A Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Montes Claros concluiu, no dia 21 de junho, a realização de capacitação “Abordagem assistencial ao paciente diabético: prevenção e tratamento do pé-diabético” para profissionais que atuam em serviços de atenção primária e especializada nos 54 municípios que integram a sua área de abrangência. Com parte teórica e prática, a capacitação realizada nas Faculdades Integradas Pitágoras, em Montes Claros, contou com a participação de enfermeiros da Secretaria Municipal de Saúde de Montes Claros. Os profissionais capacitados serão responsáveis pela difusão do treinamento para as equipes municipais de saúde.

Ao apresentar o cenário epidemiológico do diabetes no país e especificamente no Norte de Minas, a referência técnica da Coordenadoria de Atenção à Saúde da SRS Montes Claros, Renata Fiúza Damasceno, destacou a importância dos serviços de atenção primária e especializada no acompanhamento dos pacientes acometidos por diabetes. O objetivo é evitar que os casos evoluam para situações de saúde graves que exijam, inclusive, a amputação de membros inferiores.

No mundo, destacou Renata Fiuza, o diabetes acomete atualmente cerca de 537 milhões de pessoas adultas, com idade entre 20 a 79 anos. Até 2030 a previsão é de que a doença acometa 643 milhões de pessoas, número este que deverá aumentar para 783 milhões de pacientes até 2045. Além disso, alertou a referência técnica, em 2021 o diabetes causou 6,7 milhões de óbitos e demandou cerca de 966 milhões de dólares de gastos governamentais com serviços de saúde.

21.07.2023 MontesClaros Diabetes

“Diante desses números, torna-se evidente a necessidade dos profissionais e serviços de saúde terem um olhar diferenciado para o diabetes, visto que a tendência é de que ocorra aumento de casos em virtude do envelhecimento da população mundial. Além da questão social e econômica, isso impacta os serviços de saúde como um todo”, observou Renata Fiúza.

No Brasil, o diabetes apresenta prevalência de 7,7% da população com idade acima de 18 anos. A estimativa é de que 12,3 milhões de pessoas tenham a doença, que afeta principalmente mulheres e pessoas com mais de 75 anos de idade.

Já no Norte de Minas, Renata Fiúza revelou que o Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (Sisab) aponta que, neste ano, 90 mil 271 pessoas estão registradas com diabetes, o que corresponde a 8% da população. Entre outros desafios que os profissionais que atuam nos serviços de atenção primária e especializada têm a enfrentar estão o diagnóstico precoce da doença, o acompanhamento dos pacientes e a conscientização para adesão aos tratamentos.

“Nesse contexto, além de auxiliar a pessoa a conviver com a doença, é necessário que médicos e enfermeiros reforcem com os pacientes a percepção de riscos à saúde em virtude do diabetes, mantendo a autonomia e a corresponsabilidade pelo cuidado”, pontuou Renata Fiúza.

Por sua vez, a enfermeira Nadine Antunes Teixeira, da Secretaria Municipal de Saúde de Montes Claros, observou que, “além do diagnóstico precoce do diabetes, os profissionais da atenção primária e especializada precisam interpretar e concluir quais são as necessidades, problemas e preocupações dos pacientes. Isso é que vai direcionar o plano assistencial e o reconhecimento precoce dos fatores de risco”, alertou.

A parte prática do atendimento de pacientes com diabetes, incluindo aqueles que já estão em estágio avançado da doença, foi conduzida pelos enfermeiros Lucas Faustino de Souza e Ítala Apoliana Guimarães Amorim, da Secretaria Municipal de Saúde de Montes Claros, e por Hugo Emanuel Santos Pimenta, responsável técnico do ambulatório de feridas do Hospital Alpheu de Quadros.

A doença

A referência técnica da Coordenadoria de Atenção à Saúde da SRS Montes Claros, Eusane Ferreira Fonseca Santos, explica que o diabetes é uma doença crônica causada pela deficiência de insulina ou resistência à sua ação, o que acarreta elevação dos níveis de glicose no sangue. Essa elevação, quando persistente, pode causar lesões irreversíveis em vários órgãos, entre eles olhos, rins, coração, cérebro, nervos e vasos sanguíneos, resultando em perda de visão, necessidade de hemodiálise, redução do funcionamento do coração, predisposição a infecções e amputações.

Nesse contexto, frisa Eusane Fonseca, “o pé diabético é um dos grandes vilões da doença em estágio descontrolado, sendo uma das complicações mais comuns e uma das causas mais recorrentes de amputações. Daí a necessidade dos profissionais de saúde e dos pacientes conhecerem essa complicação para evitar suas consequências que são, em muitos casos, irreversíveis”.

Pacientes que desenvolvem neuropatia diabética têm os nervos periféricos danificados pelas alterações causadas nos vasos sanguíneos e no excesso de glicose no sangue. Essa situação causa problemas em diversas partes do corpo e a perda da sensibilidade dos pés, denominada pé diabético, é um dos problemas mais comuns. Mas é possível identificar outros sinais de alerta dessa complicação como formigamento; queimação e dormência nas pernas e nos pés; fraqueza nas pernas; sensação de pontadas nos pés e câimbras.

Prevenção

Patrícia Lima Magalhães, referência técnica da Coordenadoria de Atenção à Saúde da SRS Montes Claros, que também foi uma das instrutoras da capacitaçã, observa que, “com exceção do diabetes tipo 1, no qual o paciente já nasce com predisposição para o mau funcionamento do pâncreas, os demais tipos de diabetes estão relacionados a hábitos comportamentais inadequados e que podem ser evitados”.

A falta da prática de exercícios físicos está relacionada ao acúmulo de gordura visceral. Quando a pessoa pratica atividades físicas ocorre redução das chances de desenvolvimento do diabetes porque as células conseguem absorver a insulina e a glicose.

A alimentação saudável também é considerada ponto crucial na prevenção ao diabetes. O consumo exagerado de carboidratos complexos (pão, macarrão, arroz, entre outros) e simples (doces e guloseimas), sobrecarrega o pâncreas. O consumo de carboidratos mais nutritivos, proteínas, gorduras boas e muita hidratação ajudam na prevenção das principais doenças crônicas, como diabetes e hipertensão.

“A eliminação do tabagismo e a redução do consumo de bebidas alcoólicas também são considerados fatores primordiais para a prevenção contra o diabetes ou a sua evolução para situações graves de saúde”, conclui Patrícia Magalhães.

Por Pedro Ricardo / Foto: Eusane Fonseca - SRS Montes Claros