Entre os dias 24 e 28/3 o Centro Colaborador de Entomologia do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG) realizou em Salinas capacitação para identificação de dípteros da família Ceratopogonidae, com foco no gênero Culicoides, mosquitos conhecidos popularmente como maruins ou “polvrinha”. Insetos desse gênero transmitem o vírus Oropouche.
O Oropouche compõe a lista de doenças de notificação compulsória, classificada entre as doenças de notificação imediata, em função do potencial epidêmico e da alta capacidade de mutação, podendo se tornar uma ameaça à saúde pública. Os sintomas mais comuns são febre, dor de cabeça e dores musculares. Porém, tontura, dor atrás dos olhos, calafrios, fotofobia (intolerância à luz), náuseas e vômitos também podem aparecer. Os sintomas duram de dois a sete dias e são semelhantes aos de outras arboviroses, como a dengue.
A capacitação contou com a participação de estudantes do curso de biologia do IFNMG; profissionais ligados à vigilância entomológica da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Salinas; referências técnicas do nível central da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) e da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Montes Claros, que foi representada pela bióloga, Patrícia Brito e Ildeni Meireles.

O professor do IFNMG, Filipe Vieira Santos de Abreu, avaliou que “a iniciativa, além de contribuir para o fortalecimento da vigilância entomológica no estado, também beneficia os estudantes da instituição, oferecendo formação prática na identificação de insetos”. A capacitação faz parte de um projeto de mestrado que investiga a fauna de maruins em Minas Gerais, desenvolvido pelo IFNMG com o apoio da SES-MG e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
As atividades teóricas e práticas foram conduzidas pela professora Maria da Conceição Bandeira, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Entre outros temas a capacitação abordou a biologia, ecologia e a identificação taxonômica dos maruins, incluindo técnicas laboratoriais e de campo para coleta, processamento e diagnóstico de vetores, além de estratégias de controle e monitoramento epidemiológico.
Entre as atividades práticas os participantes executaram técnicas de captura de mosquitos em campo, com o uso de armadilhas luminosas e aspiradores entomológicos; identificação das principais espécies vetoriais; uso de chaves dicotômicas e microscopia para taxonomia de maruins; dessecação de maruins e montagem de lâminas.
A bióloga Patrícia Brito avalia que a realização do curso foi muito esclarecedora e será possível orientar os municípios para o reforço das atividades de vigilância entomológica propiciando estimar os riscos e definir medidas de prevenção da doença e controle do vetor.
Centro Colaborador
A coordenadora de Vigilância em Saúde da SRS Montes Claros, Agna Soares da Silva Menezes, explica que o Centro Colaborador do Instituto Federal do Norte de Minas entrou em operação em abril de 2024 e integra a rede de apoio instituída pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais para a descentralização de análises laboratoriais no estado. A iniciativa foi viabilizada por meio da Resolução 7.797, publicada em outubro de 2021. Para viabilizar a descentralização da vigilância laboratorial a SES-MG disponibilizou R$ 52,3 milhões para as instituições sediadas no Estado.
Os Centros são unidades especializadas e estão inseridos em secretarias municipais de saúde; universidades estaduais ou federais; centros de pesquisa ou em entidades filantrópicas. Devem apresentar instalações físicas, equipamentos, protocolos técnicos e profissionais aptos para desenvolver atividades relacionadas à vigilância laboratorial em amostras biológicas.
Na área de atuação da SRS Montes Claros, o IFNMG já realiza o controle de qualidade da identificação de larvas/pupas coletadas nos levantamentos de índice do Aedes Aegypti, identificação e exame parasitológico de triatomíneos e identificação de flebotomíneos.
Além do IFNMG está credenciado como Centro Colaborador o laboratório da Secretaria Municipal de Saúde de Montes Claros que atende as análises referentes aos agravos elencados pela Resolução SES-MG 8.441, publicada no dia 9 de novembro de 2022, e o Laboratório de Análises de Águas que deverá assumir as análises dos parâmetros básicos de amostras para consumo humano.
Pedro Ricardo / Fotos: IFNMG