UTI Pediátrica do Hospital João XXIII completa 30 anos

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Pioneira nos cuidados intensivos de crianças e adolescentes vítimas de causas externas, a Unidade de Terapia Intensiva  Pediátrica-UTI Pediátrica dos Hospital João XXIII completa 30 anos em 12 de agosto. A unidade que tem  11 leitos e recebe cerca de 250 pacientes por ano,  apresenta índice de mortalidade em pacientes com traumatismo crânio-encefálico grave abaixo de 10% e de mortalidade geral em torno de 5%, resultados equivalentes aos das melhores unidades de países desenvolvidos. Com relação a infecções, apresenta índices abaixo dos esperados naqueles países.

Segundo o gerente Assistencial do HJXXIII, o pediatra intensivista Sérgio Diniz Guerra, os recursos disponíveis equiparam-se aos de UTIs pediátricas de grandes centros de países desenvolvidos, com equipamentos de monitoração e terapêutica neurológica, respiratória, cardiovascular, renal e ortopédica, incluindo hemodiálise e ultrassonografia à beira do leito. “Mesmo com todos estes recursos, o maior patrimônio é a equipe, que soube evoluir e renovar-se durante três décadas. Hoje, mesclando profissionais jovens e experientes, o grupo valoriza muito a avaliação clínica, o diálogo e o aprendizado contínuo, direcionando o tratamento às necessidades de cada indivíduo e família”, ressaltou Sérgio que é referência técnica da UTI Pediátrica.

A equipe multidisciplinar contabiliza mais de cem trabalhos publicados em Congressos ou Periódicos Científicos, além de livros e capítulos sobre terapia intensiva e causas externas. Foram ainda cinco dissertações de mestrado e uma tese de doutorado defendidas na UFMG por profissionais do setor a partir de investigações  realizadas na unidade. Todas aprovadas pelo Comitê de Ética em Pesquisas da Fhemig e da UFMG.

Participação da família

São internado na UTI, predominantemente, pacientes vítimas de causas externas (acidentes de trânsito, agressões, quedas, queimaduras, intoxicações, acidentes com animais peçonhentos),  mas recebe também casos clínicos, como broquiolite, asma, pneumonia, sepse, entre outros.

A equipe é composta por médicos, enfermeiros e técnicos e auxiliares de enfermagem, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas, pessoal de limpeza e secretárias, serviço de apoio (setor  de imagem, laboratório, nutrição e dietética, agência transfusional).

Há mais de 18 anos as famílias acompanham a internação em tempo parcial ou integral, dependendo das condições individuais. Presenciam, inclusive, procedimentos e discussões clínicas com o objetivo de se manter transparência de condutas e estreitar vínculos de confiança. Além disso, há momento diário de conversa reservada  entre médico, psicólogo e familiares. Essas atitudes fazem com que os pais ou responsáveis contribuam muito para a recuperação dos pacientes e para o bom ambiente da Unidade.

A unidade mantém há 20 anos o Programa em Terapia Intensiva Pediátrica junto com o Hospital Infantil João Paulo II, recebendo ainda residentes de vários serviços de Minas Gerais, da Santa Casa de Misericórdia de Belém do Pará e do Hospital Pequeno Príncipe de Curitiba, uma das melhores instituições pediátricas do país.

A equipe exerce também importante papel no acolhimento de famílias de pacientes com suspeita de morte encefálica. E, uma vez feito criteriosamente o diagnóstico, trabalha para identificar e respeitar o desejo da família em relação à doação de órgãos e tecidos.

Visita para irmãozinho

A equipe incentiva a visita de irmãos a partir de três anos para crianças internadas, desde que eles manifestem o desejo para os pais. A criança visitante é preparada previamente e acompanhada por psicólogo e pediatra, em horário agendado exclusivamente para ela. Os resultados têm surpreendido positivamente com benefícios para toda a família.

Formação de profissionais

Muitos dos residentes  formados na UTI Pediátrica  exercem hoje cargos de liderança em importantes instituições, como, por exemplo, a direção do Hospital Infantil João Paulo II,  do Hospital João XXIII e da Clínica Pediátrica do Hospital da Unimed.

A diretora geral do Hospital João XXIII, Tatiane Miranda, foi residente da UTI pediátrica em 2002. “Fiquei dois meses, tempo suficiente para estabelecer vínculo grande com a unidade”,  disse, acrescentando que já trabalhou em diversos setores do HPS.  Todos muito interessantes, mas em especial a UTI, local de grande aprendizado técnico e humano. As pessoas somam ações e conhecimento, ressaltou, destacando o empenho e a dedicação da equipe.

“Fico feliz pelo que a UTI Pediátrica representa para o hospital e para a população. O acolhimento da família do paciente, o trabalho em equipe.  Merece o reconhecimento pela direção do hospital, população que lá foi atendida por todo o trabalho que é feito com qualidade, dedicação, seriedade, um trabalho humanizado”, disse Tatiane Miranda que antes de assumir a direção da unidade foi gerente Assistencial e trabalha no hospital desde 2001.

O começo

Segundo Sérgio Diniz Guerra, tudo começou  com um grupo de abnegados que, a despeito da escassez de recursos, prestava cuidados intensivos de qualidade, valendo-se de empenho e criatividade. A UTI, que já funcionou em diversos andares do HPS começou com 2 leitos e 7 médicos. Hoje são14.

