Quando a dor de uma perda se transforma em um movimento maior, em prol das diversas vidas que poderiam ser salvas nos serviços de urgência e emergência de todo o país. Foi com esse intuito que surgiu o “Gente é Urgente: movimento em defesa da saúde na urgência e emergência”, cujo primeiro passo é a realização do I Seminário Urgência e Emergência em Saúde, nos dias 17 e 18 de março, na Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH).
O evento conta com a participação de autoridades da sociedade civil e do governo, entre elas gestores da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), que debatem temas como o papel das unidades de urgência e emergência e sua inserção em redes de atenção à saúde; a formação e educação permanente dos profissionais que atuam na área, além da regulação e fiscalização dos serviços de urgência e emergência do SUS e no sistema suplementar. A programação continua na tarde desta sexta-feira (18/03), com a mesa de encerramento prevista para às 18h. Clique aqui e confira mais detalhes do evento.
Durante a abertura, ocorrida na noite desta quinta-feira (17/03), no plenário Aminthas de Barros da CMBH, o vereador Gilson Reis, representante da Comissão de Saúde da Câmara Municipal de Belo Horizonte e um dos realizadores do seminário, reforçou a importância do esforço conjunto de profissionais, estudiosos, lideranças sindicais, governos e vereadores para discutir a humanização do setor não só na saúde pública, como também na suplementar. “O problema é de múltiplas faces e nós precisamos tratá-lo com a perspectiva de superar os gargalos que ainda enfrentamos nessa área, como é o caso da negligência”, enfatizou. O vereador afirmou, ainda, que ao final do evento a proposta é elaborar uma carta de intenções de Belo Horizonte, que possa ecoar em todo o país, fundamentando um norte para as mudanças necessárias na urgência e emergência na rede pública e privada.
O Secretário de Estado de Saúde de Minas Gerais, Fausto Pereira dos Santos, esteve presente na abertura do evento e ressaltou a importância de repensar a forma como a urgência e emergência é vista hoje tanto no meio acadêmico, como pelos gestores de saúde e população. “A discussão da urgência, na formação dos profissionais de saúde, modificou bastante ao longo dos últimos anos. Muito se deve às mudanças do perfil epidemiológico do Brasil, à questão da organização dos grandes centros, do trânsito e da violência. Essas são algumas das questões que trouxeram a urgência para o centro do processo de discussão da organização do sistema e agora, mais recentemente, também para discussão do processo de formação dos médicos”, afirmou. Também fez parte da mesa de abertura o secretário Municipal de Saúde de Belo Horizonte, Fabiano Pimenta, que destacou a importância de priorizar não apenas a rede de urgência e emergência, como também a atenção primária à saúde, como porta de entrada para os casos que não se caracterizam como urgência e emergência, melhorando assim o fluxo assistencial dos usuários.
Palestra magna
O ex-ministro da Saúde, Arthur Chioro, proferiu, na noite de abertura do seminário, a palestra “Atribuições e responsabilidades dos gestores em relação aos serviços de urgência e emergência em saúde no SUS e no Sistema Suplementar”. Para o ex-ministro, a mudança só se torna possível quando os gestores tiverem a clareza de que o problema não é apenas do coordenador de urgência e emergência, mas de toda a rede. “O espaço da urgência e emergência tem que ser extremamente valorizado e de respeito às pessoas, aos cidadãos. É importante então produzir um encontro com os mecanismos de controle social, de gestão participativa, de democratização e de maior transparência”, ressaltou.
“Nós só poderemos dizer que o nosso sistema funciona e que é digno da população brasileira quando nos enfrentarmos, para valer, o problema da urgência e emergência. É preciso, portanto, produzir outro jeito de organizar, de cuidar e de formar e de construir essa relação. Eu tenho certeza de que em breve Belo Horizonte e Minas Gerais vão estar contando uma história muito exitosa de produção de uma nova rede de urgência e de uma nova relação público-privado. Não tenham medo de enfrentar esse desafio e coloquem o usuário acima de qualquer coisa”, finalizou o ex-ministro.
O luto instaura a luta
O superintendente de Contratação de Serviços de Saúde da SES-MG, Bruno Reis de Oliveira, é um dos idealizadores do movimento “Gente é Urgente” e buscou inspiração a partir de um trágico desfecho em uma experiência pessoal. Após tentar buscar evidências do que de fato aconteceu, um grupo formado por Bruno e por pessoas próximas a ele chegou ao diagnóstico da gravidade do problema do atendimento em urgência e emergência em Belo Horizonte, tanto na rede pública quanto na privada. “Essa discussão foi ampliada para outros casos similares de total despreparo e desrespeito no atendimento de emergência e, a partir do apoio de diversas instituições da área médica e da saúde, sensíveis ao tema, surgiu o Movimento. Nosso intuito é convidar a todos a contribuir com esse nosso coro e a participar da construção de um novo marco para o atendimento de urgência na nossa cidade”, contou Bruno Reis.
Rede de Urgência e Emergência em Minas Gerais
O Estado atualmente participa no custeio de todas as 43 Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) habilitadas pelo Ministério da Saúde, sendo que, até o ano de 2014, o custeio era restrito a 11 UPAs.
Já em relação ao SAMU 192, a cobertura atual é de 56,98% dos municípios e 66,85% da população, considerando o serviço no âmbito municipal e regional. Todas as demais Regiões Ampliadas de Saúde que não contam com o SAMU 192 Regional já possuem deliberação aprovando o SAMU 192 Regional e algumas delas possuem inclusive convênio publicado para implantação prevista ainda para o ano de 2016, como é o caso da Região Ampliada Oeste (Divinópolis), Leste (Governador Valadares), Leste (Ipatinga) e Triângulo do Norte (Uberlândia).
Autor: Ana Paula Brum