Em Minas Gerais, os números de suicídio acendem um alerta. Entre 2018 e 2023, o estado registrou um aumento de 25% no número de mortes. A taxa de óbitos mineira, de 9,23 por 100 mil habitantes, já supera a média nacional de 8,05. Os dados do relatório “Setembro Amarelo: Um panorama sobre a saúde mental nas microrregiões de Minas Gerais”, do Tribunal de Contas de Minas Gerais, mostram ainda uma mudança no perfil, com a faixa etária de 30 a 39 anos se tornando a mais atingida, e uma grande disparidade de gênero, onde 77% das vítimas são homens.
Referência em saúde mental da Superintendência Regional de Saúde de Belo Horizonte, Denize Armond, destaca a importância de compreender a importância da saúde mental sem preconceitos. “A sociedade possui grande preconceito em relação à saúde mental. Existe uma pressão para que a fragilidade seja vista como um defeito. O preconceito acaba sendo reforçado pela própria pessoa que precisa de ajuda”.
Sobre a ”percepção da necessidade de procurar os serviços de saúde mental, Armond enfatiza os perigos e ameaças do preconceito. “O lema “Se precisar de ajuda, procure ajuda” é válido, mas limitado. O suicídio é o extremo da depressão. Não raro, a pessoa não assume que precisa de ajuda. Assumir a necessidade de ajuda na saúde mental é um ato de coragem e sabedoria. É preciso enfrentar o preconceito social e não reforçar individualmente”.
Famosos, bem-sucedidos, com situação financeira acima da média da população também expõem desafios na área. ”Era madrugada, às vezes, à noite, eu sentava na cama: “Vou morrer, amanhã não vou ver meus filhos””, declarou o zagueiro do Clube Atlético Mineiro, Lyanco ao Globoesporte em março de 2025. Ginasta campeão mundial e medalhista olímpico, Diego Hypólito relembrou, durante a passagem no programa BBB em janeiro deste ano, o período em que ficou internado em uma clínica psiquiátrica. “Não conseguia mais viver”, disse durante o período no reality show.
O cuidado também deve abranger crianças e adolescentes. Psicóloga e psicopedagoga, Juliana Baldo destaca a importância de desmistificar a saúde mental na infância e adolescência. “A pandemia ou o pós pandemia trouxeram ganhos no sentido de desmistificar a saúde mental. Hoje se fala com mais frequência sobre o tema em todos os espaços, em especial da intervenção psicológica”. Baldo aponta que, quando se trata de crianças pequenas ou no início da adolescência, ainda existem resistências ao tratamento de saúde mental. “Ainda encontramos algumas resistências, em especial quando há necessidade também da intervenção medicamentosa, do olhar de um psiquiatra infantil. Em alguns casos, apenas a psicoterapia pode não ser suficiente, e é necessário um conjunto de profissionais em parceria com a família”.

Onde procurar atendimento
A porta de entrada para o cuidado pode ser a Unidade Básica de Saúde (UBS), o posto de saúde mais próximo de casa. As equipes realizam o primeiro acolhimento e, se necessário, fazem o encaminhamento correto para outro serviço da RAPS. Outra opção é o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Esses centros funcionam de “portas abertas”, sem necessidade de encaminhamento, e oferecem atendimento especializado para sofrimento psíquico mais intenso.
Para situações de crise aguda e emergência, o SAMU (192) e as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) devem ser acionados. Para mais informações sobre os serviços de saúde mental em Minas Gerais, acesse: (https://www.saude.mg.gov.br/saudemental)
| Modalidade do CAPS | Público-Alvo | Principais Funções e Características |
|---|---|---|
| CAPS I | Pessoas de todas as idades com transtornos mentais graves e persistentes. | Indicado para municípios com população acima de 15 mil habitantes. Oferece atendimento diário.37 |
| CAPS II | Adultos com transtornos mentais graves e persistentes. | Indicado para municípios com população acima de 70 mil habitantes. Oferece atendimento diário mais intensivo.37 |
| CAPS i | Crianças e adolescentes com transtornos mentais graves e persistentes. | Indicado para municípios com população acima de 70 mil habitantes. Oferece cuidado especializado para o público infantojuvenil.37 |
| CAPS AD | Pessoas de todas as idades com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas. | Indicado para municípios com população acima de 70 mil habitantes. Oferece tratamento específico para dependência química.37 |
| CAPS III | Adultos com transtornos mentais que necessitam de cuidado contínuo. | Indicado para municípios com população acima de 150 mil habitantes. Funciona 24 horas por dia, incluindo feriados, e possui leitos para acolhimento noturno em momentos de crise.37 |
| CAPS AD III | Adultos, crianças e adolescentes com necessidades decorrentes do uso de álcool e drogas que precisam de cuidado contínuo. | Indicado para municípios com população acima de 150 mil habitantes. Funciona 24 horas por dia, com leitos para observação e desintoxicação.37 |
Por: Leandro Heringer
Fotos: Imagens geradas por Inteligência Artificial
