Escola de Saúde Pública de Minas Gerais fortalece Rede de Saúde Mental

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A partir de março, 650 turmas serão capacitadas pela ESP em todo o Estado, como parte da estratégia do projeto Caminhos do Cuidado

 

Ampliar o enfrentamento do álcool e outras drogas e os cuidados com a saúde mental. Este é o objetivo do projeto Caminhos do Cuidado, viabilizado por meio de uma parceria firmada entre a Escola de Saúde Pública de Minas Gerais (ESP-MG), Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), Ministério da Saúde, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Conselho dos Secretários Municipais de Saúde (Cosems-MG) e a Escola Técnica da Unimontes (ETSUS-Unimontes). 
Trata-se de mais uma ação estratégica para reforçar a consolidação da quinta Rede de Atenção à Saúde de Minas Gerais e a primeira reconhecida pelo Ministério: a Rede de Saúde Mental. Além desta, a ESP já realiza projetos direcionados,  como a “Oficina Popular em Saúde Mental”, “Encontros ESP-MG Supervisão Clínica e Institucional em Saúde Mental”, a criação do Núcleo Evipnet Minas com a Organização Mundial de Saúde (OMS) e Residência em Saúde Mental, na consolidação da Rede.
 
Nesta segunda-feira (3), por exemplo, cerca de 50 orientadores do projeto Caminhos do Cuidado iniciaram a capacitação para formação de quase 300 mil agentes comunitários de saúde, auxiliares e técnicos de enfermagem da Saúde da Família, no contexto da saúde mental, com ênfase em crack, álcool e outras drogas. Com realização na capital mineira, no Hotel Dayrell, a ação se insere no eixo do cuidado do plano integrado de enfrentamento às drogas chamado “Crack, é possível vencer”. A proposta é capacitar orientadores dos estados de Minas Gerais, Sergipe, Espirito Santo, Roraima, Mato Grosso do Sul, Maranhão, Goiás e Mato Grosso.
 
Neste contexto, a Escola de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais  possui destaque na capacitação de Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e Auxiliares/Técnicos de Enfermagem da Atenção Básica (ATENFs) em 648 municípios do estado. Inclusive, a partir de março, 650 turmas vão iniciar a preparação sob responsabilidade da ESP, com envolvimento de 24 mil ACSs e ATENFs.
 
De acordo com diretor-geral da ESP-MG, Damião Mendonça, as parcerias entre instituições de referência projetam grandes resultados. “Esperamos que esses resultados sejam percebidos pela  população mineira”, declara.
 
Já a coordenadora de saúde mental da SES-MG, Tanit Sarsur, enfatiza a importância das instituições de ensino no processo. “São 4 mil equipes na atenção primária. A ESP-MG e a Unimontes são fundamentais devido ao tamanho do Estado”, observa. Para Sarsur, é fundamental pensar no papel da Atenção Primária na Saúde Mental. “A Atenção Primária é porta de entrada e os agentes comunitários de saúde e o auxiliares e técnicos de enfermagem são estratégicos nesse cuidado”, aponta.
 
No mesmo sentido, a técnica da diretoria da Atenção Primária da SES-MG, Ana Paula Lara, destaca a proximidade do ACS com a população. “Esse processo é importante porque o ACS é o agente que está próximo à população. Ele identifica o cidadão que pode ter algum problema relacionado à saúde mental. É Importante capacitá-lo para que a agente possa ter atenção primária mais qualificada. A Atenção Primária é porta de entrada para o SUS e a saúde mental está incluída. Mesmo que as pessoas seja atendida no Centro de Apoio Psicossocial (CAPS) ou no hospital, ela vai ter o cuidado compartilhado com a Atenção Primária em outros momentos”, afirma.
Para a referência de saúde mental do Ministério da Saúde em Minas Gerais, Leisenir de Oliveira, o Estado é um espelho do país. “Minas é um estado grande e diverso. Há várias realidades. Então, é possível pensar que o que dá certo aqui é aplicável no Brasil”, salienta.
 
