O Norte de Minas iniciou em Janaúba a implementação do Projeto Roda-Hans: carreta da saúde de hanseníase na segunda-feira (20/5), com o objetivo de reforçar a capacitação de profissionais que atuam em serviços de Atenção Primária à Saúde (APS). Trata-se da carreta da saúde com foco no repasse de orientações a profissionais para o diagnóstico precoce da hanseníase e encaminhamento de pacientes para tratamento especializado, evitando sequelas.

A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) apoia e participa do projeto coordenado pelo Ministério da Saúde (MS) em parceria com a Fundação Novartis e a Sociedade Brasileira de Dermatologia. Além de Minas Gerais, neste ano o projeto contempla municípios do Espírito Santo e do Rio de Janeiro.

Carreta Roda-Hans em Janaúba

O Ministério da Saúde, por meio da Coordenação Geral de Vigilância de Hanseníase e Doenças em Eliminação, realiza o Projeto Roda-Hans neste primeiro semestre em outras cidades além de Janaúba. O projeto atenderá em Januária nos dias 22 e 27 a 29/5; em Almenara (3 a 7/6) e em Teófilo Otoni (10 a 14/6).

Nesta segunda-feira (20/5), no auditório do Sindicato Rural de Janaúba, foi realizada capacitação teórica envolvendo profissionais de saúde de Janaúba, Catuti, Espinosa, Gameleiras, Jaíba, Mamonas, Mato Verde, Matias Cardoso, Monte Azul, Nova Porteirinha, Pai Pedro, Porteirinha, Riacho dos Machados, Serranópolis e Verdelândia. Os trabalhos foram conduzidos por Miguel Slaibi, médico especialista do Ministério da Saúde. Também participarão Reagan Nzundu, técnico do Ministério da Saúde; Barbara Costa e Maira Durães, representantes da Coordenação Estadual de Hanseniase e Siderllany Aparecida Vieira Mendes, referência técnica de hanseníase na Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Montes Claros.

Já entre os dias 21 e 24, a estrutura instalada na carreta Roda-Hans estará na Praça Viva Vida, na região central de Janaúba, e será utilizada por médicos especialistas para o atendimento da população que apresentar sinais e sintomas de hanseníase. Na oportunidade, os profissionais dos serviços de atenção primária à saúde acompanharão os atendimentos, como parte das atividades práticas do projeto.

Capacitação do projeto Roda-Hans em Janaúba

A superintendente regional de Saúde de Montes Claros, Dhyeime Thauanne Pereira Marques, destaca que a iniciativa do Ministério da Saúde, juntamente com a Sociedade Brasileira de Dermatologia e a Fundação Novartis, conta com a parceria da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) e tem como abordagem o diagnóstico precoce e também o tratamento oportuno da doença. “Aqui em Minas os quatro municípios – Janaúba, Januária, Teófilo Otoni e Pedra Azul – foram contemplados com essa iniciativa de trazer mais assistência a essa população acometida com a hanseníase”.

A capacitação terá o total de 40 horas de atividades, sendo oito horas destinadas à etapa teórica e, o restante, atividades práticas que têm previsão de envolver cerca de 72 profissionais. Para isso a carreta Roda-Hans conta com cinco consultórios, cada um com capacidade para comportar três profissionais e pacientes. A carreta também possui laboratório que é utilizado para estudo de casos.

Agna Soares da Silva Menezes, coordenadora de Vigilância em Saúde da Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros, explica que o Projeto Roda-Hans é uma excelente oportunidade para a atualização dos profissionais quanto à hanseníase. “Temos uma considerável carga de incidência da doença na região e, por isso, investir na capacitação dos profissionais que atuam nos serviços de atenção primária à saúde é importante para a intensificação da busca ativa de pacientes, encaminhamento para atendimento nos serviços de atenção primária e especializada e, posteriormente, manter o acompanhamento dos tratamentos”. A coordenadora pontua que a hanseníase tem cura, mas o trabalho dos profissionais de saúde na vigilância e acompanhamento dos pacientes exige dedicação para evitar a proliferação e a disseminação do vírus causador da doença.

