Os dados mostram um cenário de alta incidência de internações e óbitos nos municípios num período de dez anos
Um estudo sobre acidentes de transportes terrestres nos municípios da área de abrangência da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Passos mostra um cenário com alta incidência de internações e óbitos. Num período de dez anos, foram registradas 929 mortes e 6.596 internações decorrentes de acidentes de trânsito. A maior parte das vítimas são homens jovens, com os automóveis tendo sido mais associados aos óbitos e as motocicletas, às internações.
O trabalho foi realizado pela coordenação do Núcleo de Vigilância Epidemiológica (Nuvepi) e está disponível para consulta virtual por meio do Boletim de Vigilância dos Acidentes de Transportes Terrestres da Superintendência Regional de Saúde de Passos no Portal da Vigilância da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG).
A superintendente da Regional de Saúde de Passos, Kátia Rita Gonçalves, destaca a importância do levantamento para a gestão eficiente de dados e fluxos de informações, o que é essencial para a saúde pública. “No campo da saúde, a informação contribui para a tomada de decisões, pois amplia o entendimento sobre as condições de saúde, a mortalidade e a morbidade, os fatores de risco, entre outros aspectos”, ressalta.
Ainda de acordo com Kátia Gonçalves, “os sistemas de informação em Saúde possuem uma estrutura que permite a coleta e a conversão de dados em informações fundamentais para entender a condição de saúde da população. Portanto, é primordial analisar a informação como um instrumento que possa auxiliar na melhoria da gestão dos processos de saúde”, conclui.
O boletim traz a fonte de dados e traça o perfil epidemiológico dos acidentes de trânsito com faixa etária das vítimas, sexo, estado civil, a categoria do acidente e a classificação dos principais veículos envolvidos nas ocorrências. O estudo mostra ainda uma análise das informações, com discussão dos resultados, conclusão e recomendações de políticas públicas que possam reduzir esses eventos.

Base de dados
O Núcleo de Vigilância Epidemiológica utilizou uma base de dados de 2013 a 2023, a partir dos registros de óbitos feitos pelos próprios municípios no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e, referentes às internações, no Sistema de Informações Hospitalares (SIH), ambos do Ministério da Saúde (MS).
A responsável pelo estudo, Márcia Aparecida Silva Viana, coordenadora do Nuvepi, explica que, além da publicação no Portal da Vigilância, os dados foram apresentados aos secretários municipais de saúde na reunião de abril das comissões intergestores bipartite (CIB), para incentivá-los a desenvolverem ações que possam diminuir a incidência dos acidentes de transportes terrestres.
“Um dos nossos compromissos enquanto vigilância epidemiológica é mostrar ao município o tamanho e gravidade do problema e esperar que ele desenvolva ações para melhorar tal situação, de acordo com as normativas nacionais”, disse Márcia Silva.
Segundo a publicação, os acidentes de transporte terrestre são um dos maiores desafios de saúde pública no mundo, com a Organização Mundial de Saúde (OMS) relatando que 1,35 milhão de pessoas morrem todo ano em decorrência de agravos viários. No Brasil, somente no ano de 2022, foram 32.426 mortes e mais de 200 mil internações pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Vítimas
Na Regional de Saúde de Passos, de 2013 a 2023, os 27 municípios registraram 929 óbitos, sendo a maioria das vítimas do sexo masculino (81,3%), com predomínio das faixas etárias de 20 a 29 anos (21%), 30 a 39 anos (17,2%) e 40 a 49 anos (16,8%). As internações totalizaram no período 6.596 casos, com 77,6% deles tendo ocorrido entre os homens, repetindo o padrão etário verificado nas mortes.
O estado civil das vítimas também foi levado em conta no estudo, com 35,7% de solteiros e 27,8% casados. “Esses dados indicam uma prevalência entre indivíduos mais jovens e, possivelmente, com menor estabilidade emocional e financeira, fatores que podem contribuir para comportamentos de risco”, segundo o perfil epidemiológico analisado no boletim.
Quanto aos veículos envolvidos nos acidentes, os automóveis foram os mais frequentes entre os óbitos (46,2%), seguidos das motocicletas (21,4%) e pedestres (12,1%). Das internações, 51,8% dos registros referem-se a motocicletas, 20,2% a carros e 5,2%, caminhonetes.
As mulheres representam 18,7% das mortes e 22,4% das internações, segundo o estudo que traz a observação de que: “essa discrepância reflete padrões de exposição ao risco, com homens frequentemente mais envolvidos em atividades relacionadas ao trânsito, como dirigir veículos de maior velocidade e uso de motocicletas”.
Além das perdas humanas, os acidentes de trânsito causam um grande impacto econômico no país. Em 2015, o SUS gastou R$ 244 milhões com internações provocadas por acontecimentos dessa natureza, a maioria de motociclistas. “Entre 2011 e 2021, a taxa de internação de motociclistas aumentou 55%, evidenciando a vulnerabilidade desse grupo tanto em áreas urbanas quanto rodoviárias”, diz a introdução do boletim.
Para Márcia Silva, é preciso que os secretários municipais de saúde tenham consciência do tamanho e da gravidade dos acidentes por transporte terrestre para tomarem as providências que possam diminuir a incidência. “Estamos acostumados a olhar apenas para as doenças, mas é mais que necessário voltar esse olhar para as condições e agravos à saúde que a cada dia geram adoecimento, sequelas permanentes e mortes na população do território”, observa.
Acesse o boletim: https://bit.ly/boletimatt_srspassos
Por Enio Modesto / Fotos: Enio Modesto