A febre oropouche é uma doença viral transmitida por um inseto, popularmente conhecido como “Maruim” ou “mosquito pólvora”, da espécie Culicoides paraensis (Goeldi), pertencente à família Ceratopogonidae.Como os sintomas da enfermidade se manifestam com dor de cabeça intensa, dor muscular, náusea e diarreia, que podem ser confundidos com o quadro clínico de outras doenças febris, especialmente as arboviroses como: dengue, chikungunya e Zika, exames são indispensáveis para o diagnóstico.
A Fundação Ezequiel Dias (Funed), por meio do Laboratório Central de Saúde Pública de Minas Gerais (Lacen-MG), é responsável pela análise laboratorial que detecta a doença. Em Minas Gerais, os primeiros casos da enfermidade foram confirmados em maio de 2024, a partir de casos negativos para dengue, chikungunya e Zika. Já no primeiro semestre de 2024, foram confirmados 191 casos no estado, sendo a maioria deles concentrada na região do Vale do Aço (Unidade Regional de Saúde de Coronel Fabriciano). Em dezembro de 2024, novos casos foram confirmados na Unidade Regional de Saúde de Juiz de Fora.
Com a disseminação da doença para outras regiões além do norte do país,o Ministério da Saúde (MS) divulgou uma nota técnica estabelecendo o fluxo de testagem dos casos suspeitos.Geralmente, as amostras dos pacientes que têm até cinco dias entre a data de início dos sintomas e data de coleta são submetidas ao diagnóstico molecular,aquelas com mais de cinco dias entre a coleta e o início de sintomas, são testadas por métodos sorológicos. Nesse caso, de acordo com a referência Técnica do Laboratório de Arbovírus, do Serviço de Virologia e Riquetsioses da Funed, Myrian Morato Duarte, pesquisa-se a presença de anticorpos no sangue do paciente, produzidos contra o vírus causador da febre Oropouche.
Segundo Myrian, as amostras com critério para o diagnóstico molecular são encaminhadas para o Laboratório de Biologia Molecular do SVR e são testadas utilizando um kit específico fornecido pelo MS para detectar a presença de material genético do vírus Orthobunyavirus oropoucheense (OROV) por ser uma técnica com alta sensibilidade e especificidade, permite diferenciar a infecção por OROV das demais arboviroses, tais como dengue, Zika ou chikungunya. “As amostras são submetidas ao diagnóstico molecular por meio da técnica do RT-qPCR,que consiste na amplificação de uma região específica do RNA do vírus oropouche”, observa.
A analista do Laboratório de Sequenciamento da Funed,Talita Adelino,explica que a partir das amostras positivas no diagnóstico molecular,os profissionais realizam uma triagem para seleção das amostras que serão submetidas ao sequenciamento genético. Nessa etapa, são utilizados uma série de primeres, pequenas sequências de nucleotídeos que servem como iniciadores da amplificação do material genético do vírus que permite a caracterização genética do vírus oropouche. “No final desse processo, obtemos a sequência do material genético que compõe o vírus”, complementa.
Após o sequenciamento genético, os profissionais elaboram um relatório informativo,que é enviado para a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) e ao Ministério da Saúde.Esse relatório é essencial para a compreensão das características genéticas do vírus, além de fornecer informações estratégicas para a formulação de políticas públicas e para a adoção de medidas de contenção da doença no estado. De acordo com a coordenadora da Divisão de Epidemiologia e Controle de Doenças da Funed, Josiane Barbosa Piedade Moura, geralmente a liberação do diagnóstico da febre oropouche leva em torno de duas semanas, mas isso pode variar em função da capacidade de atendimento e de pessoal da Fundação.
Ciclo de vida do inseto
O Serviço de Doenças Parasitárias da Funed também desempenha um papel crucial na vigilância em saúde, por meio do Laboratório de Entomologia, que estuda insetos transmissores de doenças para os seres humanos. De acordo com a referência Técnica do Laboratório, Ana Lúcia do Amaral Pedroso, o ciclo de vida do Culicoides inclui ovo, quatro estágios larvais, pupa e a fase adulta, o que leva cerca de 30 a 40 dias para se completar. “Os ambientes propícios para o desenvolvimento dos insetos imaturos necessitam de umidade e matéria orgânica abundante. Diferentemente do Aedes aegypti, que se desenvolvem em água parada. Assim, áreas de mangue, beira de riachos e rios, igarapés, casca de frutas em decomposição, folhiço, fezes de animais, buracos de caranguejo, regiões de plantação de banana e cacau, entre outros, são considerados bons criadouros do vetor”, comenta.
Investigação de circulação da Oropouche em:Timóteo,Coronel Fabriciano e Joanésia (foto anexa)
Ainda de acordo com a pesquisadora, a principal orientação para a prevenção é evitar a permanência em áreas com maior infestação do vetor, especialmente durante o período de maior atividade, que costuma ocorrer no final da tarde. Em ambientes onde há presença do inseto, por exemplo, é recomendável o uso de vestimentas que ofereçam barreira física, como camisas de mangas longas, calças compridas e calçados fechados.
Quando for inevitável o ingresso em áreas infestadas, indica-se como medida complementar a aplicação de óleo corporal sobre as regiões do corpo desprotegidas. “O óleo atua, unicamente, como uma barreira física, não possuindo ação repelente ou inseticida. É fundamental aplicar o produto em quantidade suficiente para garantir a cobertura adequada e evitar a utilização de óleos de cozinha ou formulações caseiras que podem desencadear reações alérgicas”, adverte.Ainda de acordo com a pesquisadora, os repelentes utilizados como medida preventiva contra o Aedes não têm comprovação científica para afastar o Maruim, já que trata de insetos de uma família diferente.
Além disso, em situações de infestação próxima à residência, mantenha portas e janelas fechadas durante o horário de maior atividade vetorial, que é no final da tarde. Também é aconselhável instalar telas de malha fina, como o tecido do tipo voil, que proporcionam proteção mais eficaz contra a entrada de insetos.
Vigilância em saúde no estado
O Governo de Minas Gerais, por meio da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) registrou 1.746 casos de febre oropoucheno estado nos entre 2024 e 2025. O órgão informa que desde a identificação dos primeiros casos, diversas medidas vêm sendo adotadas para intensificar a vigilância, o monitoramento e o enfrentamento da doença no estado, dentre elas:
• Implementação da vigilância sentinela para detecção de casos;
• Monitoramento contínuo dos casos suspeitos notificados no sistema e-SUS Sinan; fortalecimento da vigilância, com foco na investigação dos casos confirmados e na capacitação das equipes dos municípios e das URS. Realização de visitas técnicas aos municípios com registro de casos, para apoio nas ações de vigilância e controle;
• Capacitação permanente dos profissionais de saúde, tanto na rede municipal quanto na estadual, para manejo adequado dos casos e aprimoramento da notificação;
• Investigação criteriosa de todos os casos confirmados, visando mapear possíveis focos de transmissão e orientar medidas de contenção;
• Monitoramento específico de gestantes e puérperas, por serem público prioritário nas ações de vigilância;
• Emissão de alertas e informes epidemiológicos periódicos, com atualização dos dados e recomendações técnicas;
• Participação em reuniões técnicas com o Ministério da Saúde e com outros estados, para alinhamento de estratégias e compartilhamento de experiências;
• Promoção de reuniões periódicas com as Unidades Regionais de Saúde para análise do cenário epidemiológico e definição conjunta de ações;
• Discussão e definição de estratégias específicas para o monitoramento e acompanhamento dos casos confirmados.
Por Janaína Santos/Funed