Projeto Roda-Hans - orientação aos profissionais de saúde em Janaúba

Em 54 municípios que compõem a área de atuação da SRS Montes Claros, no período de 2019 a 2023, foram notificados 927 casos de hanseníase. Desse total, 816 casos foram novos, contabilizados em 35 municípios. Com tratamento disponibilizado gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), 67% dos pacientes (625) já evoluíram para a cura da doença; 232 pessoas (25%) estão em tratamento e 70 (7,5%) abandonaram o tratamento.

Siderllany Mendes, referência técnica da SRS Montes Claros, observa que são ações fundamentais para a quebra da cadeia de transmissão da hanseníase a detecção precoce da doença com a devida atenção aos sinais e sintomas, tendo como ação prioritária a avaliação de pessoas de contato dos casos notificados. “Ter profissionais qualificados para esse atendimento é imprescindível para o diagnóstico em tempo oportuno e garante um manejo seguro dos casos. O Projeto Roda-Hans pode contribuir de maneira eficaz, capacitando os profissionais de saúde tanto na parte teórica quanto prática”, destaca.

Investimentos
Por meio da Portaria 3.558, publicada no dia 16 de abril deste ano, nove municípios do Norte de Minas estão sendo contemplados com recursos do Ministério da Saúde para reforçar as ações de qualificação da hanseníase. Um total de 975 localidades selecionadas em todo o país apresentam taxa de detecção da hanseníase maior que dez casos por 100 mil habitantes, na média dos cinco anos anteriores à pandemia de covid-19. Além disso, os municípios notificaram, no mínimo, cinco novos casos de hanseníase em 2019.

Em 50 municípios mineiros estão previstos investimentos superiores a R$ 2,5 milhões. Para o Norte de Minas estão sendo destinados R$ 455 mil divididos da seguinte forma: Montes Claros e Janaúba (R$ 60 mil para cada localidade); Januária, Pirapora e São Francisco (R$ 55 mil para cada município); Salinas (R$ 50 mil); Buritizeiro, Itacarambi e Manga (R$ 40 mil para cada localidade).

Os recursos deverão ser utilizados pelos municípios na implantação de estratégias de busca ativa para detecção de casos novos de hanseníase; na realização de capacitações sobre diagnóstico, tratamento e prevenção de incapacidades, com ênfase na avaliação neurológica simplificada; vigilância dos contatos intradomiciliares, com resgate daqueles não examinados nos últimos cinco anos, com visitas in loco.

Os municípios também deverão realizar testes rápidos nos contatos de casos registrados nos últimos cinco anos para rastreio de pessoas com maior chance de adoecimento; resgatar os pacientes em situação de abandono e realizar atividades educacionais nas unidades de saúde.

A doença
A hanseníase é uma das doenças mais antigas que acometem o homem, com referências datadas de 600 anos antes de Cristo. Conhecida antigamente como lepra, é uma doença crônica, transmissível, de notificação e investigação obrigatória em todo o país. A doença tem cura e o tratamento é garantido pelo SUS, com esquemas terapêuticos de seis ou doze meses na maioria dos casos.

A hanseníase possui como agente etiológico o Mycobacterium leprae, bacilo que tem a capacidade de infectar grande número de pessoas e atinge, principalmente, a pele e nervos periféricos.

A doença é transmitida pela tosse ou espirro, por meio do convívio próximo e prolongado com uma pessoa doente, sem tratamento. A doença evolui em aproximadamente 5% das pessoas que tiveram contato com o bacilo.

Os principais sintomas são: manchas esbranquiçadas, avermelhadas ou amarronzadas em qualquer parte do corpo, com perda ou alteração da sensibilidade ao calor ou frio, ao tato e à dor, que podem afetar principalmente as extremidades das mãos e dos pés, rosto, orelhas, pernas, nádegas e o tronco.

Também são sintomas da doença: áreas com diminuição de pelos e suor; dor e sensação de choque; formigamento; fisgadas e agulhadas ao longo dos nervos dos braços e das pernas; inchaço de mãos e pés; caroços no corpo; febre; edemas e dor nas juntas.

O tratamento farmacológico da hanseníase no SUS é feito com poliquimioterapia única (PQT-U), que associa três fármacos: rifampicina, dapsona e clofazimina.

Por Pedro Ricardo / Fotos: Siderllany Mendes-SRS Montes Claros