Renato Campos vestiu a camisa do Vasco, na sexta-feira, 19/1, para um compromisso importante. Não, você não está lendo uma matéria sobre futebol. O Renato também não é um novo jogador do time do Rio de Janeiro. A missão dele foi na farmácia central do município de Juiz de Fora. 

Fotógrafo profissional, Renato Campos, de 43 anos,  descobriu, em agosto de 2022, que tinha hanseníase, após realização de exames neurológicos. Desde então faz tratamento. Por meio da mãe, soube da ação de sensibilização que a farmácia iria promover e fez questão de participar para dar um depoimento.

Renato Campos contou todo o processo desde os primeiros sintomas até o fim do tratamento com a medicação

Um dos primeiros sintomas da doença foi a perda de sensibilidade das mãos e dos pés. Como a doença atinge o nervo, a perda de sensibilidade e de movimentos são sintomas iniciais.

“Eu tinha que andar de meia para não machucar os pés dentro de casa, pois não sentia nada. Também não conseguia fazer movimento fino com as mãos, como abotoar uma camisa, amarrar um cadarço ou segurar um folha de papel”, conta.

O tratamento com medicamento durou 6 meses. Atualmente, Renato faz fisioterapia para restabelecer alguns movimentos. “Com a fisioterapia já melhorou bastante a questão da sensibilidade. Hoje eu consigo andar descalço e sentir o chão”,  revelou. 

 

O melhor caminho é o diagnóstico precoce

Apesar da perda de alguns movimentos e sensibilidade, a doença de Renato foi detectada de forma precoce, quando ainda estava num período inicial. Segundo a referência técnica da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Juiz de Fora, Ana Amélia Dias de Souza Pereira, a detecção no início dos sintomas evita lesão irreversível no nervo. 

“Quando a lesão é detectada tardiamente, infelizmente não tem como reverter as sequelas. Mas, se a doença é diagnosticada precocemente, a medicação pode destruir a bactéria e assim evitar graves sequelas”, comentou a referência. 

Ana Amélia Dias, a referência técnica em hanseníase Ana Amélia Dias, abordou o tema hanseníase na farmácia central de Juiz de Fora

O diagnóstico da hanseníase é clínico. Por isso, é importante que profissionais da atenção primária tenham um maior entendimento da doença. “Temos trabalhado muito com os profissionais por meio de capacitações e orientações para que seja possível identificar os sintomas da doença de forma inicial”, completa Ana Amélia.

O farmacêutico Thiago Pires, um dos organizadores da ação de sensibilização realizada na farmácia central de Juiz de Fora, explicou que após o diagnóstico, é importante apoiar e tranquilizar o paciente. Um dos caminhos para isso é o tratamento com a medicação assistida, que dura de 6 meses a um ano. “Durante esse período, uma vez por mês a medicação é assistida pelo farmacêutico. Isso ajuda para que o profissional entenda melhor como o paciente está respondendo ao tratamento, se está fazendo o uso correto e surtindo efeito, por exemplo”, destacou Thiago Pires.

 

Situação da Hanseníase na área de atuação da SRS Juiz de Fora

A área de abrangência da SRS Juiz de Fora é considerada com baixa endemicidade. Ou seja, tem menos de dois casos a cada 100 mil habitantes. Segundo o Painel Temático da Hanseníase de Minas Gerais, em 2023, foram notificados 8 casos, um a menos em relação a 2022.

Para a referência técnica em hanseníase da SRS Juiz de Fora, Ana Amélia Dias, é importante que algumas ações sejam feitas para que não haja aumento de casos e que os pacientes acometidos não enfrentem graves sequelas.

A farmacêutica Juliana Marques explica sobre a doença a um paciente

“Hoje mais do que nunca é necessário buscar o fortalecimento da Rede de Atenção à Pessoa Acometida pela Hanseníase, estabelecer educação permanente e sensibilização das equipes de saúde para suspeição, diagnóstico e manejo dos casos”, defendeu Ana Amélia. Ela ressaltou também a importância de criar parcerias intra e intersetoriais e da análise e ampla divulgação da situação epidemiológica da hanseníase no território”.

 

Sintomas da hanseníase

A hanseníase inicia-se, em geral, com manchas brancas, vermelhas ou marrons em qualquer parte do corpo, mas são manchas com características especiais, pois apresentam alterações de sensibilidade à dor, ao tato e ao quente e ao frio. Podem aparecer também áreas dormentes, especialmente nas extremidades, como mãos, pernas, córneas, além de caroços, nódulos e entupimento nasal.

 

Como é o tratamento

A hanseníase tem cura e o tratamento está disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS) e é feito com medicamentos orais. É realizado durante 6 a 12 meses, dependendo da forma clínica. O paciente deve comparecer mensalmente ao serviço de saúde para ser examinado, receber a  medicação e as orientações.

Na palestra, os pacientes receberam bala com mensagem destacando o dia do farmacêutico

O diagnóstico

O diagnóstico de caso de hanseníase é essencialmente clínico, realizado por meio de avaliação dermatológica, em que se inspeciona toda a superfície corporal, avaliando alterações de sensibilidade à dor, ao toque, ao quente e ao frio; além de avaliação neurológica, que consiste na palpação dos nervos periféricos, e avaliação sensitiva-motora das mãos, pés e olhos.

Ainda segundo a enfermeira Ana Amélia Dias, referência técnica em hanseníase da SRS Juiz de Fora, é mito acreditar que a pessoa com hanseníase deve ser afastada do convívio familiar, do trabalho e aposentada por invalidez. Se o paciente seguir o tratamento poderá continuar com a sua rotina de atividades e conviver socialmente, recebendo o carinho das pessoas que ama.

Caso seja necessário, o afastamento do trabalho pode ser temporário (auxílio doença) ou permanente (aposentadoria por invalidez), e a perícia médica é que vai atestar a incapacidade. O direito ao benefício ocorre se a incapacidade for resultado da progressão ou agravamento da hanseníase. Todos que contribuem para a previdência e se encontram sem poder trabalhar por causa de uma incapacidade podem procurar uma agência do INSS credenciada para solicitar a perícia médica.

Por Jonathas Mendes

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