Na última quinta- feira (6/6), a Regional de Saúde de Governador Valadares realizou o II Workshop para o Controle da Hanseníase e Tuberculose da Macrorregião Leste. O evento ocorreu no auditório do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG) e contou com a participação de médicos, enfermeiros e farmacêuticos, referências para o tratamento da tuberculose e hanseníase na Atenção Primária à Saúde de 51 municípios da Regional. O objetivo foi discutir e aprimorar estratégias de combate às doenças, que ainda representam desafios significativos para a saúde pública.
O objetivo do workshop foi capacitar os profissionais de saúde para implementar ações preventivas eficazes contra a hanseníase e a tuberculose, que são duas doenças infecciosas graves. Segundo Charles Aguiar, coordenador do evento e referência técnica do Núcleo de Vigilância Epidemiológica da SRS Governador Valadares, a reunião visou fornecer subsídios para a busca ativa dermatoneurológica no controle da hanseníase e implementar estratégias para o tratamento preventivo da tuberculose em casos de infecção latente pelo Mycobacterium tuberculosis. A proposta central é interromper a cadeia de transmissão de ambas as doenças na região.
Durante o evento, os participantes foram divididos em dois minicursos. O primeiro, sobre a Infecção Latente por Tuberculose (ILTB), abordou a investigação, diagnóstico e implementação do tratamento preventivo da tuberculose, sendo ministrado por Charles Aguiar e Dra. Katiuscia Cardoso Rodrigues, médica sanitarista e referência técnica da Tuberculose da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Governador Valadares. O segundo minicurso teve como foco a busca ativa de sintomáticos dermatoneurológicos – procedimento essencial para o controle da hanseníase nos municípios – e foi ministrado por Fátima Aldred, referência técnica de Hanseníase da SRS Governador Valadares e pela Dra. Katiuscia Cardoso Rodrigues.
Para Carla Carvalho, enfermeira e gerente de atenção básica, o evento foi crucial para o aprimoramento em várias áreas, incluindo tratamento, medicação e interação entre os colegas. Ela menciona a importância do alinhamento de fluxos e critérios de tratamento, além da interação entre as referências “Esses aspectos são fundamentais para tornar a atenção básica mais objetiva e melhorar a qualidade dos dados epidemiológicos” Carla aponta que muitos problemas nos dados epidemiológicos são devidos a erros que podem ser corrigidos. Ela acredita que esses aprimoramentos, se incorporados como educação permanente, podem proporcionar uma melhora significativa no sistema de saúde, garantindo que o tratamento seja mais eficaz e que haja melhoria na gestão dos dados de saúde.
A ação envolveu áreas técnicas como Vigilância em Saúde, Epidemiologia, Atenção Primária à Saúde e Assistência Farmacêutica, reforçando um esforço integrado e colaborativo para abordar as doenças e reduzir a morbimortalidade por hanseníase e tuberculose na macrorregião de Saúde Leste. Com as orientações e informações compartilhadas, os profissionais de saúde presentes podem atuar como multiplicadores em suas comunidades, promovendo a saúde pública de qualidade e o bem-estar da população.
Philipe Escala, farmacêutico do município de Mantena, destacou a necessidade da realização de mais encontros como o workshop pela importância dessas capacitações para que as orientações e informações compartilhadas possam ser replicadas em seu território. Esse processo de capacitação e replicação fortalece o acompanhamento dos pacientes com Latente de Tuberculose (LTB) e Tuberculose (TB), contribuindo para um tratamento mais eficaz e um controle melhor da doença na comunidade.
Infecção latente pelo Mycobacterium tuberculosis (ILTB)
De acordo com o protocolo de vigilância da infecção latente pelo bacilo Mycobacterium tuberculosis no Brasil, elaborado pelo Ministério da Saúde (MS) no ano de 2022, a ILTB ocorre quando uma pessoa se encontra infectada, mas sem manifestação da doença ativa.
Em geral, as pessoas infectadas permanecem saudáveis por muitos anos, sem transmitir o bacilo, e com imunidade parcial à doença. Estima-se que um quarto da população mundial esteja infectada pelo Mycobacterium tuberculosis.
Isso, todavia, não significa que todos os infectados adoeceram com a forma ativa da tuberculose (TB) e sim que constituem reservatórios do bacilo que podem ser reativados sob condições de resposta imunológica alterada.
O maior risco de adoecimento se concentra nos primeiros dois anos após a primo-infecção, mas o período de latência pode se estender por muitos anos. Fatores relacionados à competência do sistema imunológico podem aumentar o risco de adoecimento por TB, e entre estes, destaca-se a infecção pelo HIV.
Outros fatores de risco são as doenças ou tratamentos imunossupressores, idade menor do que dois anos ou maior do que 60 anos, diabetes mellitus e desnutrição.
Situação da hanseníase na macro Leste
Na dinâmica da macrorregião de Saúde Leste de Minas Gerais, a hanseníase tem sido objeto de uma atenção cada vez mais refinada. Segundo o Boletim Epidemiológico de Hanseníase de 2024, os registros revelam uma mudança notável nos últimos anos: 108 novos casos em 2022 e 137 em 2023. A taxa de detecção, de 18 casos por 100.000 habitantes, sinaliza uma transmissão considerável da doença.
Embora a proporção de cura para novos diagnósticos tenha atingido 91%, mostrando uma resposta positiva ao tratamento, a taxa de abandono, que está em 5%, é um ponto de preocupação que exige atenção redobrada para assegurar a adesão e evitar a contínua propagação da doença.
Os esforços de saúde pública refletem-se nos exames de 75,5% dos contatos dos novos casos, uma medida crucial para conter a disseminação da hanseníase. Os dados, desagregados por sexo, raça/cor e faixa etária, exibem uma distribuição equilibrada entre homens (52%) e mulheres (47%), indicando uma ampla faixa etária afetada.
Quanto ao grau de incapacidade, os dados destacam a necessidade de um monitoramento contínuo para evitar sequelas permanentes.
No ano de 2023 houve o registro de quatro novos casos de hanseníase em menores de 15 anos, reforçando a importância da vigilância e do monitoramento em grupos vulneráveis para conter a transmissão e proteger a saúde dessas populações. A conquista é resultado do aprimoramento constante da capacitação dos profissionais envolvidos na identificação e contenção dessas situações, alcançadas por meio das ações de integração e informação.
Autor: Sarah Monteiro – estagiária sob supervisão / Fotos: Sarah Monteio