A Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Montes Claros e gestores da microrregião de saúde Coração de Jesus definiram, no dia 15 de agosto, o início da implementação do Projeto de Rastreamento da Doença de Chagas por meio da realização de exames de eletrocardiograma (ECG). Os trabalhos começarão em setembro e prosseguirão até novembro de 2024, contemplando pessoas residentes em Jequitaí, Lagoa dos Patos, São João da Lagoa, Coração de Jesus e São João do Pacuí.

Assim como outros agravos negligenciados, a doença de Chagas está associada à pobreza. A doença é transmitida por diferentes vias, sendo a vetorial que envolve espécies de triatomíneos, insetos chamados popularmente de barbeiros. Estima-se que, no mundo, entre 6 e 8 milhões de pessoas têm a doença e mais de 75 milhões moram em áreas de risco de contágio. 

Por meio de videoconferência, os detalhes do Projeto foram expostos aos coordenadores de Vigilância em saúde e de Atenção Primária à Saúde (APS). A referência técnica da Coordenadoria de Atenção à Saúde da SRS de Montes Claros, Renata Fiúza Damasceno, explicou que, depois de trabalho piloto realizado em abril deste ano em Monte Azul, a microrregião Coração de Jesus dará sequência ao projeto pelo fato de nunca ter sido contemplada por uma ação mais efetiva voltada para o diagnóstico precoce e tratamento da doença de Chagas. 

Exames de eletrocardiograma vão agilizar o diagnóstico precoce da doença de Chagas

“Esta é uma grande oportunidade para a microrregião Coração de Jesus contribuir para o avanço do diagnóstico, acompanhamento e tratamento de pacientes em Minas Gerais, além de viabilizar a eficácia e a introdução de novas tecnologias no Sistema Único de Saúde (SUS)”, frisou a referência técnica da SRS Montes Claros.

Em todo o estado a previsão é de que, até novembro de 2024, o projeto seja implementado em 107 municípios sob jurisdição das Superintendências Regionais de Saúde de Montes Claros e Divinópolis. As atividades são implementadas por pesquisadores do Centro São Paulo-Minas Gerais para Tratamento da Doença de Chagas (SaMI–Trop), coordenado pelos professores Ester Sabino e Antônio Luiz Pinho Ribeiro, coordenador da Rede de Teleassistência de Minas Gerais e do Centro de Telessaúde do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Durante a videoconferência, Renata Fiúza destacou a importância do projeto conduzido pelo SaMi-Trop, levando em conta que “menos de 10% dos casos são diagnosticados precocemente e menos de 1% dos pacientes são tratados e acabam evoluindo para formas crônicas da doença, com comprometimento cardíaco e digestivo. “Durante um mês de trabalhos realizados no primeiro semestre deste ano, em Monte Azul, foi possível diagnosticar 29 novos casos da doença”, observou Renata Fiúza.

Por meio do projeto, todas as pessoas que forem submetidas a exame de eletrocardiograma terão os laudos analisados por sistema de inteligência artificial. Quando forem identificadas alterações sugestivas para a doença de Chagas, um sistema de alerta informará esse resultado aos serviços de vigilância epidemiológica do município de residência do paciente. A partir daí a secretaria municipal de saúde deverá proceder a busca ativa do paciente para a coleta de sorologia e encaminhamento de material para análise no laboratório da Fundação Ezequiel Dias (Funed), em Belo Horizonte. 

O projeto prevê que, para os casos com resultados de sorologia positivos para a doença de Chagas, o município deverá realizar o registro no Sistema de Agravos de Notificação (Sinan), mantido pelo Ministério da Saúde (MS). Em seguida, caso seja recomendado, o município deverá ofertar ao paciente o tratamento antiparasitário, além de acompanhamento médico.

Nesta terceira semana de agosto, os gestores de saúde da microrregião Coração de Jesus estão sendo mobilizados para definir as referências técnicas que serão responsáveis pela condução do Projeto de Rastreamento da Doença de Chagas em cada localidade. Os profissionais passarão por capacitação e serão os responsáveis pela busca ativa e acompanhamento dos pacientes que tenham diagnóstico confirmado para a doença de Chagas.

Neila Souto Gomes, referência técnica em “Atenção Primária à Saúde de São João do Pacuí destacou “a importância e a necessidade de fortalecimento da microrregião Coração de Jesus nas ações de enfrentamento da doença de Chagas. Pelo fato de sermos um dos municípios pioneiros na implementação do projeto, precisamos fazer de tudo para que as ações dêem certo e tragam benefícios para a população”. 

 

Novas metodologias

O Centro São Paulo–Minas Gerais para Tratamento da Doença de Chagas realiza, desde 2013, pesquisas envolvendo doenças negligenciadas. O centro é composto por cientistas colaboradores de quatro instituições de ensino: Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes); UFMG; Universidade Federal de São João Del Rey (UFSJ) e a Universidade de São Paulo (USP). Os trabalhos são financiados pelo National Institute of Health, um conglomerado de centros de pesquisa que formam a agência governamental de pesquisa biomédica do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos,  sediado em Bethesda, Maryland, e constitui o maior centro de pesquisa biomédica do mundo.

O SaMI-Trop já publicou mais de 30 artigos científicos. Atualmente os pesquisadores pretendem aplicar os conhecimentos na identificação de metodologias e ferramentas que permitam aumentar o número de pacientes diagnosticados e a oferta de tratamento. Além disso, serão identificadas estratégias que possibilitem melhorar o acompanhamento dos pacientes e auxiliar na avaliação de novos candidatos a tratamento.

Por Pedro Ricardo / Fot: Divulgação Projeto SaMi-Trop

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