O Hospital Infantil João Paulo II (HIJPII), da Rede Fhemig, agora conta com um ambulatório destinado a adolescentes pertencentes a grupos de pessoas excluídas socialmente. O atendimento, inicialmente destinado a adolescentes transgêneros, acontece às quartas-feiras, das 13h30 às 18h, no Ambulatório de Saúde do Adolescente da unidade, e conta com uma equipe multiprofissional.

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"O Ambulatório de Saúde do Adolescente do hospital atende adolescentes com adoecimentos crônicos, seguindo a pactuação de referenciamento do Estado. Analisando o perfil desses pacientes, percebemos que uma proporção considerável é constituída por aqueles pertencentes ao grupo de populações ‘invisibilizadas’ socialmente. A partir desta constatação, definimos o dia em que seria realizado o atendimento a esse público, e iniciamos pelo recebimento de adolescentes com identidade de gênero não-binária (identidades que não são masculinas nem femininas)”, conta Tatiane Miranda, pediatra de adolescentes do HIJPII, idealizadora do projeto.  De acordo com a médica, a ideia é que, daqui a algum tempo, o atendimento também seja destinado a populações indígenas, ciganas, quilombolas, entre outras.

A equipe é constituída por pediatra de adolescentes, endocrinologista, psiquiatras da infância e juventude, psicólogos, pedagoga, assistente social e fonoaudióloga, além do apoio de ginecologistas, urologista e cirurgião plástico. “Os jovens vêm encaminhados da atenção primária (postos de saúde) e passam, primeiramente, pela avaliação do pediatra de adolescentes, que irá analisar cada caso e direcionar aos especialistas necessários”, explica Tatiana.

Segundo ela, a proposta é contribuir para a atenção à saúde desses adolescentes. “É direito! Além disso, nosso objetivo é manter um espaço permanente de discussão sobre a diversidade da vida e sobre a inclusão, executando os princípios do SUS: universalidade, equidade e integralidade”, afirma a pediatra. 

Ajudando na construção de identidades

M.P.P., de 13 anos, é uma das primeiras pacientes do ambulatório. “Com mais ou menos uns 4 anos, já se interessava pelas coisas das irmãs, como batons, brilhos e maquiagem. Achávamos normal, afinal era só uma criança. Fora de casa sempre foi muito tímida e retraída, mas, com a família, bem carinhosa. Aos 11 anos, criou uma personalidade forte, decidida e sem medo. Tudo começou com o cabelo quando decidiu que não iria mais cortar, pois queria cabelos grandes, depois foi o uso de roupas femininas, começou a cortas suas bermudas e blusas, e assim passou a fazer uso de acessórios e maquiagem. Com isso, perguntamos se ela gostava de meninos e achamos que podia ser gay. Mas ela disse que não, pois se sente uma mulher, logo, ela gosta de homens. Além disso, por várias vezes, ela disse que odiava o corpo dela”, conta a mãe.

Segundo ela, a criação do ambulatório tem ajudado muito, principalmente por agora saberem que caminho seguir. “Foi e ainda continua sendo difícil para toda a família esta situação, embora todos aceitem e apoiem esta decisão. Ficamos perdidos, sem saber o que estava acontecendo, se tudo era influência dos meios de comunicação, ou se não foi corrigido no momento certo. Por isso, o ambulatório tem sido muito importante no tratamento, já que não sabíamos nem por onde começar. Desde então, estou muito satisfeita com o atendimento, os profissionais são excelentes e muito atenciosos”, afirma.

Para a diretora assistencial do HIJPII, Silvana Teotônio Simão, é a oportunidade da sociedade oferecer, aos adolescentes marginalizados pela sua condição de gênero, alguma forma de acolhimento e de atenção à sua saúde. “O objetivo é oferecer ao adolescente transgênero, por vezes negligenciado pelas próprias famílias, um espaço de cuidado e de construção da sua identidade, contribuindo para a atenção à saúde desses adolescentes.

“Contribuir para uma sociedade justa e respeitosa não é utopia: é uma luta diária e incansável”, conclui a pediatra de adolescentes, Tatiana Miranda.  

Atendimento para adultos

A Fhemig também já conta, desde novembro de 2017, com um atendimento destinado ao público trans adulto, realizado no Ambulatório Multidisciplinar Especializado no Processo Transexualizador (Ametrans), do Hospital Eduardo de Menezes (HEM), também conhecido como Ambulatório Anyky Lima.

Os atendimentos são realizados às quintas-feiras, das 7h às 19h, e podem ser agendados por telefone: 3328-5055. Endereço: Rua Doutor Cristiano Resende, 2213, Bom Sucesso, Belo Horizonte.

Durante a pandemia da Covid-19 (coronavírus), no entanto, com a destinação da unidade ao atendimento exclusivo dos casos da doença, o atendimento no ambulatório não está ocorrendo.

Por Aline Castro Alves