O uso de substâncias e “remédios” não autorizados - ou sem comprovação científica - para o tratamento de doenças é muito grave. Essa atitude pode provocar danos à saúde, piorar o estado de pessoas doentes, além da possibilidade de interações medicamentosas - quando os efeitos de uma substância ou fármaco são alterados por outra substância. Durante a pandemia de covid-19, este fenômeno ficou bem evidente. O uso de ivermectina, cloroquina, ozonioterapia, entre outras substâncias e tratamentos comprovadamente inúteis para o combate à doença tornaram-se comuns - especialmente entre pessoas desavisadas, vulneráveis à mentiras e enganações. Agora, no momento em que enfrentamos um cenário preocupante em relação às arboviroses, o fenômeno dos “medicamentos milagrosos” voltou - e isso precisa ser combatido de forma imediata e contundente.

Na região do Vale do Aço foi constatada recentemente o uso - por parte da população - de uma "cápsula milagrosa" para alívio dos sintomas das arboviroses. Sem qualquer registro oficial junto aos órgãos reguladores, a substância pode representar sérios riscos à saúde e não é recomendada pelas autoridades sanitárias. “Não existem medicamentos milagrosos”, ressalta Silvia Gallo, Coordenadora da Vigilância Sanitária da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Coronel Fabriciano.

Medicamentos alternativos usados para sintomas da dengue, sem comprovação científica - Foto: Silvia Gallo

Segundo Micheline Araújo, coordenadora de Vigilância e Saúde da SRS Coronel Fabriciano, a população só deve tomar remédios prescritos pelo médico em uma consulta. “O médico sabe exatamente qual remédio recomendar, e sabe se o paciente tem eventualmente alguma alergia a alguma substância, se ele toma algum medicamento para outro fim que possa ter interação com outros medicamentos, por exemplo”, explica Micheline.

Valéria Martins, auxiliar administrativa, 37 anos, sabe a importância da consulta com o médico e de tomar o remédio certo. “Eu não tomo medicamentos que o amigo do zap recomenda. Ele não é médico!”, diz ela, que não confia em correntes de mensagens nem em informações falsas. “Eu vou ao médico, converso, e ele me receita tudo que eu preciso”, diz Valéria, que tem plena consciência de que tomar medicamentos sem acompanhamento médico pode ser perigoso. “Cloroquina, por exemplo, pode causar problemas no fígado”, finaliza.

Valéria Martins, auxiliar administrativa - Foto: Laís de Souza

Além de serem ineficientes, estes remédios e substâncias podem causar danos à saúde, pois podem conter contaminantes - já que podem ser produzidos sem condições de higiene adequada ou qualquer fiscalização

Para responder a algumas dúvidas recorrentes sobre a dengue, seu tratamento e sobre o perigo de se automedicar, além dos danos que “remédios milagrosos” podem trazer à saúde, temos a ajuda do Micheline Araújo, coordenadora de Vigilância e Saúde da SRS Coronel Fabriciano

1- Quais medicamentos devo utilizar para tratamento da dengue, zika e chikungunya?

“Dengue e chikungunya são viroses que não têm tratamento específico. O tratamento é repouso, boa alimentação e hidratação. Os medicamentos são apenas para os sintomas da doença, como febre e dor no corpo, que são os analgésicos comuns, como o dipirona e paracetamol. Gostaria de realçar que nos primeiros 15 dias de sintoma da chikungunya não se deve tomar nenhum outro medicamento além desses, pois pode agravar a sua situação. Principalmente medicamentos anti-inflamatórios, corticóides não devem ser usados”.

2- Onde devo comprar meus medicamentos?

“Medicamentos só devem ser comprados nos estabelecimentos autorizados para isso, como as drogarias e farmácias. São locais fiscalizados, que têm responsável técnico, além da garantia da origem dos medicamentos. Remédios comprados fora desses locais não têm uma garantia da origem, nem de como foram produzidos”.

3- O que devo verificar para saber se o medicamento não é clandestino?

“Os medicamentos clandestinos, muitas vezes não têm a informação da origem, do fabricante, do responsável pela fabricação. Todo medicamento, deve vir lacrado, com data de validade, lote, impressão na caixa, nome do fabricante, endereços, dados da empresa e do responsável técnico. Produtos e medicamentos que não têm essas informações não devem ser adquiridos”.

Micheline Araújo, coordenadora de Vigilância e Saúde da SRS Coronel Fabriciano - Foto: Laís de Souza

4 - Por que não devo tomar remédios indicados por amigos ou conhecidos?

“Medicamentos indicados por amigos e conhecidos são muito perigosos, porque eles não sabem a sua real situação, já que não há uma avaliação médica. O médico é um profissional habilitado para prescrever medicamentos para tratamento de todas as doenças. Ele pode avaliar sua condição de saúde, qual medicamento você tem condições de usar ou que pode te fazer mais mal, e também avaliar se você já toma algum remédio para outro tratamento, alguma doença de base que você tenha e que possa comprometer ou interagir com o que ele está prescrevendo”.

5 - Quais são os sintomas da dengue?

Os principais sintomas da dengue são febre alta, geralmente acima de 38 graus, mas pode acontecer também de não ter febre, se você está tomando algum remédio que corte essa febre. Dor no corpo, mal-estar, dor atrás dos olhos, exantema, que são as manchas pelo corpo. A chikungunya, além desses sintomas, tem uma dor muito forte em várias articulações do corpo.

6 - Quando devo ir para o hospital?

“As pessoas normalmente passam o período crítico e melhoram. Mas se começar a sentir a piora do mal-estar no corpo, dor no abdômen, principalmente se for intensa e constante, vômito persistente, ou algum tipo de sangramento, deve procurar um médico”.

7 - O que devo fazer para evitar a dengue?

"A dengue é transmitida, como todos sabem, pelo mosquito Aedes aegypti e ele é um mosquito que se adaptou muito bem à nossa sociedade, ao nosso meio de vida hoje. Ele precisa de água limpa e parada para se reproduzir, e o ambiente quente que nós temos em nosso país é muito propício para a procriação deles. O que se deve fazer para evitar sua proliferação é eliminar os focos de procriação. É a maneira mais eficiente, porque evita que ele se prolifere, que aumente sua população e continue transmitindo. Além disso, as pessoas, como a gente está numa situação de epidemia muito grande, devem também, como autoproteção, usar repelentes e roupas que protejam o máximo do corpo quando possível”.

 

Dengue em Minas

Minas Gerais está enfrentando o segundo ano epidêmico consecutivo para dengue e chikungunya. Nos 35 municípios da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Coronel Fabriciano, até o dia 06/02/2024, foram registrados 6.210 casos prováveis de dengue, desses sendo 2.197 casos confirmados, 0 óbito e outros 8 em investigação para a doença.

Os dados de incidência de dengue, zika e chikungunya no estado estão disponíveis no Painel Arboviroses - Vigilância Epidemiológica: https://www.saude.mg.gov.br/aedes/painel. 

Nele, é possível filtrar o número de casos por ano, semana epidemiológica, Macrorregião de Saúde, Microrregião de Saúde, Unidade Regional de Saúde e município. O painel está sendo atualizado duas vezes por semana, às segundas e quintas-feiras.

Os óbitos com suspeita de arboviroses têm 60 dias, a partir da data de notificação, para serem investigados e encerrados, podendo a conclusão ser alterada neste período.

 

Por Laís de Souza