Prestes a completar um ano de funcionamento, o Ambulatório Municipal de Atendimento Multidisciplinar em Pediatria de Muriaé já atendeu mais de 800 crianças com distúrbios de neurodesenvolvimento. Atualmente, estão em acompanhamento pela unidade 147 crianças, que obtiveram atendimento gratuito, avaliação multidisciplinar para diagnóstico e tratamento com profissionais médicos especialistas em psiquiatria pediátrica, enfermagem, fonoaudiologia, fisioterapia, terapia ocupacional, educação física, psicologia, assistência social, nutrição e psicopedagogia.

A partir de levantamento de informações no município feito pela Junta Reguladora da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência (JRRCPD), e com dados do mutirão de acolhimento de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), realizado em dezembro de 2022, a secretaria municipal de Saúde de Muriaé pode ter evidências quanto à necessidade de um serviço especializado.

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Ana Cristina Dias Custódio, referência técnica da Rede de Cuidados da Pessoa com Deficiência da GRS Ubá, ressaltou que, para uma boa avaliação diagnóstica se faz necessário um olhar multidisciplinar, incluindo a família, no intuito de se fechar o diagnóstico com segurança. “Além disso, a elaboração de um bom Projeto Terapêutico Singular é imprescindível para se proporcionar tratamentos e terapia que atendam as necessidades e façam sentido para o indivíduo no contexto em que está inserido”.

Aproveitando a oportunidade de financiamento da resolução SES/MG Nº 7.924, o município implantou o serviço em um prédio do antigo Serviço Social do Comércio (SESC) com toda a equipe profissional e equipamentos adequados. Cláudia Moreira, referência técnica da Junta Reguladora da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência de Muriaé, explicou que as famílias tinham dificuldades para obter atendimento para crianças com algum tipo de distúrbio de neurodesenvolvimento como, por exemplo, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

“São profissionais e terapias que, somadas, representam um investimento considerável que muitos pais não têm condições de proporcionar aos filhos”, afirma a referência técnica. Ela afirmou também que é um avanço imenso, visto que anteriormente o atendimento se concentrava apenas no Serviços Especializados em Reabilitação da Deficiência Intelectual (Serdi) de Muriaé e tinha pacientes aguardando por até três anos para realizar a avaliação multidisciplinar e traçar o plano de tratamento adequado e individualizado. “O mais importante é que muitas crianças que precisavam de diagnóstico e tratamento já obtiveram e estão podendo se desenvolver em suas potencialidades”, destacou Cláudia Moreira.

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Acesso especializado
Toda criança que chega ao Ambulatório Municipal de Atendimento Multidisciplinar em Pediatria de Muriaé é referenciada pela Junta Reguladora, que recebe e filtra as solicitações das Unidades Básicas de Saúde (UBSs), direcionando para o Serdi que atende exclusivamente pessoas com deficiência intelectual e/ou Transtorno do Espectro Autista, ou para o Ambulatório, que atende crianças diagnosticadas com todos os tipos de distúrbios de neurodesenvolvimento. Dentro do serviço, a criança é avaliada por todos os profissionais para que seja definido o diagnóstico e o Plano Terapêutico Individualizado, sendo terapias que o Ambulatório oferta e que são remodeladas periodicamente conforme a evolução e necessidade apresentada pela criança.

“Temos aqui nove especialidades, e cada criança é tratada de forma individualizada, com as terapias que são indicadas para o desenvolvimento dela, inclusive medicamentos que auxiliam neste processo. Hoje, temos fila de espera para as algumas terapias que são mais requisitadas, mas todas que chegam ao Ambulatório já são acolhidas e sendo assistidas em alguma especialidade”, relatou Giselle Cristina Navarro Antoniazzi, enfermeira coordenadora do Ambulatório de Pediatria.

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Contando com uma equipe diversificada e robusta, uma característica especial, além das técnicas, tem sido determinante para o sucesso do Ambulatório. “Considero que nosso grande diferencial é o fato de ter montado essa equipe, que possui uma experiência bastante vasta em transtorno de desenvolvimento, e também por contar no escopo de profissionais com quatro mães atípicas. Isso nos traz um senso comum de acolhimento muito forte, e por isso temos um índice de aprovação e de satisfação muito alto”, afirmou Giselle Antoniazzi.

Melhoria na qualidade de vida
Gustavo Dias Lima, de nove anos, é uma das crianças que está em atendimento no Ambulatório de Pediatria. Aos dois anos de idade a família percebeu que ele precisava de auxílio profissional. “Foi com muita dificuldade que levei o Gustavo em especialistas particulares, mas sempre ficava pelo meio, pois não tinha condições de pagar todas as terapias que eram necessárias para o desenvolvimento dele”, contou Márcia Valério de Jesus, mãe do Gustavo.

Ela explica que, no Ambulatório, o filho teve acesso aos atendimentos que ela não tinha condições de pagar e, em quatro meses, já é possível perceber muitas melhoras. “Primeiro, porque foi fechado o diagnóstico dele com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Transtorno Opositivo Desafiador (TOD) e Transtorno do Espectro Autista (TEA). Foi feito ajuste da medicação e começaram as terapias. Ele melhorou demais, está menos agitado, foi muita evolução que percebemos em apenas quatro meses”, disse Márcia Valério de Jesus.

O atendimento para crianças com TEA é uma das maiores demandas recebidas pelo Ambulatório, como é o caso de Calebe de Andrade Pedrosa, de seis anos. “Quando recebi o diagnóstico, ele tinha quatro anos. Ficamos sem nenhum acompanhamento porque eu não tinha condições para pagar. Há nove meses conseguimos vir para o Ambulatório e tudo mudou. Temos terapia três vezes por semana, com vários profissionais, acertaram a medicação, consigo apoio para cuidar dele, tudo está melhor agora”, contou Franciele de Andrade Bento Pedrosa, mãe de Calebe. Segundo ela, antes, o filho era muito inflexível, mas agora eles estão conseguindo se comunicar de forma melhor, com melhora perceptível na rotina, inclusive na escola.

 

Por Keila Lima