Na última quinta-feira (9/5), ocorreu a cerimônia de encerramento do projeto de implementação para melhor diagnóstico e tratamento da doença de Chagas do Centro de Pesquisas de Medicina Tropical de São Paulo-Minas Gerais (Sami-Trop) em Nova Serrana. Iniciado em 5 de outubro de 2022 no município, o projeto teve como objetivo proporcionar, por meio da implementação da pesquisa, diagnóstico precoce e tratamento oportuno, buscando melhor qualidade de vida para os pacientes diagnosticados com a doença.

A pesquisa é uma parceria entre as Universidades de São Paulo (USP), de Minas Gerais (UFMG), de São João del-Rei (UFSJ), e de Montes Claros (Unimontes), com apoio do Grupo de Trabalho (GT) de Endemias da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Divinópolis. Além de Nova Serrana, os municípios de Francisco Dumont e Verdelândia, no Norte de Minas, participam da estratégia de implementação de intervenção para tratamento antiparasitário da doença de Chagas no nível da Atenção Primária à Saúde (APS).

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A referência técnica para rastreio da doença de Chagas da SRS Divinópolis, Nayara Dornela Quintino, ressaltou que a pesquisa se propôs, em um primeiro momento, a identificar as barreiras e pontos facilitadores relacionados ao tratamento antiparasitário da doença de Chagas no âmbito da Atenção Primária à Saúde. Segundo ela, o projeto buscou também auxiliar o município de Nova Serrana no enfrentamento da doença por meio da implantação de intervenções adaptadas ao contexto local, e avaliação periódica dos processos implantados através de indicadores de processo e resultado.

Ainda de acordo com a referência técnica da SRS Divinópolis, a proposta é que estas boas práticas construídas em Nova Serrana sejam utilizadas por outros municípios de regiões endêmicas para doença de Chagas, pois o material e a metodologia da pesquisa serão disponibilizados no Portal da Vigilância em Saúde para ampla divulgação. “O principal impacto para a população é a oportunidade de ter um diagnóstico precoce da doença, com acesso a exames complementares, como eletrocardiograma, e tratamento de forma oportuna”, destacou Nayara Dornela.

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A coordenadora do Núcleo de Vigilância Epidemiológica da SRS Divinópolis, Ana Camila Neves Morais, destaca o papel da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) para a implantação da pesquisa na macrorregião de Saúde Oeste. A coordenadora esclareceu que coube ao Estado, durante o desenvolvimento da pesquisa, apoiar a implementação no município de Nova Serrana, realizar capacitações para os profissionais de saúde e verificar os indicadores de sorologias solicitadas e tratamento antiparasitário dispensado pela Unidade Regional de Saúde de Divinópolis.

“Esperamos agora continuar monitorando quadrimestralmente o município de Nova Serrana para garantir que 100% das famílias cadastradas pelas equipes de saúde da família sejam rastreadas em relação aos fatores de risco para doença de Chagas crônica, bem como os indicadores de sorologias solicitadas, tratamentos realizados e rotina da vigilância epidemiológica e assistência farmacêutica”, ponderou a coordenadora.

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A pesquisadora do Sami-Trop da UFSJ, Clareci Cardoso, explicou que o município de Nova Serrana foi escolhido por receber um grande número de migrantes de regiões que têm uma alta prevalência de doença de Chagas. Outro ponto que tornou o município elegível para a pesquisa é que a faixa etária de 20 a 34 anos da população é superior à média nacional porque os menores de 50 anos são os principais candidatos ao tratamento antiparasitário da doença.

Nayara Dornela, referência técnica para rastreio da doença de Chagas da SRS Divinópolis disse que pode-se destacar como um dos principais resultados deste estudo a criação de uma rotina de suspeição de casos de doença de Chagas crônica no município. “Muitas vezes o paciente em fase inicial da doença não apresenta sintomas. Em muitos casos o diagnóstico chega apenas quando este paciente já apresenta uma complicação, principalmente cardíaca. Nestes casos, os benefícios do tratamento são reduzidos”.

Já a também pesquisadora do Sami-Trop da UFSJ, Ana Carolina Oliveira, pontuou o trabalho desenvolvido junto ao município. Ela destacou que os servidores municipais foram capacitados para a execução das propostas de trabalho implementadas pela linha de cuidado, pois as intervenções foram amplamente discutidas e construídas em parceria com trabalhadores, envolvendo desde Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e Agentes Comunitários de Endemias (ACE), aos médicos, enfermeiros e farmacêuticos do município.

O município conseguiu realizar o rastreio de fatores de risco de 65% das famílias cadastradas nas Estratégias Saúde da Família (ESFs) do município, de acordo com a pesquisadora. “Entre os pacientes que realizaram a testagem sorológica, observou-se uma taxa de positividade de 3,7%, que é um número expressivo de pacientes que foram identificados e podem ter acesso ao cuidado adequado de saúde, de forma gratuita através do SUS”, reforçou Ana Carolina Oliveira.

Por Willian Pacheco / Fotos: Arquivo prefeitura de Nova Serrana