A Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Passos realizou, na semana passada, uma oficina sobre estratégias para aumentar a cobertura vacinal em crianças menores de 2 anos. O evento, que teve as presenças de autoridades estaduais, regionais e municipais de epidemiologia e imunização, foi motivado pela baixa cobertura vacinal de imunizantes do calendário nacional, constatada por um estudo da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A oficina faz parte de um projeto da SES-MG para melhorar a cobertura vacinal no estado, em parceria com as unidades regionais de saúde, e nesta primeira etapa contempla oito unidades nas quais se observam queda nas taxas de vacinação. “O objetivo da SES-MG é ter o estado com a maior cobertura vacinal do país e as oficinas são para os municípios conheceram a realidade e elaborar os planos de ação com estratégias para o aumento da cobertura”, explica a coordenadora do NUVEPI da SRS Passos, Márcia Aparecida Silva Viana.

Abertura da oficina em Passos; à frente, as equipes da SES-MG e SRS Passos - Foto: Ascom SRS Passos

Segundo a superintendente regional de Saúde de Passos, Kátia Rita Gonçalves, a iniciativa busca estabelecer uma rede colaborativa institucional e conta também com parceria do Conselho de Secretários Municipais de Saúde (Cosems-MG), em torno da melhoria da cobertura vacinal em Minas Gerais. “Serão implementadas ações de apoio estratégico de âmbito estadual e municipal para reverter a trajetória de queda nas coberturas vacinais dos Calendários Nacionais de Vacinação – da Criança, do Adolescente, do Adulto, Idoso e da Gestante e, assim, assegurar o controle de doenças imunopreveníveis, como o sarampo, a poliomielite, a tuberculose, a gripe, o câncer de colo do útero, e todas as outras cujas vacinas são disponibilizadas gratuitamente para a população nas salas de vacinas do Sistema Único de Saúde (SUS)”, afirmou.

 Segundo a subsecretária estadual de Vigilância em Saúde, Hérica Vieira Santos, as oficinas são importantes para os municípios conhecerem sua realidade e planejarem o melhor conjunto de ações para que a cobertura vacinal alcance a população e a proteja das doenças transmissíveis, como a poliomielite, sarampo, tuberculose, dentre outras. “Gostaríamos que os profissionais de saúde ficassem atentos à imunização, uma vez que é o carro-chefe na saúde, para que possamos atentar para a necessidade das crianças serem vacinadas, atentar para o treinamento da equipe, para estar sempre se atualizando, para que a população tenha segurança naquele profissional que está aplicando o imunobiológico nas suas crianças e, assim, também procurem a unidade de saúde para essa finalidade”, disse Hérica Santos.

Realizada no auditório e salas da Faculdade Atenas, em Passos, nos dias 17 e 18 de maio, a oficina foi proposta pela SES-MG, por meio da Subsecretaria de Vigilância em Saúde, Superintendência de Vigilância Epidemiológica e Coordenação Estadual do Programa de Imunizações. Na Regional de Saúde de Passos, a organização do evento foi do Núcleo de Vigilância Epidemiológica (NUVEPI), sendo destinada a gestores municipais de saúde, coordenadores de vigilância em saúde, atenção primária e imunizações.

Participantes no primeiro dia da oficina de Passos - Foto: Ascom SRS Passos

Metodologia

A superintendente de Vigilância Epidemiológica da SES-MG, Elice Eliane Nobre Ribeiro, explica que o projeto de melhoria de cobertura vacinal em crianças surgiu de um estudo feito em parceria com a UFMG e que as oficinas estão sendo realizadas nas oito regionais de saúde que têm os municípios com as menores taxas de vacinação. “É importante (aumentar), porque, com a cobertura baixa, podem retornar doenças que há muito tempo estavam erradicadas”, disse. “Então, nós sabemos que o risco é muito grande em não vacinar”, alertou.

Na abertura da oficina, a coordenadora estadual de Imunizações, Josianne Dias Gusmão apresentou os dados da cobertura vacinal no estado de Minas Gerais de 2015 a 2021, mostrando que a queda nos percentuais de imunização vem caindo ano a ano, mesmo antes da pandemia da covid-19. A meta de cobertura preconizada é de 95%, mas as taxas caíram mais de 10% em pelo menos um ano do período analisado, como a vacina BCG, que protege contra a tuberculose, os imunizantes para hepatites A e B e a tríplice viral, que previne contra o sarampo, caxumba e rubéola. 

Segundo a professora Fernanda Penido, da Escola de Enfermagem da UFMG, “esse cenário não é específico de Passos, esse cenário é nacional, em que a gente tem essa redução da cobertura vacinal”, esclarece. Ainda para a professora, o projeto é inovador, no sentido de que a cada oficina as estratégias para aumentar a cobertura sejam aprimoradas para adequação às necessidades das diferentes regiões.

