Capacitar é um verbo que vem do latim e, segundo o dicionário de língua portuguesa Michaelis, significa tornar apto. Na área da saúde, capacitar combina com pegar estrada. Pelo menos é o que mostra a jornada da servidora Ana Amélia Dias de Souza Pereira, que atua na Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Juiz de Fora. No dia 17 de outubro, a referência técnica em tuberculose promoveu a última capacitação do ano sobre a doença, no auditório da SRS, para profissionais de saúde que atuam no município de Juiz de Fora.

 “Um dos objetivos da capacitação é trazer o cenário da tuberculose, não só da nossa região, mas contextualizar a nossa região no cenário global”, explica Ana Amélia Pereira. 

 Ainda no início de 2023, em 14 de fevereiro, a servidora iniciou o ciclo de capacitações. O primeiro município foi Liberdade, seguido por Bocaina de Minas. Até 3 de outubro de 2023, Ana Amélia percorreu aproximadamente de 4.520 quilômetros para levar aos profissionais de saúde dos 36 municípios da área de jurisdição da SRS Juiz de Fora informações e orientações sobre a tuberculose, doença para a qual é referência técnica. 

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A capacitação tem como objetivo oferecer conhecimento para que os profissionais tenham condições para controlar o agravo. “Estamos falando de um agravo que tem importância na saúde pública, na parte econômica, na sociedade como um todo, a gente precisa unir estratégias para buscar o controle, reduzindo o número de casos e dos óbitos causados pela tuberculose”, ressaltou Ana Amélia Pereira.

 A Organização Mundial de Saúde (OMS) propõe 3 princípios que se consiga controlar a doença: redução dos casos, redução dos óbitos e zerar o número de pessoas afetadas pelos custos catastróficos da doença.

 

Casos e dados

  O parâmetro para definir se a tuberculose está controlada é baseado no coeficiente de incidência. Para cada 100 mil habitantes deve haver em torno de 10 casos. Dessa forma a doença estará sob controle.

  No Brasil, de 2012 a 2022, o número de casos de tuberculose ficou acima de 60 mil por ano. O que dá um coeficiente de 33 casos a cada 100 mil habitantes. Em Minas Gerais, no ano de 2022, foram registrados 4.773 casos. O coeficiente ficou em 18 casos para 100 mil habitantes. Na Regional de Juiz, em 2022, os números ficaram acima de 300, o que resultou em um coeficiente 43,67 casos a cada 100 mil habitantes.

 No caso da regional de Juiz de Fora, a situação piora em relação ao restante do estado.  No ano de 2021, a regional teve o menor percentual de cura da doença: 49,5%; e a maior taxa de abandono do tratamento: 30,8%.

 No ranking por cidades, em 2022, o município de Juiz de Fora ficou em segundo lugar em número de casos de tuberculose em Minas Gerais. Foram 249 casos registrados, ficando atrás apenas da capital Belo Horizonte.

 Entre 2018 e 2022, os 37 municípios que compõem a regional registraram 1.824 casos de tuberculose. Isso dá uma média de 364,8 casos por ano. Quase um caso por dia. Levando em conta a população dos 37 municípios somada, para estar sob controle, menos de 90 casos deveriam ser diagnosticados anualmente.

 Do total de casos que surgiram na regional no período, 1.460 foram apenas no município de Juiz de Fora. Em segundo lugar está Santos Dumont, com 69 casos.

 “O controle da doença é o final da escada onde a gente quer chegar, mas, para isso, temos que subir degrau por degrau. Neste sentido, o primeiro passo é dar visibilidade para a tuberculose, pois ela é uma doença negligenciável”, finaliza Ana Amélia.

  

O que é preciso saber sobre a doença

 A tuberculose é uma doença infecciosa, transmitida pela bactéria Mycobacterium tuberculosis. A forma pulmonar é a mais comum e responsável pela manutenção da transmissão, embora a doença também possa acometer outras partes do corpo (tuberculose extrapulmonar).

É transmitida quando uma pessoa, com a forma laríngea ou pulmonar, elimina o bacilo por via aérea, infectando assim outras pessoas. Alguns fatores podem influenciar na probabilidade de infecção, como tempo de contato, ambiente compartilhado e a carga bacilar do caso de tuberculose.

 A tuberculose não é transmitida por objetos compartilhados como: copo, talheres, roupas, colchão e outros objetos. Com o início do tratamento adequado e regular, a transmissão tende a diminuir gradativamente e, em geral, após 15 dias os pacientes não transmitem mais a doença.

 Os principais sintomas da tuberculose são: tosse seca ou produtiva; febre, geralmente no final do dia; suor noturno; emagrecimento; falta de apetite; cansaço e dor no peito. Recomenda-se que todo indivíduo com tosse por 2 semanas ou mais seja avaliado para a tuberculose. Para isso, deve-se procurar a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima da residência. O diagnóstico da tuberculose é realizado pela avaliação clínica do paciente e por exames bacteriológicos. 

 A tuberculose é uma doença que tem cura em praticamente todos os casos, desde que o paciente tome a medicação de forma regular (todos os dias) e em doses adequadas. O tratamento dura, no mínimo, 6 meses, está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) e deve ser realizado, preferencialmente, em regime de Tratamento Diretamente Observado (TDO), que é a supervisão direta da tomada dos medicamentos por um profissional de saúde. Após 15 dias de tratamento regular, a maioria dos pacientes não transmitem mais a doença. No entanto, é fundamental dar continuidade ao tratamento pelo tempo correto.

Por Jonathas Mendes