A Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) alcançou três dos quatro lugares premiados pelo primeiro bootcamp promovido pelo Conselho Regional de Enfermagem de Minas Gerais (Coren-MG) em agosto deste ano. 

Na competição, os participantes identificaram necessidades de segurança do paciente não contempladas integralmente e propuseram soluções por meio de projetos inovadores. O Hospital Alberto Cavalcanti (HAC) do Complexo de Especialidades (CHE) – que inclui o Hospital Júlia Kubitschek – ficou com as duas primeiras colocações e o Complexo de Urgência e Emergência (CHUE) – formado pelos hospitais João XXIII, Infantil João Paulo II e Maria Amélia Lins – ficou com o terceiro lugar. 

“Estar à frente do CHE, representar essas equipes e mostrar à população que nossos projetos vão promover, além de eficiência, maior qualificação no atendimento, é de extremo orgulho. Essa premiação foi uma excelente oportunidade para o Hospital Alberto Cavalcanti mostrar o trabalho de relevância e de grande abrangência na oncologia que seus profissionais realizam”, comemora a diretora do CHE, Cláudia Fernanda Andrade.

O diretor do CHUE, Fabrício Giarola Oliveira, ressaltou a iniciativa do Coren-MG de estimular a adoção de estratégias inovadoras para a segurança do paciente na assistência de enfermagem. “A Fhemig se destacou por ocupar os três primeiros lugares na premiação que avaliou as melhores práticas no estado. O CHUE conquistou a terceira posição e isso nos mostra que, embora tenhamos muito a caminhar, estamos na direção certa“. 

Navegador interativo 

Em primeiro lugar, o projeto “Navegador Interativo”, desenvolvido pelas enfermeiras Núbia Ávila e Priscila Rodrigues, propôs mais segurança aos pacientes e poder de ação aos profissionais da saúde, por meio de uma jornada digital sistematizada (navegação) e de um mapa interativo personalizado (aplicativo).

A dupla idealizou um software prototipado para o registro da navegação, onde o enfermeiro atua como o navegador principal, enquanto outros profissionais desempenham o papel de navegadores satélites. Além disso, um mapa interativo foi criado, de modo a permitir que o próprio paciente acompanhe as diversas etapas do tratamento, tornando sua jornada mais eficiente e segura.

Os impactos do projeto para a segurança do paciente vão da promoção da cirurgia segura à comunicação efetiva entre os profissionais da saúde.

Experiência pioneira

A proposta do “Navegador Interativo” partiu da experiência pioneira do Hospital Alberto Cavalcanti na navegação de pacientes oncológicos e foi validada em testes com tecnologia básica utilizada em 300 casos atendidos no HAC. 

O software também pode ser adotado pela atenção primária e domiciliar, além dos serviços especializados, como o HAC. Ele traz como benefícios a redução da perda do seguimento (abandono do tratamento) e dos prazos dos exames e consultas, como também a melhoria da experiência do paciente, da gestão da demanda assistencial e da satisfação dos profissionais.

Navegar o paciente significa acompanhar a sua trajetória de forma estruturada e em diálogo permanente com as equipes assistenciais e administrativas que o atendem, a fim de coordenar todas as etapas com a agilidade e a humanização necessárias. 

“No cenário atual, o sistema de navegação praticado pela maioria dos hospitais apresenta pouca interação entre os navegadores ou apenas o navegador principal. Além disso, ele não avalia a experiência do usuário e não possui mapa de interação do paciente”, analisa a enfermeira e uma das idealizadoras do projeto, Núbia Ávila.

Para entender o impacto da proposta vencedora, basta lembrar que o câncer é a segunda maior causa de morte no Brasil e que os números de diagnósticos tardios e atrasos para o início do tratamento são grandes. Em relação aos cânceres de mama e de pulmão (que estão entre os mais prevalentes no país), 43% e 88% dos diagnósticos, respectivamente, são realizados tardiamente – nos estágios 3 e 4. 

Code 3 

Segundo lugar no bootcamp, o projeto Code 3, também do HAC, teve como foco o terceiro eixo temático da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a segurança do paciente: melhorar a segurança na prescrição, no uso e na administração de medicamentos. A partir desse eixo, a equipe propôs uma solução tecnológica para prevenir erros e promover a segurança medicamentosa desde a prescrição até a administração dos medicamentos. 

De perfil multidisciplinar, a equipe reuniu as enfermeiras Liliane Santos Silva, Gislene Vas Silva, Gillene Aparecida de Sena, Rejane Fernandes Queiroz Andrade e a terapeuta ocupacional Cidélia Carmem Sousa. 

“O HAC é o único hospital do sistema público estadual que oferece serviço de quimioterapia exclusivamente pelo SUS e habilitação como Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (UNACON). Embora o projeto tenha se baseado no setor de quimioterapia, a ideia abrange todo o hospital e pode ser replicada em outras áreas como a ambulatorial”, afirma Liliane Santos Silva.

A proposta busca melhorar a segurança no preparo e na administração de medicamentos quimioterápicos, e de outras classes medicamentosas, para interromper a cadeia de fatores de risco que podem levar ao erro. 

Com o Code 3, será possível identificar os processos de trabalho, implantar um sistema de segurança que faz a identificação de quimioterápicos, sinaliza a codificação e a decodificação, efetivando a liberação ou o bloqueio, e que utiliza, entre os métodos de barreira, o código de barras para melhorar a segurança na administração dos medicamentos e inserir o paciente no processo de identificação da medicação à beira do leito, ao utilizar o QR-Code. 

Safety care game 

Terceiro colocado no concurso de projetos, a equipe do CHUE criou o protótipo de um jogo – safety care game – para os protocolos de segurança do paciente, que pode ser adaptado para qualquer outro tema de relevância na área. Lúdico, dinâmico e de fácil acesso, o game foi elaborado para capacitar os profissionais da saúde na assistência segura aos pacientes.

A equipe reuniu as enfermeiras do Núcleo de Segurança do Paciente (NSP) do CHUE Faline Porto, Izabela Figueiredo de Souza Honorato, Carolina Rolim Benini e Claudia Mara Tristão e a estudante do curso de Gestão de Serviços da Saúde da UFMG e estagiária do NSP Iara Ribeiro Barbosa.

O safety care game é um treinamento gamificado – usa mecanismos dos jogos em contextos de não entretenimento para gerar motivação e engajamento dos participantes – que adota uma abordagem interativa e inovadora.

“O projeto busca, além de contribuir para a redução dos eventos adversos, motivar e engajar os profissionais da saúde, aumentar o foco e a produtividade, favorecer a cultura da segurança, melhorar a experiência do paciente, reduzir o tempo de internação, o risco de infecção e os custos hospitalares”, enumera Faline Porto.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, anualmente, quase três milhões de pessoas morrem no mundo em razão de eventos adversos. No Brasil, de julho do ano passado a junho deste ano, foram registradas 334.275 ocorrências dessa natureza, numa média de mais de 900 casos diários.

Bootcamp Healthtech

O “Bootcamp Healthtech” é uma competição de equipes para criar e apresentar projetos em curto prazo, a partir de um tema estratégico eleito pelo Conselho Federal de Enfermagem ou pelos Conselhos Regionais de Enfermagem de cada estado. Os projetos têm que propor soluções para necessidades não atendidas ou não contempladas integralmente no contexto da assistência em enfermagem.

Bootcamp significa campo de treinamento e é uma modalidade de preparação que busca o aprendizado imersivo, com foco no treinamento prático e rápido.  

Por Alexandra Marques

Enviar para impressão