De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem dez milhões de pessoas com algum tipo de deficiência auditiva. A necessidade de proporcionar a inclusão desta população na sociedade, ampliando oportunidades de educação e trabalho, fez com que a Língua Brasileira de Sinais (Libras) fosse oficialmente reconhecida em 2002, por meio da Lei 10.436. Enquanto a Língua Portuguesa é oral-auditiva, a compreensão das Libras está relacionada a movimentos manuais e expressões faciais com organização gramatical própria e estruturas frasais flexíveis.
Trabalhando como intérprete de Libras há 15 anos, Reginaldo dos Santos é o responsável por traduzir para surdos do estado, diariamente, a entrevista coletiva sobre a pandemia do novo coronavírus, realizada com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), veiculada pela Rede Minas, da Cidade Administrativa. Palavras como pandemia, novo coronavírus e aglomerações passaram a fazer parte da tradução para Libras. E, assim como acontece com certos vocábulos da Língua Portuguesa, os novos gestos e expressões também viralizaram na comunidade dos surdos.
“Logo começou a pandemia, surgiram os sinais correspondentes aos termos mais usados. Faço parte de várias redes onde estão reunidos intérpretes, surdos e especialistas da área que trocam informações constantemente”, conta Reginaldo. Além da tradução da coletiva, Reginaldo atua em lives nas mídias sociais e está apto a orientar deficientes auditivos no acesso a serviços diversos. Ao contrário do que se possa imaginar, nem ele nem ninguém de sua família fazem parte de grupos de deficientes auditivos. “A princípio, meu interesse era o de fazer trabalho voluntário. Aliás, estou, agora, aprendendo espanhol para ajudar os imigrantes”, revela Reginaldo, que transformou o altruísmo em profissão.
O trabalho de Reginaldo é dinâmico: ele chega à Cidade Administrativa, por volta de 11h30 e recebe do mestre de cerimônias Rubens Castro uma cópia das perguntas que farão parte da coletiva. “Em poucos minutos leio e cogito a melhor interpretação. Mas uma vez que a tradução é simultânea, me valho da experiência já adquirida”, fala o tradutor, referindo-se a imprevistos que vira e mexe, acontecem: programa ao vivo tem destas coisas. “Acredito que todas as informações da coletiva são de extrema importância, cumprindo papel de promoção de conhecimento aos mineiros.”
O tradutor e intérprete precisa estar atento àquilo que tanto o mestre de cerimônias quanto o secretário de Estado de Saúde Carlos Eduardo Amaral – ou outros integrantes da coletiva – pretendem dizer. Sua atuação envolve restrição de tempo, escolhas adequadas, preparo, além das especificidades que o contexto apresentar.
No Brasil, o pioneiro na difusão da comunicação com os surdos foi o professor francês Ernest Huet, que veio para o país a convite de D. Pedro II e ajudou a fundar o Imperial Instituto de Surdos-Mudos, em 1857, no Rio de Janeiro. Na época, somente homens podiam frequentar a instituição de ensino. Dotada de estrutura, sintaxe e organização gramatical própria, com construções objetivas e flexíveis, a Libra é considerada uma língua, na qual cada palavra possui sinal próprio.
Desde 2011 o Estado adota traduções em Libras e, segundo Aline Brandão, superintendente do Núcleo de Eventos e Cerimonial do governo de Minas Gerais – responsável pela organização diária da coletiva – devido ao excesso de termos técnicos trazidos pela pandemia foi necessário providenciar treinamento para Reginaldo dos Santos, “pois a atuação dele é fundamental para garantir à população, acesso à informação”, pontua Aline. A tradução da coletiva em Libras foi uma solicitação do atual governador, Romeu Zema, para possibilitar a mais mineiros, informações para entenderem a pandemia, se protegerem e também a seus familiares e amigos.
Saiba mais sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libra
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Autor: Raquel Ayres