A capacitação foi realizada por referência técnica da Regional de Saúde de Unaí, em atendimento à Regional de Saúde de Passos
Agentes de Combate às Endemias (ACEs) dos municípios da área de abrangência da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Passos foram capacitados em manejo ambiental para o controle de escorpiões nos dias 19 e 20/3, no auditório da SRS Passos e no cemitério municipal.
A capacitação foi promovida pela SRS Passos, por meio do Núcleo de Vigilância Epidemiológica (Nuvepi), em atendimento aos municípios que solicitaram orientações sobre o manejo correto de escorpiões para prevenção de acidentes junto à população.
Carlos Alberto Arantes Filho, referência técnica em mobilização social, arboviroses, epizootias e zoonoses da Gerência Regional de Saúde (GRS) de Unaí, foi quem conduziu o treinamento. Os Agentes de Combate às Endemias participaram de atividades teóricas e práticas de controle do animal para prevenção de acidentes com picadas de escorpião e para contribuírem para a produção de soro utilizado no tratamento de eventuais vítimas.
“Como a execução das ações de saúde compete aos municípios, a SRS Passos tem o compromisso de manter as equipes técnicas capacitadas e atualizadas para o atendimento das demandas que dizem respeito a ações dos programas de saúde. Tendo isso por premissa, a SRS desenvolveu essa capacitação para o manejo dos escorpiões”, explicou a coordenadora do Nuvepi, Márcia Aparecida Silva Viana, responsável pela organização do evento.
Segundo Carlos Alberto Arantes Filho, o objetivo do treinamento foi de sensibilizar as equipes municipais para capturar os escorpiões, em vez de matá-los, para que esses animais vivos sejam enviados para a Fundação Ezequiel Dias (Funed), em Belo Horizonte, para a produção do soro que irá tratar suas próprias vítimas, em caso de acidentes.
Em Minas Gerais, a produção de soro antiescorpiônico e de outros animais venenosos é feita pela Fundação Ezequiel Dias (Funed), em Belo Horizonte, que atende o estado e todo o país por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde (MS), sendo responsável por 35% da demanda nacional. “A Funed precisa muito dos escorpiões para extração do veneno e produção de soro porque o índice de acidentes com animais peçonhentos em nosso estado é bastante alto. A falta desses animais pode acarretar numa possível falta de soro”, alerta Carlos Alberto.
De acordo com registros dos municípios no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, a região de Passos registrou 1.686 notificações de acidentes com escorpiões nos anos de 2023 e 2024. Segundo Márcia Silva, coordenadora do Nuvepi da SRS Passos, esses dados justificaram a capacitação. “Havia demanda de orientações de vários municípios que enfrentavam infestação por escorpiões”, disse.
Atividades
As atividades de capacitação foram realizadas durante todo o dia e parte da noite do dia 19/3 e na manhã do dia 20/3. A temáticas desenvolvidas trataram da legislação sobre os direitos e deveres do agente de endemias no seu trabalho junto à população, a origem pré-histórica do escorpião, sua morfologia, hábitos alimentares, fuga e resistência a inseticidas, forma de captura, acondicionamento e envio para produção de soro.
A capacitação também esclareceu sobre o mito de que escorpiões se suicidam na presença de fogo. Segundo Carlos Alberto, a morte do animal se dá por estresse e desidratação, dando a falsa impressão de que ele se pica diante da ameaça.
A atividade noturna de captura de escorpiões, no cemitério, deve-se ao hábito alimentar desse animal, que pode ser encontrado mais facilmente em locais com abundância de insetos, principalmente baratas.
Para Carlos Alberto, os Agentes de Combate às Endemias adquiriram conhecimentos para ajudar a população a se prevenir e enfrentar os escorpiões. “É uma nova etapa dentro do conceito do escorpionismo. Até então, como alguns falaram, matavam o escorpião no atendimento às notificações sobre esse animal. A nossa orientação é para que seja mudada essa cultura do escorpião ser colocado no recipiente com álcool para levar à exposição na escola. O correto é capturar o animal, colocá-lo na caixa adequada e enviá-lo para a Funed”, afirma.
Segundo Messias Ribeiro, referência técnica de controle de endemias da SRS Passos, a capacitação enriquece o trabalho dos ACEs, ao qualificá-los para orientar os moradores sobre a prevenção de agravos, como picadas de escorpiões. “Os agentes foram preparados para verificar em que condições se encontra aquela residência e explicar para o morador como evitar a presença do escorpião”, disse.
Para evitar que escorpiões se proliferem num imóvel, Carlos Alberto recomenda que a população mantenha os quintais, pátios e terrenos limpos, sem acúmulo de entulho ou material como tijolos, telhas e madeira.
Dentro de casa, o morador deve observar bem os calçados e roupas, antes de usá-los, e fechar os ralos de banheiro e cozinha. “A população tem que ser parceira da saúde e, se encontrar um escorpião em casa, solicitar imediatamente a visita do agente de endemias”, disse.
Projeto de capacitação
Desde abril de 2024, Carlos Alberto Arantes Filho ministra a capacitação de agentes de endemias para o controle de escorpiões. Esse trabalho desenvolvido em parceria com outra referência técnica da GRS Unaí, Lucas Diniz, foi iniciado na própria região, para atender os municípios de sua área de abrangência.
Segundo Carlos Alberto, o projeto surgiu como resposta aos altos índices de acidentes com picadas de escorpiões naquela região e à dificuldade para obtenção de soro. Ele e Lucas Diniz tiveram a oportunidade de conhecer a área de animais peçonhentos da Funed, onde receberam informações técnicas, que contribuíram para a elaboração do projeto.
Ao apresentarem o projeto como uma ação exitosa em um seminário universitário em Belo Horizonte, Carlos e Lucas passaram a receber convites de outras regionais de saúde, como a SRS Passos, para capacitar as equipes de seus municípios de abrangência.
Por Enio Modesto / Fotos Enio Modesto