A saúde começa pela boca – tanto a saúde física como a mental. Com a boca dizemos o quanto amamos, o quanto odiamos, pedimos carinho, e até cantamos para espantar os males. A boca saudável é como um cartão de visitas. O sorriso, mesmo que sutil, desarma situações estressantes, enquanto o mau hálito pode acabar com uma reunião. Mas, para além dos aspectos superficiais da imagem – que tem sua importância para a saúde mental e bem-estar – os cuidados com a boca e a saúde bucal são fundamentais para a manutenção da saúde de todo o corpo: uma boca mal cuidada pode acarretar até problemas cardíacos sérios.

É por isso que o SUS (Sistema Único de Saúde) trata o assunto com tanta importância. Além dos diversos programas de promoção da saúde bucal, o SUS também atua em conjunto com outras áreas para fortalecer e ampliar o alcance de ações nessa área da saúde. Um exemplo é a parceria da Coordenação Geral de Saúde Bucal, do Ministério da Saúde (MS), com a área técnica do Programa Saúde na Escola (PSE) da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG). 

Dia D na APAE de Uberaba - Foto: Divulgação SMS Uberaba

O objetivo é desenvolver e ampliar ações de saúde bucal no PSE, contemplando, além da promoção da saúde e da prevenção das doenças bucais, a recuperação em saúde bucal. O marco dessa ampliação de ações no ambiente escolar foi o “Dia D - Mais Saúde Bucal no PSE”, promovido no dia 8/5 em todo o estado de Minas Gerais.

 

Saúde bucal no SUS e nas escolas

Sheila Beatriz Oliveira, coordenadora de Atenção à Saúde e Saúde Bucal da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Uberaba, explica que, em comemoração ao primeiro ano da Lei nº 14.572, de 8 de maio de 2023, que altera a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, incluindo a Saúde Bucal no âmbito do SUS, o Ministério da Saúde, em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde de MInas Gerais (SES-MG), estão ampliando as ações de saúde bucal no Programa Saúde na Escola. Segundo ela, “além de contemplar a promoção da saúde bucal e a prevenção das principais doenças, o programa também prevê a recuperação da saúde bucal com o Tratamento Restaurador Atraumático (ART).” 

Sheila explica ainda, que o Dia D - Mais Saúde Bucal no PSE é um marco dessas ações de ampliação, e conta que, “em Minas Gerais, são 851 municípios aderidos ao ciclo do programa saúde na escola 2023-2024, sendo 9.757 escolas pactuadas”. Segundo Sheila, cerca de 66% delas são consideradas prioritárias, por atenderem áreas de situações de vulnerabilidade social. “Assim, o Dia D é um marco para que, futuramente, as equipes de saúde bucal reservem, de forma permanente, um turno de sua agenda fixa para o trabalho de saúde bucal no Programa Saúde na Escola”, completa a coordenadora.

Diversas escolas no Triângulo Mineiro estiveram mobilizadas nos últimos dias. As equipes de saúde bucal da Atenção Primária trabalharam com crianças e adolescentes, de forma lúdica, cuidados preventivos e escovação supervisionada. Em Nova Ponte teve teatro de fantoches, em Cascalho Rico a “Fada do Dente” alertou sobre os alimentos ricos em açúcares. Em Itapagipe, foi feita escovação supervisionada e bochecho com flúor, além de exames e aplicação de técnicas de ART. Em Limeira do Oeste, foram oferecidos kits de higiene bucal e, na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Uberaba, houve teatro com bonecos e aulas de escovação de forma lúdica, usando um boneco de boca gigante. 

 

Triângulo Mineiro – referência nacional de ensino e pesquisa

O curso “Qualificação das equipes de Saúde Bucal no Programa Saúde na Escola (PSE)”, lançado recentemente pelo Ministério da Saúde (MS) para capacitar os profissionais da Atenção Básica, é coordenado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia-Saúde Oral e Odontologia (INCT-Saúde Oral e Odontologia) - que possui sede na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) - e conta com parcerias das faculdades de Odontologia da Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), além da Associação Brasileira de Odontopediatria (Aboped).

O professor titular da Faculdade de Odontologia da UFU e coordenador do INCT-Odonto, Carlos José Soares, ressalta a importância das parcerias para ampliar o acesso e trabalhar com ações preventivas.“A Universidade é um ponto de apoio para a saúde do município, para as famílias e as escolas”.

 

Tratamento Restaurador Atraumático (ART) no ambiente escolar

Uma das linhas de pesquisa do INCT-Odonto é o Tratamento Restaurador Atraumático (ART). Baseado no conceito de mínima intervenção e máxima preservação das estruturas dentárias, o ART se caracteriza pela remoção parcial da dentina atingida pela cárie e selamento da cavidade com cimento de ionômero de vidro de alta viscosidade.

Em Uberlândia, a Escola Estadual Duarte Pimentel de Ulhôa faz parte do PSE e é uma unidade de referência para o estudo do ART. A diretora Gisele Maria de Lima reforça a parceria entre Saúde e Educação, além da ampliação de escolas beneficiadas. “Tudo começa na educação, e uma vez que você dissemina essas ideias de cuidados na escola, isso vai ao longo da vida”, disse a diretora. “Esperamos que projetos como esse sejam espalhados e mais escolas possam estar abertas, impactando na vida dos meninos e das famílias de forma positiva. Para nós, é um presente”, comenta Gisele.

A equipe municipal de saúde bucal do território faz a orientação e atendimento prévio para a triagem dos alunos. Com os pacientes selecionados, professores e estudantes do curso de pós-graduação da Faculdade de Odontologia da UFU, a partir da ação da Liga Acadêmica de Odontopediatria (LiOP), fazem o ART.

Dia D Saúde Bucal nas Escolas - Foro: Lilian Cunha

O coordenador do INCT-Odonto afirma que o ART no ambiente escolar diminui as chances de piora da saúde bucal e permite que crianças e adolescentes tenham acesso ao tratamento sem precisar se deslocar até uma Unidade Básica de Saúde (UBS). “O impacto dessa ação nas escolas pode ajudar a reduzir o custo futuro com próteses reabilitadoras para a saúde pública e melhora a qualidade de vida das crianças”, destaca Soares.

 

Saúde bucal no SUS – onde tratar?

No SUS, em 2013, foi implementada a Política de Saúde Bucal que reorientou e modificou a rede de atenção integral à saúde bucal que é articulada em três níveis: primária, secundária e terciária. A divisão é planejada de acordo com uma base populacional considerando a responsabilidade sanitária da região.

Assim, o paciente que deseja cuidar da boca é atendido na Atenção Primária à Saúde (APS), que em Minas Gerais, conta atualmente com 3.993 equipes disponíveis para o primeiro atendimento e o acompanhamento. Caso precise de atenção especializada, o paciente é encaminhado para os níveis secundários, em um dos 108 Centros de Especialidades Odontológicas (CEO) e/ou em 638 Laboratórios Regionais de Prótese Dentária (LRPD). Em casos mais graves e emergenciais, o último nível é na assistência especializada, em um dos 165 hospitais mineiros credenciados que possuem estruturas mais complexas, com cirurgião-dentista.

Saiba mais em: https://www.saude.mg.gov.br/saudebucal

 

Por Sara Braga (SRS Uberaba), Lilian Cunha (SRS Uberlândia) e Vitória Caregnato (estagiária sob supervisão - SRS Uberlândia)