Marcos Paulo Souza é pai do Pedro Lucas de 10 anos, diagnosticado com transtorno do espectro autista (TEA) desde os três anos de idade. Ele conta que foram tempos muito turbulentos até chegar no CER IV - Centro Especializado em Reabilitação Antônio de Oliveira, localizado em Contagem, e começar o acompanhamento com os profissionais de lá.

Crédito: Rafael Mendes

A unidade, que compõe a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência no âmbito do Sistema Único de Saúde, é administrada pela Apae-BH, por meio de parceria com a Prefeitura de Contagem, e oferece serviços de reabilitação e habilitação a pessoas com deficiência intelectual, física, auditiva, visual e múltiplas deficiências.

“Ele é acompanhado pelo CER há cerca de três anos e foram os melhores três anos para o seu desenvolvimento, em termos de comportamento, de socialização, de aprendizado mesmo. A dificuldade primordial que ele tinha era da fala e foi aqui que ele conseguiu desenvolver essa parte também”, relata Marcos Paulo, orgulhoso do filho.

“Ele avançou bastante, bastante mesmo. E a sala multidisciplinar para ele é uma grande brincadeira, né? Algo que atrai a criança. Não fica aquele trem maçante, chato, como se fosse uma terapia semanal. Ele vem e faz tudo que precisa ser feito, mas de uma forma leve e, com isso, avança muito mais e acelera o seu desenvolvimento”, declara.

A sala a que ele se refere, também chamada de parque multissensorial, é um espaço desenvolvido para otimizar os tratamentos de pessoas que apresentam transtornos do neurodesenvolvimento e aprendizagem, por meio de treinos, atividades e jogos que promovem o desenvolvimento sensorial, de habilidades cognitivas e motoras, de uma forma lúdica e divertida e com o uso de novas tecnologias.

Crédito: Rafael Mendes

“Esse parque multissensorial é um modelo para nós de ferramenta de apoio para a reabilitação e habilitação intelectual. Por isso, investimos mais de R$ 9 milhões para que todos os CER do estado contem com a mesma estrutura e serviço”, declarou o secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti, em visita ao CER IV de Contagem, na quarta-feira (4/4).

Em dezembro de 2023, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) investiu R$9,3 milhões em recursos estaduais para aquisição e instalação dos equipamentos que formam o parque, ou ampliação dos já existentes, tendo repassado R$300 mil para cada um dos 31 CER do estado. Os gestores têm 24 meses para essa execução.

“Estamos trabalhando para melhorar cada vez mais o atendimento e dar esse apoio às famílias que até então não conseguem um acompanhamento multidisciplinar como temos aqui”, ressaltou Baccheretti.

“Os diagnósticos de TEA estão aumentando e precisamos adaptar a nossa rede. Então estamos muito felizes, pois esse é um investimento importante que vai ao encontro dessa nova realidade e poderemos oferecer um serviço com muito mais qualidade em toda Minas Gerais”, comemorou o secretário.

Eliziete Fernandes Lima é mãe do Gabriel, de 12 anos, que, além do TEA, possui deficiência intelectual e transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). Ele, que faz acompanhamento desde os dois anos de idade, há cerca de cinco anos passou a frequentar o CER IV de Contagem.

“Foi aqui que conseguimos fechar o diagnóstico dele e começar o acompanhamento com todos os profissionais. A principal dificuldade do Gabriel era a comunicação. Falar, conseguir se expressar, sempre foi um desafio grande. Mas depois que veio para cá, ele teve um desenvolvimento enorme, porque trabalha aqui vários tipos de terapia e, com isso, evoluiu bastante”, conta Eliziete.

Segundo ela, Gabriel já é capaz de contar o que fez no dia, o que aconteceu na escola, que esteve na terapia, o que comeu, e isso é uma vitória muito grande. “O meio que eles trabalham aqui é um meio bem lúdico, diferenciado. São pessoas muito capacitadas, que sabem como lidar com ele, trabalhando de uma forma dinâmica, sem forçá-lo”, elogia ela.

“Nas quartas-feiras, que é o dia que ele vem, sempre pergunta se pode sair mais cedo da escola para não perder o horário. Se deixar, ele quer vir todos os dias porque é muito bem acolhido, o pessoal é incrível e foi aqui que ele conseguiu se desenvolver”, ressalta a mãe.

