos ver!”, conclamou Ana Flávia. 

Milena, por sua vez, trouxe a reflexão de que a amamentação tem que ser vista com todos os desafios que ela traz, e não somente sob o ponto de vista romântico e da beleza. “Esgotamento, dor, solidão, fissuras, culpa, mastite, ingurgitamento, sangue e frustração são elementos intrínsecos a todo o processo. É preciso ver essa mulher com todas as suas experiências e medos, e não tratar a amamentação como uma coisa pronta e robotizada. Assim, as chances de fortalecer o vínculo e gerar confiança entre profissional de saúde e gestante/puérpera, certamente serão maiores”, completou. 

Uma importante contribuição foi feita durante a palestra, com a fala da nutricionista do Banco de Leite de Viçosa, Thaís Freitas. Ela trouxe detalhes sobre o processo de doação de leite e solicitou apoio quanto às doações, sobretudo aos municípios da região. Segundo a profissional, a doação do leite materno pode ocorrer de duas formas: presencialmente no Hospital São Sebastião ou por coleta domiciliar, que ocorre duas vezes na semana. Para mais informações, as interessadas podem ligar nos telefones (31) 3899-8352, (31) 3899-2429 e (31) 98996-2510 (Whatsapp). O atendimento ao público ocorre todos os dias da semana, das 7h30 às 11h e das 13h30 às 18h.

Por fim, o webinário contou com a participação da enfermeira Estefânia Araújo do Nascimento, do município de Rio Doce. Ela trouxe a experiência exitosa no fomento à amamentação, que resultou no recebimento da certificação de duas Unidades Básicas de Saúde (UBS) como “Amigas do Aleitamento Materno”. A certificação é realizada pelo Ministério da Saúde (MS) dentro da Estratégia Nacional para Promoção do Aleitamento Materno e Alimentação Complementar Saudável no SUS (Sistema Único de Saúde) - Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil (EAAB). “É maravilhoso quando podemos contar com gestão e equipes empenhadas em prol do mesmo objetivo. Entre as nossas principais estratégias, estão o diagnóstico situacional, a valorização e capacitação da rede de apoio, a realização de visitas antes e depois do parto, e o atendimento multiprofissional, deixando essa mulher mais segura e acolhida” , disse Estefânia. 

 

Sobre a doação de leite

Toda mulher que estiver com excedente de leite pode ser doadora de leite humano, bastando estar em boas condições de saúde e não tomar medicamentos que interfiram na amamentação e doação. Para tanto, é necessário que ela procure um Posto de Coleta de Leite Humano ou Banco de Leite Humano mais próximo de sua residência.

A equipe do serviço de saúde verificará os exames laboratoriais realizados no pré-natal e se a lactante está apta à doação. Ela será orientada quanto à forma e os cuidados necessários na extração do leite, armazenamento e transporte. A localização dos bancos de leite e postos de coleta em Minas Gerais está disponível em https://www.saude.mg.gov.br/aleitamentomaterno.

Por Tarsis Murad