“A integração e o fortalecimento de ações conjuntas entre a Rede de Atenção Psicossocial – (RAPS) e os serviços de atenção primária dos municípios são algumas das ações de fundamental importância para garantir o atendimento das demandas da população pós-pandemia covid-19. Isso porque os impactos dos problemas de saúde enfrentados pelas pessoas acometidas pela doença tendem a permanecer por médio e longo tempo e, por isso, os serviços de saúde precisam estar preparados para atender as necessidades da população”.

Essas foram algumas das conclusões apresentadas pela doutoranda em ciências da saúde e coordenadora de Vigilância em Saúde da Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros – (SRS), Agna Soares da Silva Menezes, durante o ciclo de palestras e debates da 5ª Conferência Municipal de Saúde Mental finalizada nesta terça-feira, 12/04.

Durante dois dias, o evento organizado pela Secretaria Municipal de Saúde de Montes Claros teve como tema “A Política de Saúde Mental como Direito: Pela defesa do cuidado em liberdade, rumo a avanços e garantia dos serviços da atenção psicossocial no Sistema Único de Saúde – (SUS)”.

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Ao abordar os Impactos na saúde mental da população e os desafios para o cuidado psicossocial durante e pós-pandemia, Agna Menezes ressaltou que os últimos dois anos foram bastante difíceis para grande parte da população. Isso porque, explicou, o distanciamento e o isolamento social implementado com o objetivo de conter a transmissão da covid-19, causou impactos não apenas para os profissionais da saúde, mas também, para os diversos segmentos da sociedade em virtude da retração da atividade econômica e, consequentemente, da renda.

“O desemprego e a queda do poder aquisitivo reflete nas condições relacionadas à saúde mental da população em geral, sobretudo nos trabalhadores”, observou a coordenadora de vigilância em saúde.

Ao contextualizar os problemas gerados pela pandemia da covid-19, Agna Menezes pontuou que o distanciamento social alterou os padrões de comportamento da sociedade. Isso foi causado pelo fechamento de escolas; mudanças nos métodos da logística de trabalho; redução ou até mesmo ausência do contato próximo entre as pessoas.

“O convívio prolongado dentro de casa aumentou o risco de desajustes na dinâmica familiar, além da redução da renda, aumento do desemprego e mortes de entes queridos em curtos espaços de tempo, juntamente à dificuldade para realizar os rituais de despedida”, lembrou Agna Menezes.

Nesse contexto, frisou a coordenadora, as pessoas idosas ou com doenças crônicas, profissionais de saúde, pessoas que possuem transtornos mentais ou que fazem uso de substâncias químicas compõem os grupos que podem responder de forma mais intensa ao estresse causado pela pandemia da covid-19. Em virtude dessa situação, em junho do ano passado o Sistema de Informação de Agravos de Notificação – (Sinan) registrou que os transtornos mentais chegaram a 195 casos, alcançando o maior coeficiente de incidência por um milhão de trabalhadores (2,06).

“Com o avanço da vacinação contra a doença, redução das internações e dos óbitos, o coeficiente de incidência dos transtornos mentais têm caído, embora em dezembro de 2021 ainda estavam acima do registrado em janeiro do mesmo ano”, pontuou.
Agna Menezes observou ainda que os dados do Sinan revelam que os transtornos mentais durante e pós-pandemia da covid-19 têm afetado em primeiro lugar técnicos e auxiliares de enfermagem, seguido por professores de nível superior e do ensino fundamental; trabalhadores em serviços de apoio à saúde; agentes assistenciais e auxiliares administrativos, sendo que os problemas de saúde mental mais frequentes notificados pelos serviços de saúde no Sinan são: transtorno misto ansioso e depressivo; stress pós-traumático; ansiedade generalizada; esgotamento e transtornos de adaptação.

“Diante de todas as consequências que a pandemia da covid-19 trouxe para a sociedade, resta-nos um aprendizado: precisamos valorizar mais a vida, as interações, o contato com o outro e termos mais empatia com o próximo”, concluiu Agna Menezes.

Por Pedro Ricardo