O Colegiado Regional de Saúde Mental de Sete Lagoas realizou no dia 22 de agosto uma reunião com as referências das unidades de saúde do território para discutir modos de enfrentar o racismo estrutural no atendimento de pessoas em situação de sofrimento mental. Um dos pontos de destaque debatido pelos profissionais presentes foi a ampliação do cuidado humanizado em todas as unidades de atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS) e não apenas nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).
Para Pedro de Paula, coordenador da Comissão de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais e membro da Frente Mineira Drogas e Direitos Humanos (FMDDH), uma visão profissional que descarta as identidades raciais tende a ignorar o racismo como uma causa do sofrimento mental. O coordenador Pedro de Paula defende “uma racialização da rede de Saúde Mental”. De acordo com ele, “ a gente precisa discutir raça e gênero, porque sem essa atenção nós, como profissionais, acabamos reproduzindo diversas precariedades que se acumulam nas vidas das pessoas”.
No mesmo sentido, Andreza Rocha, psicóloga da equipe do Núcleo de Atendimento Educacional da Secretaria Regional de Educação de Sete Lagoas (NAE/SER-Sete Lagoas), discutiu como essa visão racializada de enfrentamento às intolerâncias e preconceitos precisa ser desenvolvida dentro e fora do núcleo familiar. Para Andreza Rocha, um público que recebe muitas vezes essas visões taxativas que impedem o atendimento humanizado são adolescentes em situação de acolhimento socioeducativo. “A gente perde potências se formos reducionistas no modo como a gente enxerga. Devemos ter o cuidado de observar o outro, sem nos limitarmos aos julgamentos próprios”, ressalta Rocha.
Dentre as estratégias apontadas no Colegiado Regional de Saúde Mental, foram elencadas o treinamento de profissionais, a adoção de profissionais de acompanhamento terapêutico no SUS, a discussão contínua sobre o racismo institucional e o fortalecimento da autonomia dos usuários dos atendimentos de Saúde Mental. Para a psicóloga Clarice Fonseca, referência técnica de Saúde Mental da Regional de Saúde de Sete Lagoas, a realização de assembleias regionais e municipais entra nesse espaço da autonomia.
Fonseca defende que é essencial “conversar nas assembleias sobre a construção de políticas públicas e envolver as instituições de formação dos profissionais na área na discussão, professores e coordenadores de curso de Psicologia, profissionais em atuação e os usuários. Precisamos pensar nas condições que mobilizam todo o serviço e em como realizar o cuidado sem alienar o sujeito e sem retirar dele a sua cidadania”, finaliza a referência técnica de Saúde Mental da SRS-Sete Lagoas.
Autor: Nayara Souza