Sensibilizar, mobilizar e informar à população sobre a importância da Doação de Órgãos e Transplantes feitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), além de alertar sobre a importância da prevenção do Câncer de Intestino. Foi com esse objetivo que o MG Transplantes e a Central de Notificação Captação e Doação de Órgãos e Tecidos (CNCDO) realizaram, neste sábado (26/09), a XV Campanha de Doação de Órgãos e Tecidos/Setembro Verde.
O evento, que teve apoio da Superintendência Regional de Saúde de Governador Valadares (SRS-GV), promoveu uma caminhada pelas ruas principais da cidade e fez um ato cívico na Praça dos Pioneiros, no centro do município.
Na abertura oficial, a prefeita de Governador Valadares, Elisa Costa, sintetizou o foco e a importância da campanha. ”Essa é uma das mais bonitas ações de solidariedade e de humanidade de que participamos. É essencial podermos sensibilizar as pessoas, para que elas compreendam que podem dar e garantir vida para muita gente”, afirmou.
O coordenador do CNCDO Regional Leste, Célio Ferreira Magalhães, destacou o princípio fundamental da doação. ”Ser ou não um doador é muito simples e depende de um ato que só a pessoa pode tomar: a de assumir ser um doador”, enfatizou. O coordenador também explicou, em um segundo momento, a pessoa tem que comunicar à família essa decisão, já que somente os familiares é que podem autorizar o processo e a retirada dos órgãos. “A gente nunca sabe de que lado da fila vamos estar, se no de ser um doador ou de ser um receptor de órgãos”, finalizou.
Já a coordenadora do Núcleo de Atenção Primária da SRS-GV, Cristian Kelly, na oportunidade representando o superintendente Regional de Saúde, Derli Batista da Silva, também pontuou sobre a importância da campanha. ”É fundamental que a comunidade se mobilize para esse ato de doação e que a família do doador também se conscientize da necessidade de autorizar a doação”, reforçou.
O médico ginecologista Homero Afonso Magalhães, presente no evento, é um exemplo destacado de como a doação traz resultados e qualidade de vida. Entre os anos 2000 e 2004, Homero teve uma doença hereditária degenerativa, em que os rins funcionavam apenas 18%.
Em 2005, a situação se agravou e os órgãos chegaram a ter um funcionamento de apenas 13%. Com isso, ele ficou na fila de um transplante durante um ano e meio. Foi então que a família descobriu, para surpresa de todos, que a filha de criação Rebeca, com 20 anos na época, mesmo não sendo parente biológico, era compatível. ”Já são dez anos que recebi o órgão de minha filha e, por isso, tenho muito a agradecer por receber dentro de casa essa doação”, contou.
Após o ato cívico, os cerca de 400 participantes, segundo avaliação da Polícia Militar, percorreram numa caminhada as ruas principais do centro de Valadares. Participaram também do evento o deputado federal Leonardo Monteiro, o presidente da Associação Médica de Governador Valadares, Roberto Carlos Machado e a secretária municipal de Saúde do Município, Kátia Barbalho Diniz.
Situação em Minas
Segundo dados do Ministério da Saúde, Minas Gerais é um dos estados que mais faz transplantes no Brasil e está em segundo lugar em números absolutos, perdendo apenas para São Paulo. Já o país tem o maior programa público de transplantes do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, sendo que lá, os procedimentos são feitos por meio dos seguros de saúde.
De janeiro até agora, foram feitos 1.437 transplantes de órgãos e tecidos em Minas, volume considerado estável na comparação com igual período do ano passado. A fila de espera também não sofreu grandes alterações. No momento, 28 pessoas aguardam um coração, 350 esperam por córneas, 35 por fígados, 2.650 por rins e 32 por rins/pâncreas.
Doação
Existem três tipos de doadores de órgãos: entre pessoas vivas, aquelas que o coração parou e as que tiveram morte encefálica, mas permanecem com a função do coração e da respiração mantidas por aparelhos. No primeiro caso, a doação só pode ser realizada entre parentes de até quarto grau ou cônjuge, mediante autorização judicial. Um rim ou parte do fígado, por exemplo, pode ser retirado e transplantado no cônjuge, pais, filhos, avós, netos, tios e primos, após exames de compatibilidade e extensa avaliação médica.
No caso de doação de medula, não é necessária ligação ou parentesco, mas é imprescindível a realização de um cadastro, feito no Hemocentro Regional. São realizados exames no sangue de possíveis doadores e os resultados obtidos são armazenados em um banco de dados. Quando alguém compatível necessitar de um transplante medular, esse possível doador será comunicado e, se ainda estiver de acordo, parte de sua medula óssea será aspirada (sob anestesia local) e transplantada. Normalmente é feito para curar leucemias ou outras doenças relacionadas à produção do sangue.
Nos casos em que o coração parou, é possível aproveitar as córneas. Elas podem ser retiradas em pessoas de 2 a 80 anos, até seis horas após a morte. Em Valadares, há cerca de 10 pessoas aguardando por uma córnea na fila de espera. Mensalmente, oito transplantes são feitos no Município. Porém, todos os dias, mais pessoas são adicionadas à lista. A espera pode chegar a dois meses. A lista de espera do estado de Minas Gerais é ainda maior, contando hoje com 323 inscritos.
A outra situação em que a doação é possível envolve pessoas com morte encefálica e as funções do coração e respiração são mantidas por aparelhos. Somente após rigorosos exames clínicos, laboratoriais e de imagem, e a constatação de que o cérebro parou mesmo de funcionar, é que o paciente é declarado morto. A partir daí, a família é comunicada e a ela é dada a opção de doar coração, fígado, pâncreas e rins.
Vale destacar que, um único doador com morte encefálica (vítima de aneurismas, derrames, traumatismos cranianos ou tumores restritos ao sistema nervoso central) pode ajudar até seis pacientes. Só em Valadares, temos 123 pessoas fazendo hemodiálise até três vezes por semana enquanto aguardam por um rim. Na fila do estado de Minas Gerais há 2.675 pessoas esperando, ansiosamente, por esse órgão.
A doação de órgãos e sua destinação para transplantes são coordenadas em Minas Gerais pelo Complexo MG Transplantes, que é responsável pela captação e distribuição de órgãos em todo o Estado, por meio da Central Nacional de Captação de Doação de Órgãos (CNCDO).
Autor: Frederico Bussinger