​Profissionais de saúde do Norte de Minas debatem sobre leishmaniose tegumentar

Crédito: Pedro Ricardo
A Superintendência Regional de Saúde ​(SRS) ​de Montes Claros realizou nesta terça-feira, 6​ de junho​, ​o ​Encontro de Atualização em Leishmaniose Tegumentar. Na parte da manhã​,​ o Encontro,​ ​realizado no auditório do Hospital Universitário Clemente de Faria, envolveu a participação de profissionais de 52 municípios​ que compõem a área de atuação da Regional​. Já na parte da tarde​,​ participaram do evento médicos que atuam nas equipes de Estratégia de Saúde da Família em Montes Claros, em hospitais e instituições de ensino superior.
 
A coordenadora do Núcleo de Vigilância Epidemiológica, Ambiental e de Saúde do Trabalhador da SRS de Montes Claros, Josianne Dias Gusmão​,​​ ​ressaltou a​ ​importância da realização do Encontro​,​​ ​lembrando aos médicos que o alinhamento de informações entre os profissionais de saúde,​ ​​no que diz respeito à identificação de casos da doença, notificação e acompanhamento do tratamento, ​​são fatores fundamentais ​para​ evitar a ocorrência de óbitos. A coordenadora observou ​ainda ​que a troca de informações e experiências entre os profissionais dos núcleos municipais de atenção primária à saúde​ e​ vigilância epidemiológica e ambiental se constituem fatores importantes no sentido de conter o avanço da leishmaniose tegumentar ​em​ regi​ões endêmica​s,​ como é o caso do Norte de Minas.
 
Dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde registrou, em 2016, a ocorrência de 119 notificações de leishmaniose tegumentar no Norte de Minas. Já entre janeiro e maio deste ano,​​ ​na região norte-mineira​,​​ ​foram notificados 36 casos da doença. “É preciso que os profissionais de saúde atualizem os conhecimentos quanto ao perfil epidemiológico do Norte de Minas a fim de que, por meio da atuação de equipes multiprofissionais de saúde​,​​ ​haja condições da população ser orientada a adotar as medidas preventivas necessárias para evitar a doença​”, ​observou​ ​Josianne Gusmão​. A ​coordenadora ressaltou ainda que o encaminhamento dos pacientes para tratamento deve ocorrer em tempo hábil para se evitar sequelas ou mesmo a ocorrência de óbitos.
 
Durante o encontro, a médica infectologista do Hospital Universitário Clemente de Faria, Cláudia Biscotto, apresentou o Manual de Vigilância da Leishmaniose Tegumentar 2017, elaborado pelo Ministério da Saúde. O objetivo é que o manual se constitua num instrumento de orientação da prática individual e coletiva, bem como para a sustentação dos processos de capacitação dos profissionais de saúde na busca do aperfeiçoamento das ações, visando o manejo adequado do paciente.
 
Cláudia Biscotto lembrou que a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera a leishmaniose tegumentar como uma das seis doenças infecciosas mais importantes do mundo, pelo fato de produzir deformidades nos pacientes que não são tratados da forma adequada e em tempo hábil. A médica observou ainda que, nos últimos dez anos, foram notificados 26 mil casos de leishmaniose tegumentar no Brasil, doença essa que está associada a regiões onde ocorre grandes intervenções no meio ambiente. 
 
Ainda durante o encontro, foram abordadas questões relativas aos procedimentos que devem ser adotados pelos profissionais de saúde para as notificações de casos de leishmaniose; o fluxo de assistência ao paciente e as medidas que devem ser adotadas visando a liberação de medicamentos para tratamento por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).
 
A DOENÇA
 
As leishmanioses são antropozoonoses consideradas um grande problema de saúde pública e representam um complexo de doenças com importante espectro clínico e diversidade epidemiológica. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 350 milhões de pessoas estejam expostas ao risco, com registro anual aproximado de dois milhões de novos casos das diferentes formas clínicas.
 
Nas últimas décadas, as análises epidemiológicas da leishmaniose tegumentar têm sugerido mudanças no padrão de transmissão da doença, inicialmente considerada zoonose de animais silvestres, que acometia ocasionalmente pessoas em contato com as florestas. Posteriormente, a doença começou a ocorrer em zonas rurais, já praticamente desmatadas e em regiões periurbanas.
 
No Brasil, a leishmaniose tegumentar é uma das afecções dermatológicas que merece mais atenção devido à sua magnitude, assim como pelo risco de ocorrência de deformidades que pode produzir no ser humano e, também, pelo envolvimento psicológico com reflexos no campo social e econômico.
 
A leishmaniose tegumentar ocorre em ambos os sexos e em todas as faixas etárias. Entretanto, na média do país predominam os casos em pessoas maiores de 10 anos (92,5% do total de casos) e do sexo masculino (74% no ano de 2014). Os vetores da leishmaniose são insetos denominados flebotomíneos, conhecidos popularmente, dependendo da localização geográfica, como mosquito-palha, tatuquira, birigui, entre outros.
 
O modo de transmissão da leishmaniose é por meio da picada de insetos infectados. Não há transmissão de pessoa a pessoa. O período de incubação da doença no ser humano é, em média, de dois a três meses, podendo variar de duas semanas a dois anos.
 
A leishmaniose tegumentar é uma doença de notificação compulsória, em que todo caso confirmado deve ser notificado e investigado pelos serviços de saúde, por meio da ficha de investigação padronizada pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). O registro da doença é importante para o conhecimento, a investigação, bem como para a classificação epidemiológica (caso autóctone ou importado) e seus acompanhamentos.
 
O critério de cura da doença é clínico, sendo indicado o acompanhamento regular por 12 meses para verificação da resposta terapêutica e também para a detecção de possível recidiva após terapia inicial bem-sucedida. Entretanto, para fins de encerramento do caso no Sinan, não é necessário aguardar o término do acompanhamento.

Autor: Pedro Ricardo

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