Estímulos multissensoriais

Gerente do Serviço de Reabilitação Intelectual do CER IV de Contagem, o psicólogo Jeyverson Mendes explica o funcionamento do parque multissensorial, que é utilizado por todas as áreas, como os profissionais da fisioterapia, terapia ocupacional, psicologia e fonoaudiologia.

“Esse espaço é um recurso terapêutico que potencializa os programas de habilitação e reabilitação para as pessoas com deficiência. Aqui no Centro temos uma experiência muito positiva com os casos de transtorno do espectro autista, em que os terapeutas conseguem previamente programar suas sessões e terem uma melhor resposta do usuário”, informa.

De acordo com ele, por meio de software, são programados efeitos com sequências específicas para cada comportamento. “Assim, conseguimos ensinar habilidades de cognição, de comunicação, e até mesmo a parte sensorial. O transtorno do espectro autista é um distúrbio do neurodesenvolvimento com déficits persistentes, principalmente nas áreas de interação social, e a sala possibilita um ganho de tempo importante no sentido do efeito terapêutico”, conta o psicólogo.

Jeyverson Mendes exemplifica alguns dos recursos utilizados na sala multidisciplinar. “Conseguimos aqui fazer um trabalho de desensibilização sistemática para aqueles usuários que têm, por exemplo, aversão à chuva. Por meio da simulação, vamos aumentando gradativamente o grau de exposição ao estímulo aversivo. Com a presença das nuvens, que saem água, das luzes e do barulho do trovão, aproximamos, aos poucos, aquela pessoa de uma situação cotidiana real”, explica.

“Outro exemplo é a desensibilização em torno da alimentação. A seletividade alimentar é um assunto muito importante dentro do transtorno do espectro autista e temos recursos para tornar esse estímulo menos aversivo para essas pessoas”, cita, se referindo às diversas frutas artificiais que, quando os usuários as tocam, ouvem seus nomes e veem mudar as cores das luzes da sala, de acordo com as cores de cada uma delas.

Ele cita ainda o piano humano, outro recurso terapêutico importante presente no ambiente. “Esse é um aparato sobre o qual o terapeuta e a pessoa atendida se posicionam e, ao se tocarem, o parque responde com música, com palavras e com luz, de forma que esse contato físico seja naturalizado e se torne cada vez menos aversivo para aquela pessoa”, conclui.

O parque multissensorial (ou sala multidisciplinar) do Centro Especializado em Reabilitação Antônio de Oliveira conta com cascata de fibra óptica, piscina de bolas transparentes com efeitos luminosos, coluna de bolhas, piano humano e simulador de chuva artificial com nuvens iluminadas, painel sensorial artesanal, parede de escalada infantil, simulador de vento e máquina de bolhas de sabão, entre outros.

A mesma estrutura deverá ser replicada nos demais CER do estado, dentre os equipamentos obrigatórios e aqueles recomendados, segundo a Resolução SES/MG Nº 9.124/2023, que define as regras para o financiamento da implantação desses espaços.

Serviços de Reabilitação da Deficiência Intelectual

Em Minas Gerais, há 181 serviços de reabilitação intelectual da Rede de Cuidados à Saúde da Pessoa com Deficiência. Desses, 150 são Serviços Especializados em Reabilitação da Deficiência Intelectual (Serdi), e 31 são Centros Especializados em Reabilitação (CER). Os Serdi são serviços que atendem apenas a deficiência intelectual, enquanto os CER que atendem mais de uma modalidade de deficiência. Todos os serviços realizam a avaliação, diagnóstico e acompanhamento dos usuários.

Para acesso aos serviços de reabilitação intelectual o usuário deve ir a uma Unidade Básica de Saúde (UBS) onde será encaminhado a um ou mais especialistas, caso ainda não tenha o diagnóstico. Já com todos os documentos e laudos em mãos, a equipe da UBS entrará em contato com a Junta Reguladora ou Referência Técnica responsável, que agendará uma primeira avaliação no serviço.

Após a avaliação multidisciplinar, caso seja necessário, o usuário dará início ao processo de reabilitação em CER ou Serdi, conforme a necessidade do caso. Ele também poderá ser acompanhado pelo Centro de Atenção Psicossocial (Caps) ou ainda pela atenção primária.

 

Mais informações e endereços dos serviços estão disponíveis em www.saude.mg.gov.br/reabilitacaointelectual

 

Por Jornalismo SES-MG

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