Segundo o coordenador do projeto Caminhos do Cuidado na ESP-MG, Rodrigo Machado,  essa proposta de qualificação possui como ênfase os processos de cuidado a usuários de crack, álcool e outras drogas e busca melhorar a atenção prestada aos mesmos e a seus familiares. “A metodologia de aprendizagem apresenta dispositivos que auxiliarão os ACS e ATENF a conectar os conteúdos dessa formação ao mundo do trabalho, de acordo com os problemas e necessidades identificados no seu processo de trabalho no território, no acolhimento aos usuários, na mobilização e articulação da rede de apoio social e comunitária”, enfatiza.
 
Em âmbito nacional o projeto é coordenado pelo Ministério da Saúde, que tem como parceiros a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Grupo Hospitalar Conceição (GHC).
Outro modelo
O  coordenador estadual do projeto Caminhos do Cuidado em Minas Gerais, Leonardo Félix, acredita que o fenômeno das drogas trazem mudança conceitual. “O objetivo é que o ACS aborde diferentemente, tenha outra visão. O acolhimento deve ser inclusivo. É comum trabalharmos com material fechado, discussões menores. Aqui, não é curso para aprender sobre álcool e drogas, mas uma escuta diferenciada, articular uma visão da situação a partir do sujeito. Acredito que seja uma grande virada na formação. Vamos discutir como abordar essa questão e como abordar o sujeito”, observa.
 
Para o diretor da ETSUS-Unimontes, Geraldo dos Reis,o projeto é fundamental porque qualifica a rede de atenção à saúde para acolher os usuários de álcool, crack e outras drogas, inclusive também no atendimento aos familiares. “Essa qualificação, de fato, fortalece toda a rede”, sinaliza.
 
A rede e o conceito de integralidade são apontados por  Marco Aurélio de Resende, do Departamento de Gestão e Educação em Saúde do Ministério de Saúde, como responsáveis pela grande expectativa em torno do “Caminhos do Cuidado”. A nossa expectativa é a formação para que o ACS traga para dentro da Atenção Primária essa agenda da saúde mental, entendendo a importância da integralidade do cuidado da população, saindo da ideia de que determinadas questões são exclusivamente de especialistas”, afirma.
 
Representando a coordenação executiva do projeto Caminhos do Cuidado e a escola Grupo Conceição Hospital, Renata Peckelman, falou sobre os objetivos da ação. “Os objetivos centrais são: apropriar-se do processo de reforma psiquiátrica, da Política de Saúde Mental com ênfase na Rede de atenção psicossocial com vistas à produção do cuidado, a reintegração social e da cidadania das pessoas usuários de álcool e outras drogas, além de discutir e construir o papel do ACS e do Auxiliar;Técnico de Enfermagem da Atenção Básica para o cuidado em saúde mental conforme especificidade de cada território, qualificando o olhar e a escuta pra dar visibilidade à questão das drogas, entre outros”, enumera.
 
Profissionais participantes, a psicóloga que trabalha na atenção primária da Secretaria Municipal de Saúde de Vitória, Andréa Romaniolli, e a farmacêutica da  Vigilância de Medicamentos Fitoquímicos da Fundação Ezequiel Dias (Funed), Adalgiza Monteiro, falam sobre as expectativas a respeito da aplicação do conhecimento. “A minha expectativa é de contribuir com o matriciamento do serviço de saúde. Sabemos da importância da saúde mental na Atenção Primária”, diz a farmacêutica.
 
Já a psicóloga levanta a questão de preconceitos e mitos. “Trabalhei muitos anos na saúde mental e hoje trabalho na Atenção Primária. É preciso trabalhar com os agentes comunitários de saúde, preparar mais no processo de formação do profissional de Atenção Primária na atenção a álcool e drogas. Essa área é importante e envolve preconceitos e mitos. Essa metodologia de trabalho é muito bem-vinda. Espero contribuir no crescimento do SUS”.

Autor: Leandro Heringer

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