Encerra-se hoje, sexta-feira (30), a XXIV Jornada de Trabalho do Centro Mineiro de Toxicomania (CMT), da Rede Fhemig, instituição que é referência nacional no atendimento a usuários de substâncias psicoativas. O auditório da Universidade Fumec, em Belo Horizonte, recebeu o evento, que teve início na quarta-feira (28), e contou com a presença de convidados de diferentes cidades brasileiras e de outros países. Na ocasião, foram comemorados os 30 anos da unidade.
Durante a Jornada, que foi realizada em parceria com a Fhemig e a Secretaria de Saúde do Estado (SES-MG), diversos especialistas na área, como psicólogos e psicanalistas, apresentaram trabalhos e participaram de mesas de discussão a respeito do tema “Os excessos na contemporaneidade: a dose de cada um”. Os convidados vieram de cidades como Rio de Janeiro, Salvador e Buenos Aires, além do próprio CMT e de outros centros de referência em saúde mental – álcool e drogas (CERSAM’S – AD) da capital e do interior de Minas. Cerca de 300 inscritos, dentre eles, principalmente, profissionais do campo de saúde mental e estudantes universitários, assistiram aos debates e conferências realizados.
A mesa de abertura do evento contou com a presença de autoridades como o presidente da Rede Fhemig Antonio Carlos de Barros Martins, o cônsul geral da Argentina José Antônio Cafiero, o presidente do Conselho Estadual de Política sobre Drogas Aloísio Andrade, além do tesoureiro do Conselho Regional de Medicina (CRM) João Batista Soares (que representou o Presidente do Conselho), a diretora do CMT Raquel Pinheiro e a coordenadora da Jornada Mônica Quadros.
Segundo o presidente da Fhemig, o CMT hoje se mostra um jovem adulto, porém maduro, com 30 anos de experiência comprovada no tratamento dos dependentes de álcool e drogas e na capacitação de novos profissionais: “é uma satisfação enorme ter uma organização como o CMT pertencente ao quadro da Fundação. Espero que com o debate de temas tão pertinentes, possamos sair daqui mais entendedores de como estamos abordando a dependência química”, disse o presidente. Já José Antônio Cafiero, durante seu discurso, expôs o papel da Argentina no combate ao uso de drogas e ao narcotráfico.
A psicóloga Raquel Pinheiro relembrou o início das atividades do CMT, quando a instituição contava apenas com cinco funcionários – hoje a equipe é formada por 73 pessoas, atendendo em média 300 pessoas por mês. Segundo a diretora, a Jornada de Trabalhos do CMT é uma oportunidade de mostrar ao público o trabalho realizado na unidade com os toxicômanos: “Estabelecemos nossa própria linha de tratamento, baseada na psicanálise, que consta em ouvir o paciente, e aceitar como ele é, sem impor nenhuma exigência”, explica Raquel. A psicóloga também conta sobre a intenção de publicar um livro comemorativo de 30 anos da unidade, com textos de convidados da Jornada deste ano e do ano passado.
Matheus Barros, estudante do 6º período de psicologia da UFMG, conheceu o CMT pelo seu website e compareceu à Jornada para compreender melhor o trabalho realizado na Instituição: “espero entender principalmente sobre a experiência clínica da unidade, quero saber como isso é trabalhado lá”, disse o jovem. Já Ana Clarice Augusto, psicóloga atuante na vigilância sanitária da SES-MG, diz já ter participado de outras Jornadas, e admirar o trabalho do CMT: “Atuo com políticas de inspeção em comunidades terapêuticas e conheço do tamanho do problema da dependência química. Vim aqui para me atualizar, saber que caminhos o CMT está trilhando”, ressaltou a psicóloga.
Homenageados
A abertura da XXIV Jornada de Trabalhos foi marcada por belas homenagens a todos os ex-diretores da unidade – Antônio Benetti, Fernando Teixeira Grossi, Ana Regina Machado, Maria Inês Lodi e Antonieta Bizotto-, que receberam das mãos da atual diretora Raquel Pinheiro uma placa em agradecimento à sua contribuição na construção da história do CMT. A psicóloga também recebeu a homenagem, entregue pelo presidente da Fhemig Antonio Carlos de Barros Martins.
Conferência de Abertura
Um dos convidados especiais da XXIV Jornada, o psiquiatra e membro da Escola Brasileira de Psiquiatria do Campo Freudiano e da Associação Mundial de Psicanálise, Antônio Benetti, deu início ao evento em conferência junto ao psicanalista argentino Francisco Hugo Freda. Benetti, que foi o primeiro diretor do CMT, contou aos presentes um pouco sobre o começo do Centro, quando todos os esforços foram feitos na busca de um local que acolhesse os usuários em regime permanência dia e de uma linha de tratamento que se baseasse na escuta analítica: “imaginávamos se seria possível o desenvolvimento da clínica com foco nos usuários de drogas, e hoje temos uma instituição que é a mais avançada em clinica da toxicomania no Brasil”, afirma o psiquiatra.
Pacientes mostram trabalho
Quem esteve no evento pôde conferir a pequena feira de artesanato organizada ao lado do auditório, onde eram vendidas peças produzidas pelos próprios pacientes do CMT em atividades de terapia ocupacional. Um deles, Frank Rone, músico de 34 anos, compareceu ao local, e para ele, a unidade representa a mudança em sua vida: “O CMT é a minha primeira casa, já que nunca tive um lar. Foi lá que encontrei amizade, paz, carinho e respeito”, afirma o músico.
João Paulo Costa, educador físico de 30 anos, já frequentou comunidades terapêuticas e considera o CMT um ambiente melhor para buscar uma vida livre do vício: “Descobri que para deixar as drogas não precisamos nos isolar, nem nos afastar da sociedade”, salienta João Paulo.
Histórico
O CMT foi inaugurado em 1983, sendo o primeiro serviço do Sistema Único de Saúde (SUS) especializado no atendimento a usuários de drogas, álcool e outras substâncias psicoativas no país.
Em apenas quatro anos de funcionamento, em 1987, o Centro foi reconhecido pelo Conselho Federal de Entorpecentes, atual Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD), como unidade de excelência para tratamento de álcool e drogas do Estado de Minas Gerais. Além disso, desde 2002, o CMT é credenciado como Centro de Atenção Psicossocial para usuários de álcool e drogas (CAPS-AD), em consonância com a Política Nacional do Ministério da Saúde.
Estatísticas
Somente até o início de agosto de 2013, 525 pessoas já receberam tratamento no CMT. Destas, 38,48% eram usuárias de álcool; 33,33%, de crack; e 15,24%, de cocaína. No ano passado, foram atendidos 1107 pacientes, sendo 37,94% usuários de álcool, 35,59% de crack e 13,73 % de cocaína. Segundo Raquel Pinheiro, essas estatísticas correspondem ao uso isolado da droga: “o uso do crack e álcool associados, o que é uma tentativa do usuário de anular os efeitos exagerados de cada substância, aumentou muito, e isso não é registrado”, avalia a psicóloga.
Autor: Jornalismo FHEMIG