Desde o início deste ano, o Hospital Alberto Cavalcanti (HAC), da Rede Fhemig, conta com um ambulatório especializado no tratamento das dermatoses inflamatórias autoimunes, com ênfase na psoríase. Para dar visibilidade ao novo serviço e ampliar o debate sobre esta doença que traz consigo, além das graves manifestações físicas e orgânicas, uma grande carga de sofrimento psicológico, o hospital promoveu na quarta-feira (28/05) o 1º Simpósio de Dermatologia e Reumatologia com a presença de especialistas e da sociedade civil.
A psoríase é uma doença inflamatória da pele, crônica, autoimune e não contagiosa que atinge cerca de 2% da população mundial e se manifesta na forma de lesões avermelhadas cobertas por placas que podem se instalar em qualquer parte do corpo, mas, principalmente, no couro cabeludo, joelhos, cotovelos e região lombar. Ela apresenta dois picos de incidência, um aos 20 anos e outro aos 50, mas aproximadamente 30% dos pacientes tiveram a primeira manifestação ainda na infância.
Portadores
Somente em Minas Gerais, cerca de 200 mil pessoas enfrentam o problema. Apesar do significativo avanço das formas de tratamento, principalmente nos casos mais graves, a doença causa um intenso sofrimento psicológico, decorrente do estigma e do preconceito a que estão sujeitas as pessoas acometidas.
Causas
Ainda hoje, as causas da psoríase não estão totalmente esclarecidas. No entanto, as pesquisas apontam para fatores desencadeantes que vão desde herança genética, estresse emocional, infecções, traumas físicos e psíquicos, alcoolismo e tabagismo, até efeitos adversos de determinadas categorias de medicamentos. De todo modo, o diagnóstico é feito através de exame clínico realizado por um dermatologista que tem papel fundamental para a identificação precoce da doença.
Doenças associadas
Um dos fatores que contribui para a piora do quadro de saúde dos portadores da psoríase é a dificuldade do seu diagnóstico na fase inicial, devido ao fato da doença ser comumente confundida com outras. Outro aspecto importante é que a gravidade da doença está associada ao aumento das comorbidades. Uma das principais enfermidades associadas à psoríase é a síndrome metabólica que se manifesta através da obesidade abdominal, hipertensão arterial, altos níveis de triglicérides no sangue, diminuição do HDL (colesterol bom) e intolerância à glicose.
Dentre as outras doenças que costumam se manifestar em pacientes com psoríase estão a depressão, o diabetes, distúrbios cardiovasculares e a artrite psoriásica, comum em 30% dos portadores da psoríase e que pode ser tão grave quanto a artrite reumatoide.
A médica dermatologista e coordenadora do Ambulatório de Dermatoses Inflamatórias Autoimunes do HAC, Ana Paula Bhering, ressalta que o tratamento adequado e a longo prazo da psoríase e de suas comorbidades, além de melhorar a qualidade vida dos pacientes, tem um impacto positivo para a redução da mortalidade dessa população.
Camuflando a doença
É bastante comum entre os portadores de psoríase a prática de diversas ações para tentar esconder as manifestações da doença, principalmente sobre a pele e o couro cabeludo. As tentativas de camuflar a doença vão desde o uso de roupas de mangas compridas e calças até a esquiva social. O preconceito a que estão sujeitos em seu dia a dia faz com que evitem contatos e situações sociais em que tenham que se expor. Muitos apresentam dificuldades de relacionamento e para conseguirem emprego.
De acordo com o presidente nacional da Associação de Pacientes com Psoríase do
Brasil (www.psoriase.org.br), o advogado José Célio Peixoto Silveira, os portadores precisam assumir que têm a doença. Silveira acredita que o preconceito começa com o auto preconceito. “É necessário buscar esclarecimento sobre a doença e adotar uma postura de auto estima e auto confiança”, recomenda.
A convivência com a psoríase nos primeiros anos não foi nada fácil para Silveira. Ele conta que os primeiro sintomas da psoríase se manifestaram aos 17 anos de idade. Durante os quase 40 anos de convívio com a enfermidade, ele aprendeu a superar os olhares pouco amistosos das pessoas quando ele saia em público com os braços e pernas cobertos por lesões. “Demorei seis meses para tomar coragem para ir às primeiras reuniões da Associação”, revela.
Ambulatório
Com capacidade para atender 60 pacientes por mês, o Ambulatório de Dermatoses Inflamatórias Autoimunes do HAC representa um grande investimento para que os tratamentos sejam iniciados mais rapidamente e, assim, prevenir as demais doenças associadas à psoríase. Os pacientes são encaminhados pelas Unidades Básicas de Saúde e o ambulatório funciona com o perfil de “portas abertas”.
Tratamento
Ana Paula Bhering esclarece que existem diversas formas de tratamento. A indicação da mais adequada vai depender da extensão do acometimento da pele e das articulações e da saúde geral do paciente. Assim, podem ser utilizados desde cremes e/ou pomadas de uso local até sessões de luz ultravioleta, imunossupressores e laser.
Além dessas opções mais convencionais, há medicamentos imunobiológicos, feitos de moléculas recombinantes que são indicados para os pacientes que não respondem bem aos tratamentos convencionais ou apresentam efeitos adversos.
Autor: Alexandra Marques / Fhemig