Funed propõe revisões em notas técnicas sobre diagnóstico da Doença de Chagas

Laboratório de Referência Nacional para o diagnóstico da doença de Chagas da Funed inova, mais uma vez, ao propor um novo fluxo para identificar o agravo. O estudo, conduzido pela referência Técnica do Laboratório de Entomologia, Ana Lúcia do Amaral Pedroso, em parceria com o Serviço de Pesquisa em Doenças Infecciosas (SPDI), da Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento, já está rendendo bons frutos.

A pesquisa propõe revisões nas notas técnicas estadual e nacional sobre o diagnóstico para a doença de Chagas. A proposta é que, a partir dos resultados apresentados, o diagnóstico utilize o critério de encontrar os barbeiros tanto dentro da residência, quanto no peridomicílio, e que todos os moradores da casa sejam testados. “Com o diagnóstico em tempo oportuno, a intenção é otimizar e melhorar o Programa de Vigilância da doença de Chagas”, reforça a referência Técnica.

O projeto está sendo desenvolvido por Ana Lúcia em seu mestrado Profissional em Entomologia em Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). Ela conta que, atualmente, a testagem para a doença de Chagas é feita somente quando o barbeiro, inseto que transmite a doença, é encontrado no quarto dos moradores de uma determinada residência. “O que a nossa pesquisa mostra é que esses barbeiros, infectados com o agente causador da doença, podem estar em outros cômodos da casa, como cozinha, sala, e também no peridomicílio, ou seja, na área que circunda um domicílio, normalmente dentro de um raio de 100 metros”, reforça.

Parceria DIOM e DPD
Esse projeto surgiu muito antes de a pesquisadora da Funed ingressar no mestrado da USP. “O piloto iniciou antes, no SPDI, sendo desenvolvido pelo chefe do Serviço, Sérgio Caldas, que hoje é o coorientador do meu mestrado”, conta Ana Lúcia. Sérgio detalha que o projeto piloto buscava entender se, por via molecular, ou seja, pelo exame de Reação em Cadeia da Polimerase (PCR), era possível detectar o parasita Trypanosoma cruzi no barbeiro e verificar se existia DNA humano. “Uma vez que houvesse o DNA humano, era um indicativo de que o inseto se alimentou de sangue e existia uma grande chance de as pessoas daquela residência onde ele foi capturado terem sido sugadas e contaminadas”, revela.

“Ao ser levado como projeto de mestrado para a USP, a intenção era que o projeto fosse desdobrado e aprimorado, extrapolando os limites estaduais e contribuindo para a construção de uma proposta que possa futuramente influenciar rotinas laboratoriais de vigilância em diferentes regiões do país. Além disso, parcerias externas e interinstitucionais, como essa com a USP, são fundamentais para fortalecer o intercâmbio de conhecimento, ampliar as capacidades técnicas envolvidas e dar maior visibilidade nacional às ações desenvolvidas na Funed”, completa Sérgio Caldas.

Ana Lúcia ressalta ainda que este é o primeiro projeto do Serviço de Doenças Parasitárias (SDP), da Diretoria do Instituto Octávio Magalhães (DIOM), que faz a ligação entre pesquisa de Vigilância Entomológica (do vetor), com Vigilância Epidemiológica, ou seja, dos casos humanos. “Pela primeira vez temos um projeto de pesquisa relacionado ao triatomíneo. E a proposta é também implantar o exame de PCR nos barbeiros que não chegam no laboratório em condição de se coletar material para o exame parasitológico, uma vez que estão em avançado estado de decomposição, ou esmagados, ou sem material intestinal. Assim, quando a pesquisa terminar, em agosto, com os resultados finais nossa proposta é implementar, na Funed, o exame de PCR também nos triatomíneos”, acrescenta.

A doença de Chagas
Insetos triatomíneos, popularmente chamados de barbeiros, são os transmissores de Trypanosoma cruzi, agente etiológico da doença de Chagas. Eles se alimentam do sangue de animais e do ser humano e, por isso, ao encontrar um inseto suspeito, que se pareça com um barbeiro, é preciso avisar às autoridades de saúde do local. “O grande problema da doença de Chagas é que, na maioria das vezes, ela é silenciosa. A fase aguda muitas vezes passa desapercebida. Então, se não tivermos uma vigilância ativa e efetiva, o diagnóstico só vai ser feito lá na frente, quando as pessoas estiverem na fase crônica da doença, com todas as suas complicações”, ressalta o chefe do SPDI, Sérgio Caldas.

O pesquisador explica ainda que a pessoa pode passar 10, 15 ou 20 anos sem manifestar sintomas da doença. “A Organização Pan-Americana da Saúde evidencia que menos de 10% das pessoas infectadas têm acesso ao diagnóstico e tratamento adequados. Isso comprova o quanto ela é silenciosa. Portanto, é essencial detectá-la desde o início, pois se tratamos a pessoa logo que ela foi infectada, as chances de cura são altíssimas”, frisa. Sérgio explica ainda que, quando a infecção está no início, e o parasita predomina na corrente sanguínea, o tratamento é mais eficaz. “Diferente da fase crônica, quando é baixa a taxa de cura, uma vez que o parasita tende a se alojar  no interior dos tecidos, como o coração, causando inflamação. E os medicamentos utilizados muitas vezes não conseguem reverter a situação”, completa.

Desdobramentos da pesquisa
Um dos objetivos do projeto é a proposta de revisão da nota técnica do estado de Minas Gerais, que orienta com relação ao diagnóstico da doença de Chagas no estado. “Mesmo com resultados somente parciais da pesquisa, nós já propomos à Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais a revisão da nota técnica, ampliando assim os critérios para testagem das pessoas que residem em uma determinada residência onde o barbeiro infectado foi encontrado. E eles aceitaram revisar a nota técnica”, explica Ana Lúcia.

A referência Técnica do laboratório de Entomologia do SDP ressalta ainda que a perspectiva é que esse fluxo também possa ir para outros estados. “A Funed já teve a oportunidade de sugerir a alteração na nota técnica do Ministério da Saúde, que também já está em revisão, e tem perspectiva de publicação em breve”, acrescenta Ana Lúcia.

O Laboratório Central de Saúde Pública de Minas Gerais (Lacen-MG/Funed), por meio do SDP, realiza os exames sorológicos e moleculares para identificar se a doença está na fase aguda – que ocorre nos primeiros dias após o contato com o parasita e pode durar até cerca de dois meses – ou na fase crônica, quando a doença já pode causar comprometimentos cardíacos e do sistema digestivo.

Já o Laboratório de Entomologia do SDP recebe triatomíneos de todo o estado de Minas Gerais, para que possa ser feita a investigação, por meio de exames que identificam se eles estão infectados com o protozoário Trypanosoma cruzi, que transmite a doença de Chagas. Com a pesquisa em desenvolvimento, busca-se ampliar essa abordagem por meio da detecção de DNA humano nos insetos e da identificação dos grupos genéticos do parasita circulantes. O estudo poderá contribuir para o aprimoramento do diagnóstico e para o fortalecimento das estratégias de vigilância e controle da doença.

Por: Ascom/Funed

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