Com 40.690 casos notificados entre janeiro de 2020 e 26/11 deste ano, Boletim Epidemiológico publicado neste mês pela Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Montes Claros está alertando os 54 municípios da sua área de atuação para o reforço da integração das ações de Vigilância Epidemiológica, Ambiental, de Saúde do Trabalhador com os serviços de Atenção Primária, visando conter o avanço dos acidentes com animais peçonhentos. Dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) apontam que, entre 2020 e novembro deste ano, 32 pessoas morreram vítimas de acidentes com animais peçonhentos, sendo que 90% dos casos foram relacionados a escorpiões.
“O predomínio expressivo do escorpionismo indica que o controle ambiental deve ser prioridade nos municípios, sobretudo nos de maior densidade populacional. A presença do Tityus serrulatus, espécie altamente adaptada a ambientes urbanos e que se reproduz de forma partenogenética (sem a presença do macho), favorece o aumento de populações mesmo em áreas com poucas fêmeas e ao longo de todo o ano”, alerta a enfermeira Amanda de Andrade Costa, referência técnica da Coordenação de Vigilância em Saúde da SRS Montes Claros.
Ainda de acordo com Amanda Costa, “a predominância de casos leves (88,6%) reforça o perfil epidemiológico típico do escorpionismo urbano. Entretanto, os casos moderados (7,4%) e graves (1,4%), embora menos frequentes, são os que concentram maior risco de óbito, geralmente associado a escorpionismo grave em crianças e acidentes ofídicos (com serpentes). Isso reforça a necessidade de vigilância clínica rigorosa, organização da rede assistencial e capacitação permanente de profissionais”.
Os 54 municípios da área de atruação da SRS têm casos notificados de acidentes com animais peçonhentos, porém sete localidades concentram 65% dos casos: Montes Claros (15.685); Bocaiúva (2.189); Salinas (2.150); Porteirinha (1.984); Jaíba (1.616); Coração de Jesus (1.366) e Janaúba (1.251).
“A concentração dos casos reflete fatores como porte populacional; estrutura urbana; presença de áreas com acúmulo de resíduos; redes de drenagem propícias ao escorpionismo; amplas zonas rurais e maior circulação de pessoas. Contudo, municípios pequenos também apresentam registros contínuos, mostrando que a vulnerabilidade é regional e não restrita aos municípios maiores”, observa Amanda Costa.
No Norte de Minas, os adultos em idade produtiva (20 a 49 anos) apresentam maiores frequências de envolvimento em acidentes com animais peçonhentos (40,8% dos casos). Entretanto, também há participação expressiva de crianças e adolescentes (26,6%), bem como de idosos (19,4%).
“A exposição dos adultos aos acidentes é compatível com atividades laborais e domésticas. Já o acometimento de crianças reflete riscos domiciliares, como presença de escorpiões em roupas, calçados e ambientes internos, além da curiosidade natural típica da idade. O envolvimento de crianças e idosos nos acidentes é preocupante, pois esses grupos apresentam maior risco de complicações e evolução desfavorável”, reforça o Boletim Epidemiológico.
Recomendações
“É de fundamental importância que os gestores de saúde e a população em geral redobre os cuidados, especialmente em relação às crianças e idosos, que constituem os grupos mais suscetíveis ao envenenamento sistêmico grave”, alerta a coordenadora de Vigilância em Saúde da SRS, Agna Soares da Silva Menezes.
Diante dessa situação a Regional recomenda aos municípios a adoção de várias medidas, entre elas o aprimoramento da qualidade dos dados das notificações registradas no Sinan; o monitoramento contínuo das tendências epidemiológicas, com análises mensais e identificação de áreas e períodos de maior risco para a ocorrência de acidentes; a realização de capacitações periódicas de profissionais de saúde; intensificação das ações de controle e manejo ambiental; ações educativas, de mobilização e de orientação preventiva envolvendo a população.
Soroterapia
Para agilizar o atendimento de pessoas vítimas de acidentes com animais peçonhentos, a SRS mantém 18 polos de soroterapia na região. A localização leva em consideração informações epidemiológicas e geográficas.
Em Montes Claros, o Hospital Universitário Clemente de Faria é o centro de referência para o atendimento de vítimas de acidentes com animais peçonhentos. Outras 17 unidades hospitalares de referência estão sediadas em Bocaiúva; Coração de Jesus; Espinosa; Grão Mogol; Francisco Sá; Jaíba; Janaúba; Mato Verde; Mirabela; Monte Azul; Montezuma; Ninheira; Porteirinha; Rio Pardo de Minas; São João do Paraíso; Salinas e Taiobeiras.
Por: Pedro Ricardo
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