Após o conhecimento do problema e discussão das realidades de cada município, os profissionais de saúde elaboraram um plano de ações com estratégias para aumentar a cobertura vacinal em suas microrregiões, que foi apresentado no segundo dia da oficina. Os municípios também terão que elaborar seus planos e enviá-los em até 15 dias para a SRS Passos que, junto com a Coordenação de Imunizações da SES-MG, irá acompanhar os indicadores de resultados.

 

Resultados

De acordo com a coordenadora do Grupo de Análise e Monitoramento de Vacinação (Gamov Regional), Patrícia Mendes Costa, os primeiros resultados das estratégias a serem desenvolvidas serão avaliados em agosto, em nova oficina. “A oficina atingiu seus principais objetivos que são a análise do atual cenário com o reconhecimento do risco e o planejamento das ações para os territórios, proporcionou uma troca riquíssima de experiências e espera-se que após a implementação dos planos tenhamos uma melhoria nessas coberturas vacinais, reduzindo o risco de adoecimento e óbitos por doenças imunopreviníveis”, disse.

Segundo Márcia Viana, a oficina permitiu que os gestores municipais, profissionais de vigilância em saúde, epidemiológica e imunizações identificassem ações possíveis de melhorar a cobertura vacinal e evitar o risco do ressurgimento de graves doenças transmissíveis. “E um ponto importante nesse encontro foi o intercâmbio de práticas e saberes que impactam no aumento da cobertura vacinal nos municípios e oxigenação do ânimo dos profissionais nesse momento pós-pandemia”, disse.

No mesmo sentido, o secretário de Saúde de Claraval e presidente do Cosems Regional Passos, Valber Vidal Cintra, também acredita no êxito dos planos que serão elaborados e executados. “Essa oficina vai motivar muito os municípios, que são os executores, lá na ponta, da vacinação. Isso vai nos trazer um subsídio muito grande, principalmente quando integram em um trabalho os profissionais da atenção primária à saúde, da vigilância em saúde e outros atores dentro do município, numa equipe multidisciplinar. Ela (a oficina) vai trazer uma consolidação dessa parceria dentro dos municípios, para conseguir essas metas”, analisou.

Expectativas

Para a gestora de saúde de Piumhi, Rosângela Terra e Guerra, a presença dos profissionais da SES-MG, SRS Passos e dos municípios permite que todos, dentro de suas competências, compartilhem conhecimento, informações e experiências que irão contribuir para a reversão do cenário preocupante da baixa cobertura vacinal. “Esse espaço de discussão elucida o papel das instâncias de gestão do SUS, como Estado, como regional e também o município, para aferir as responsabilidades de cada um frente à temática, que é a imunização”, disse.

O gestor de São Roque de Minas, Danilo Soares de Moraes, avalia que a oficina proporcionou aprendizado e troca de informações entre seus participantes, além de valorizar a integração entre as equipes. “Aumenta muito a nossa responsabilidade, como gestor, em correr atrás de objetivos para salvar vidas. Essa questão de aumentar a imunização, o trabalho em equipe. Então, assim, foi de muito aprendizado e muito organizada a oficina. A equipe está de parabéns e a troca de informação foi excelente. A gente retorna para nossos municípios com muito aprendizado e novas ideias para conseguirmos as nossas metas”, elogiou.

Para a coordenadora de imunização de Alpinópolis, Eliana Guilhermina da Cruz, o sucesso da imunização requer a integração com a atenção primária à saúde, conforme ela defendeu na oficina. “É extremamente importante o apoio, a disponibilização de um agente de saúde para ir de casa a casa em zona rural, para ajudar a gente no dia a dia e também na busca ativa das crianças faltosas. Então, a gente não consegue atingir o objetivo se a gente não tiver o apoio da atenção primária”, afirmou. Também de Alpinópolis, para Marina Moreira, coordenadora municipal de atenção primária à saúde, a colaboração com a imunização é essencial para o alcance das metas, conforme foi demonstrado nas ações durante a pandemia da covid-19. “Com a pandemia, mudou muita coisa. A gente tentou se unir mais para ter um resultado melhor. E nossa experiência foi muito exitosa. E os agentes de saúde têm um conhecimento muito rico. Então, tanto para a imunização quanto para atenção primária, essa união é muito importante”, observou.

Referência técnica em imunizações da SRS Passos, Sueli Veloso Maia acredita que o objetivo do projeto de aumento da cobertura vacinal em crianças será alcançado. “Com essa conscientização, com essa reunião, a equipe do nível central estando aqui, informando a importância, o empenho do Estado em melhorar a cobertura vacinal das crianças menores de 1 ano, está saindo todo mundo sensibilizado e acreditando que no retorno, em agosto, nós vamos ter uma resposta satisfatória, indicando uma melhoria nos resultados e impacto na cobertura vacinal. Se Deus quiser!”, comentou.

Por Enio Modesto