A Escola de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais (ESP-MG), por meio do Núcleo de Redes de Atenção à Saúde (NRAS), realizou aula ampliada da Especialização em Atenção a Usuários de Drogas no SUS, com a presença do professor Luciano Fonseca Elia, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
Com o tema “Alucinados, meninos ficando azuis e desencarnando lá no Brejo da Cruz”, alunos da Escola, trabalhadores da saúde mental e convidados refletiram sobre os retrocessos nas políticas públicas, o olhar punitivo da sociedade em relação aos jovens usuários de droga, os cuidados na atenção psicossocial, além de fazer um clamor pelo retorno da Democracia no Brasil.
A aula foi iniciada com a reprodução do clipe da música Brejo da Cruz, de Chico Buarque, sendo analisada sobre diversos aspectos e com constantes analogias com as crianças e jovens usuários de drogas. “Trata-se de um olhar crítico para a complexidade da problemática dos meninos que usam drogas. Não vamos ter o olhar compreensivo, é muito mais elaborado que isso temos que criticar a simplificação dessa questão”, diz.
O professor teceu duras críticas a inserção das Comunidades Terapêuticas como pontos de atenção da rede assistencial, dispositivos estes que segregam e separam os internos dos vínculos sociais, indo na direção contrária dos preceitos da Reforma Psiquiátrica. Aponta o equívoco de reprimir, recolher compulsoriamente esses jovens para o encarceramento em internações supostamente terapêuticas, desintoxicações coercitivas de pretensas dependências químicas que jamais seriam comprovadas por critérios sérios e rigorosos, do ponto de vista científico.
Impressões
Para Sônia Angélica dos Santos, psicóloga no Centro de Referência em Saúde Mental Infanto-juvenil (CERSAMi), de Belo Horizonte e aluna da ESP-MG, a aula abordou a desconstrução de alguns conceitos e pré-conceitos que existem em relação aos jovens usuários de drogas. “São crianças e adolescentes de baixa renda com um percurso de marginalização. O que me chamou atenção foi de que o problema não e é a droga. Esses meninos têm problema é com a vida mesmo, da questão da dependência (de tudo). Não são dependentes de uma química, são dependentes de muitos problemas na vida”, destacou.
Já a psicóloga do CAPS 1, de Lagoa da Prata, Eliana Maria Delfino, destacou a oportunidade de estar na atividade da ESP-MG. “Em meu cotidiano, atuo com pessoas que abusam de álcool e outras drogas e por isso meu interesse. A apresentação do professor Luciano foi muito provocativa no sentido de nos ajudar a refletir sobre nossa atuação no campo da Saúde Mental, da Atenção Psicossocial. Esse conceito é muito amplo e que nos faz repensar nosso trabalho dentro dos CAPS, “afirmou.
Caminho
Luciano Fonseca Elia conclui sua aula dizendo que não tem dúvida de que o caminho para o bom enfrentamento do problema do uso abusivo de drogas em geral, mas em particular na infância e na adolescência, é a via da Atenção Psicossocial. Mas com o cenário político e o sanitarismo tecnicista é sempre mais difícil.
A rede psicossocial precisa antes de mais nada criar dispositivos de acolhimento de jovens e crianças em uso abusivo de drogas, e isso implica o movimento de ir para a rua. Não se trata exatamente de propor mais e mais CAPS-AD, que precisariam ser completamente reestruturados em sua proposta, sobretudo quando voltados para o segmento infanto-juvenil. É preciso criar dispositivos de abordagem, acolhimento e intervenção na rua”, concluiu.
A atividade contou também com a presença de profissionais da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), de diversos municípios mineiros, trabalhadores dos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS), dos Consultórios de Rua, Equipes de Saúde da Família.
Autor: Ricarda Caiafa