A médica  Cenira Vânia de Paula faz parte da primeira equipe de pediatras da UTI.. Éramos 7 pediatras:  Eliane de Souza, Heloisa Soriano, Lucia Helena Lisboa, Lúcia de Fátima Amorim, Gilsana Porto e Ênio Pedrosa”. Ela conta que nenhum dos profissionais tinha experiência de UTI pediátrica e Belo Horizonte dispunha apenas de duas unidades, uma na  Santa Casa e outra no Hospital das Clínicas. “Tentamos conseguir estágios, aprender com outros colegas e  estudamos por conta própria. Não tinha como ter férias, pois não havia ninguém para substituir. Graças a Deus as coisas evoluíram bem.

Cenira faz questão de destacar o empenho dos técnicos de enfermagem. Contamos com a ajuda dos clínicos, técnicos de enfermagem. Muita doação de todos para que tudo desse certo. Muita luta e muito empenho. Muita construção de boa vontade, empenho de passar por cima de muitas coisas. O CTI naquela época tinha poucos recursos, tanto de infraestrutura quanto de equipamentos. Para de trabalhar não está nos planos de Cenira. “A minha vontade é de continuar enquanto der”                 

Discriminação do profissional

A pediatra Eliane de Souza, que começou a trabalhar na UTI na década de 80, lembra as dificuldades enfrentadas no início, a discriminação do profissional pediatra. “Batalhamos  muito para mudar a cultura de pensamento, mostrando que o trauma (acidentes, intoxicações, queimaduras) já  se mostrava naquela época um fator importante de morbimortalidade na infância e adolescência. Eliane começou como acadêmica no antigo CGP, hoje Hospital Infantil João Paulo II. Fez residência de 79 a 81 e em 84 começou a trabalhar como profissional. Atualmente é coordenadora da Pediatria do hospital.

Segundo Eliane, o João XXIII é um hospital de excelência em trauma. Todos os profissionais são dedicados, comprometidos com a assistência aos pacientes. “O pediatra,  por sua vez,  tem que ter um olhar a mais. “Faz parte da formação do pediatra ter  uma sensibilidade maior em relação aos cuidados com o paciente . Essa sensibilidade é um requisito para fazer pediatria”, disse Eliane, lembrando que uma criança sadia que subitamente fica com sequelas terá repercussões muito graves se não for bem acolhida.

Paciente e família acolhidos

A assistente social Claudia Maria Silva de Carvalho trabalha no Hospital João XXIII desde 1986. Começou no setor  de queimados. Em 1987, passou a trabalhar no ambulatório e depois na Pediatria. “Dou  prosseguimento aos casos que estão na UTI. Pego a criança desde que entra na unidade  até a alta hospitalar”, disse Cláudia que destaca a importância de acompanhar a criança e a família.

Ela acha importante acompanhar a criança e a família, que  “chega ansiosa e muito sofrida”. Segundo Claudia, quando a família se sente acolhida ela se sente protegida. Sente que é importante, que o filho é importante, que a equipe está preocupada com ele. Mesmo que venha a falecer a família sabe: eles fizeram tudo por ele. É toda uma equipe envolvida com a família, passando toda a sua experiência de outros casos

União e boa vontade

A técnica de enfermagem Maria das Graças Pereira  trabalha na UTI Pediátrica desde o primeiro dia de funcionamento. “No início era tudo muito difícil. Não tínhamos os equipamentos  necessários”, comentou, acrescentando que tudo foi superado pela união e boa vontade dos profissionais (técnicos de enfermagem e pediatras) que trabalhavam no setor na época.

Maria das Graças que vai aposentar no ano que vem e disse que gosta muito do que faz. “Sempre procurei fazer o melhor”. Para ela, é uma vitória ver as crianças melhorando. “A gente salva mais do que perde e isso se deve a experiência e dedicação dos profissionais”, disse deixando uma mensagem para todos os colegas: “Que os que se aposentaram que continuem sendo felizes como foram. E os que estão em serviço que continuem sendo os bons profissionais que são e procurem melhorar cada vez mais, porque as crianças merecem.”

Entrevista personagem

A operadora de caixa Cleide Oliveira Mediana, 29 anos, é tia de G.D.O., 5 anos, que no dia 4 de junho sofreu um acidente de carro, quando perdeu a mãe, o avô e  o padastro.  Sobreviveram G e o tio  E.D.S.,  17 anos. O menino permaneceu internado na UTI por quase um mês e Cleide, que é tia por parte de pai, ficava ao lado do sobrinho durante todo o dia. Chegava de manhã e ia embora a noite

G. e E. ficaram internado na  UTI Pediátrica, um ao lado do outro, não por coincidência, mas por iniciativa da equipe para beneficiar os familiares na visita e também para ajudar na recuperação dos dois. “Tomei um susto  quando vi um ao lado do outro. A equipe pensou o quanto isto poderia facilitar para os familiares nas visitas e também nos dois quando não tem nenhum de nos perto”, comentou Celide.

Na opinião de Cleide o trabalho dos profissionais é excelente. “Aqui eu me sinto acolhida, que estou próxima a pessoas que me querem bem e ao meu sobrinho. Tudo aqui é excelente, os profissionais, a atenção na hora de dar a notícia, a preocupação com os familiares. Aqui só não tem jeito quando o senhor fala: acabou, vou levar comigo.  Que Deus abençoe todos muito”.  G.D.O. teve alta hospitalar em julho.

Autor: Samira Ziade

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