Bolsista da Funed é premiado com estudo sobre tratamento de câncer

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O bolsista Bryan Ôrtero Perez Gonçalves foi premiado como melhor trabalho de iniciação científica, categoria genética humana, da 63ª reunião anual da Sociedade Brasileira de Genética. O evento aconteceu entre os dias 12 e 15 de setembro, em Águas de Lindóia (SP).

O projeto intitulado “Participation of non-coding RNA (ncRNA’s) in the Epithelial-Mesenchymal Transition mechanism (EMT) in cell lines of human tumors” (A participação de RNAs não codificadores no mecanismo de transição Epitélio Mesenquimal em linhagens celulares de tumores humanos, em tradução livre) estuda a atuação dos longos RNAs não codificadores no processo de transição de células epiteliais para mesenquimais em linhagens de tumores de ovário, câncer de mama e de câncer colo retal.

Entenda a pesquisa

Dentro da célula, entre outras composições, existe o DNA (ácido desoxirribonucleico) e o RNA (ácido ribonucleico). O primeiro contém as características hereditárias de cada um – cor dos olhos, cabelos, cor de pele, dentre outras – e o segundo irá traduzir estas informações para que elas se manifestem no organismo. 

Luciana Silva, orientadora do projeto e chefe do Serviço de Biologia Celular da Funed, explica que existem duas classes de RNA, os codificadores – que farão com que essas características genéticas se expressem, chamados de RNAs mensageiros – e os não codificadores – responsáveis pela regulação dos RNAs mensageiros. Eles vão gerir a comunicação célula a célula e a interação celular.

O aluno do 8º período do Curso de Ciências Biológicas estuda os RNAs longos não codificadores em um fenômeno que ocorre em muitos tipos de tumores, chamado Fenômeno de Transição Epitélio Mesenquimal (EMT).

Bryan esclarece que a maioria dos tumores surge em células epiteliais, células com alta capacidade de proliferação e que estão fortemente unidas umas com as outras. Para que o tumor possa atingir outros tecidos do corpo é necessário que essas células se separem, e adquira características invasivas no processo denominado de EMT. Os RNAs longos não codificadores atuam neste processo. Eles podem permitir que os genes do DNA que promovem a ligação entre as células sejam silenciados.

O projeto analisa a atuação do medicamento everolimo – sintético que inibe um complexo de proteínas chamada mTOR – na via EMT e em células de tumores, em especial o de câncer de mama triplo negativo.

“Este composto é utilizado para o tratamento de diversos cânceres inclusive o metastático. Só que eu encontrei o everolimo atuando no processo EMT de forma negativa. Ele foi encontrado induzindo este fenômeno. Como é que você utiliza um medicamento para o tratamento do câncer que ao mesmo tempo é encontrado induzindo o fenômeno que está relacionado ao processo de metástase? Isso é ruim”, elucida.

A pesquisa está em fase in vitro. “Pelo everolimo ter um papel importante na adesão célula a célula, desenvolvemos um ensaio de resistência celular. Neste ensaio, menos invasivo, pretendemos prever a agressividade do tumor”, explica Bryan. Nele é feito um cultivo das células do câncer e, segundo o estudante, nesse processo é possível prever se as células têm potencial de metástases, o que auxiliará no futuro o tratamento médico.

A próxima etapa da pesquisa é “avaliar genes relacionados ao controle da transição do epitélio para o mesenquimal”, afirma Luciana. “Faremos análise dos genes de interação célula a célula e transporemos a pesquisa para a amostras clínicas”, completa.

Bryan já recebeu diversos outros prêmios com este estudo, mas garante que a participação e a premiação no Congresso de Genética foi essencial para sua formação profissional. “Ganhei outros prêmios como o Carlos Ribeiro Diniz, no Curso de Verão e Biotecnologia, no Encontro de Pós-graduação de Patologia e no Congresso da UNA de meio ambiente… mas esse é o de maior visibilidade porque é um congresso internacional”, conta. “A participação foi muito boa, construí network e é uma experiência de muito aprendizado”, completa.

A doença

O tumor de Câncer de Mama Triplo Negativo, de acordo com Luciana, “representa em torno de 5% dos canceres de mama, sendo um subtipo mais agressivo. Ele é caracterizado pela ausência de expressão de receptores hormonais – progesterona, estrógeno e her2 – o que impossibilita o tratamento por hormônio terapia como uma droga Trastuzumab”. As pacientes têm, em média, uma sobrevida de cinco anos.

O Ministério da Saúde estimou que no biênio 2016/2017, serão registrados 57.960 novos casos de câncer de mama no país. Deste, 11.592, cerca de 20%, serão de triplos-negativos.

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca) o câncer de ovário é o tumor ginecológico mais difícil de ser diagnosticado e o de menor chance de cura. Cerca de 3/4 dos cânceres desse órgão apresentam-se em estágio avançado no momento do diagnóstico. A maioria dos tumores de ovário são carcinomas epiteliais (câncer que se inicia nas células da superfície do órgão), o mais comum, ou tumor maligno de células germinativas (que dão origem aos espermatozoides e aos ovócitos – chamados erroneamente de óvulos).

Câncer de colorretal, por sua vez, também segundo o Inca, abrange tumores que acometem um segmento do intestino grosso (o cólon) e o reto. É tratável e, na maioria dos casos, curável, ao ser detectado precocemente, quando ainda não se espalhou para outros órgãos.

 

Autor: Isabela Martins / Funed

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