Embora o Brasil ocupe o segundo lugar no mundo com o maior número de casos notificados de hanseníase, entre os 54 municípios que compõem a área de atuação da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Montes Claros o diagnóstico da doença está sendo acelerado e, com isso, possibilitando a redução do número de pessoas incapacitadas fisicamente. Os dados foram revelados nesta terça-feira, 30, durante encontro promovido pelas coordenadorias de Vigilância Epidemiológica e de Saúde da SRS Montes Claros, com a participação da doutoranda em medicina tropical pela Universidade de Brasília (UNB), Karine Suene Mendes. Ela é referência técnica do Serviço Ambulatorial Especializado (SAE) Ampliado de Montes Claros.

No encontro realizado durante o Janeiro Roxo, voltado para a conscientização da população sobre a importância da prevenção e tratamento da hanseníase, a coordenadora de Vigilância em Saúde e do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs) da SRS Montes Claros, Agna Soares da Silva Menezes, destacou a importância da atualização dos profissionais quanto ao diagnóstico precoce, acompanhamento e tratamento de pessoas detectadas com a doença. 

30.01.2024-Montes-Claros-hanseníase

“Precisamos sensibilizar a população, pois em relação à hanseníase, apesar de ser uma doença que tem cura, a falta do diagnóstico precoce, de acompanhamento e tratamento dos pacientes e das pessoas com as quais tem contato, inviabiliza a redução das taxas de transmissão”, alertou a coordenadora.

Por sua vez, a referência técnica em hanseníase na SRS Montes Claros, Siderllany Aparecida Vieira Mendes, observou que “o fortalecimento da rede de saúde voltada para o enfrentamento da hanseníase, nos níveis estadual e nos municípios, é fundamental para reduzir o impacto que a doença ainda causa na sociedade, nas famílias e, principalmente, na vida particular, social e profissional das pessoas diagnosticadas com o agravo. A hanseníase tem cura, mas o enfrentamento a partir do trabalho dos profissionais de saúde é importante para que, efetivamente, seja viabilizada a quebra da cadeia de transmissão”, pontuou a referência técnica.

Ao apresentar os aspectos clínicos de diagnóstico, acompanhamento e tratamento de pessoas diagnosticadas com hanseníase, bem como seus contatos próximos, Karine Mendes observou que “a doença ainda é uma das mais negligenciadas. Tanto é que, em 2021, foram notificados 140.594 novos casos da doença no mundo, ficando o Brasil com taxa de 10,2% das notificações. Já em Minas Gerais, em 2023, foram notificados 1.471 novos casos da doença que acomete principalmente homens e a população socialmente mais vulnerável e com ensino fundamental incompleto”.

Para conter a circulação do bacilo transmissor da hanseníase, Karine Mendes entende que, além da capacitação dos profissionais de saúde é necessário que haja a descentralização dos serviços de saúde para a detecção da doença de forma precoce. 

A referência técnica do Serviço Ambulatorial Especializado (SAE) Ampliado observa “a necessidade dos municípios investirem em atividades de educação em saúde da população, bem como na integralidade do cuidado das pessoas diagnosticadas com hanseníase”.  Karine Mendes explicou que isso inclui, além do diagnóstico precoce, tratamento adequado dos casos; identificação de pessoas em risco de contrair a doença devido à vulnerabilidade social; a realização de testes rápidos para viabilizar as ações de prevenção de incapacidades físicas; o monitoramento das pessoas de contato dos pacientes; a promoção da inclusão social, familiar, profissional e educacional.

 

Indicadores

De acordo com dados do SAE Ampliado, em 2022, foram diagnosticados 160 casos de hanseníase em Montes Claros, número este que, no ano passado, chegou a 175 casos. Já em 54 municípios que integram a área de atuação da Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros foram detectados 196 casos de hanseníase em 2022 e, no ano passado, 218.

Em crianças e adolescentes menores de 15 anos, em 2022, foram diagnosticados sete casos em Montes Claros e nove nos municípios da área de atuação da regional. Já em 2023, em Montes Claros, foram notificados 13 casos de hanseníase em pacientes menores de 15 anos. Outros nove casos foram detectados nos demais municípios da área de jurisdição da SRS.

Ainda de acordo com dados apresentados por Karine Mendes, entre 2022 e o ano passado, o Norte de Minas obteve bons resultados na melhoria dos indicadores de incapacidade física de pessoas diagnosticadas com hanseníase. Em 2022, a taxa ficou em 9,4% em Montes Claros, percentual este que no ano passado caiu para 2,9%. Nos demais municípios integrantes da área de atuação da SRS Montes Claros, o indicador de incapacidade física, que em 2022 ficou em 11,7% dos pacientes, caiu para 4,1% em 2023. 

“O aumento da detecção dos casos precoces de hanseníase é fruto da ampliação do número de profissionais de saúde capacitados”, afirmou a referência técnica SAE Ampliado. Ela ressaltou ainda que “esse trabalho precisa ter continuidade e, nesse contexto, o Serviço Ambulatorial Especializado de Montes Claros está trabalhando para acelerar a descentralização do serviço o que, consequentemente, possibilitará o aumento da capacidade de atendimento das demandas da população”.    

 

A doença

Conhecida antigamente como lepra, a hanseníase é uma doença crônica, transmissível, de notificação e investigação obrigatória em todo o país. A doença tem cura. O tratamento é garantido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e pode ser concluído em até nove meses, devendo o paciente seguir o esquema terapêutico. 

A hanseníase possui como agente etiológico o Microbacterium leprae, bacilo que tem a capacidade de infectar grande número de pessoas e atinge, principalmente, a pele e nervos periféricos. A doença é transmitida pela tosse ou espirro, por meio do convívio próximo e prolongado com uma pessoa doente, sem tratamento.

Os principais sintomas da doença são: manchas esbranquiçadas, avermelhadas ou amarronzadas em qualquer parte do corpo com perda ou alteração da sensibilidade ao calor ou frio, ao tato e à dor, que podem afetar principalmente as extremidades das mãos e dos pés, rosto, orelhas, pernas, nádegas e o tronco.

Também são sintomas da doença: áreas com diminuição de pelos e suor; dor e sensação de choque, formigamento, fisgadas e agulhadas ao longo dos nervos dos braços e das pernas; inchaço de mãos e pés; caroços no corpo; febre, edemas e dor nas juntas.

No SUS, o tratamento farmacológico da hanseníase é feito com poliquimioterapia única (PQT-U), que associa três fármacos: rifampicina, dapsona e clofazimina. O esquema terapêutico deve ser usado por um período que pode durar até 12 meses.

 

Por Pedro Ricardo

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