A Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Ponte Nova realizou um encontro, por meio de uma parceria com o Departamento de Medicina e Enfermagem (DEM) da Universidade Federal de Viçosa (UFV), para tratar da Segurança do Paciente na Pediatria. As palestras, voltadas aos residentes em Pediatria que atuam no Hospital São Sebastião, em Viçosa, tiveram como foco a prescrição, o armazenamento e a administração de medicamentos.
O evento, idealizado pela coordenadora do curso de Enfermagem, Andréia Guerra Siman, e pela preceptora do curso de Medicina, Dra. Denise Rodrigues, contou com a participação especial da referência técnica do Núcleo de Vigilância Sanitária (Nuvisa) da SRS e mestranda em Ciências da Saúde pela UFV, Edilaine Coelho Ferreira.
Edilaine iniciou sua fala com breve introdução sobre a temática e seu surgimento. Em seguida, instruiu sobre como os eventos adversos devem ser notificados pelas instituições e qual a importância dessas notificações para a melhoria da assistência prestada. Na sequência, apresentou dados relativos a eventos adversos ocorridos com crianças em serviços de saúde de Minas Gerais no período de janeiro a dezembro de 2021, que foram extraídos do último relatório da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio do Sistema Nacional de Notificações para a Vigilância Sanitária (Notivisa).Segundo o documento, de 36.200 incidentes notificados, 3.665 ocorreram em crianças.
No entanto, a técnica propôs uma reflexão: “A culpabilização do profissional de saúde ainda é predominante. Mas quando a instituição entende o que é um evento adverso, suas causas e consequências, torna-se mais fácil admitir que o erro é possível e pode estar presente no cuidado. Deve-se focar na identificação das causas e implementação de melhorias e não na busca por culpados”.
A representante da SRS prosseguiu explanando sobre as formas de minimizar a ocorrência de eventos adversos, o que inclui o envolvimento ativo do paciente no seu cuidado, a utilização de protocolos atualizados e acessíveis, a padronização de processos, o aperfeiçoamento dos profissionais e a educação permanente em saúde. Além disso, mencionou a adoção de formas mais práticas de organização das medicações nos postos de enfermagem e estratégias para melhor identificação de medicamentos de alta vigilância e com grafias e embalagens semelhantes.
Para tanto, citou a importância da instituição da dupla checagem no processo, sobretudo na prescrição escrita e verbal. “A utilização de caixa alta para chamar a atenção de nomes de medicamentos com grafias parecidas é uma estratégia simples e eficaz para evitar a ocorrência de incidentes com medicamentos. Como exemplo, temos a hidroxizina, que é um antialérgico, e a hidralazina, fármaco anti-hipertensivo e vasodilatador”, ilustrou. Edilaine Coelho concluiu sua apresentação com relatos de casos verídicos, devidamente notificados no Notivisa, com propostas de ações corretivas e preventivas, o que minimiza a chance de recorrência de incidentes.
Fármacos na Pediatria
Andréia Guerra Siman, por sua vez, ministrou a palestra “Fármacos na Pediatria: possíveis incidentes e agravos”. Conforme definição da Anvisa trazida pela coordenadora, é considerado erro de medicação qualquer evento evitável que, de fato ou potencialmente, possa interferir de forma inadequada no processo medicamentoso, podendo ou não provocar dano ao paciente. Segundo ela, o processo é complexo e envolve várias etapas. “Os erros podem ocorrer na prescrição, na dispensação, na administração e no monitoramento das reações”, enumerou.
Sobre o assunto, citou os incidentes mais comuns, como a administração do medicamento e da dose de forma errada, o que pode ser ocasionado pelo uso de colheres e outros recipientes inadequados para medição. “O paracetamol e formulações para gripes e resfriados são exemplos de medicamentos comumente envolvidos nesses erros e associados à ocorrência de danos mais graves”, acrescentou. Andréia finalizou apontando alguns fatores que podem aumentar os riscos de eventos adversos: “A escassez de estudos clínicos com medicamentos de uso pediátrico, a falta de formas farmacêuticas disponíveis em dosagens e concentrações adequadas para a administração e a necessidade de cálculo de doses individualizadas conforme idade, peso (mg/kg) e área de superfície corporal (mg/m2) certamente contribuem para sua ocorrência”.
Autor: Tarsis Murad