“No trânsito, escolha a vida” é o tema da campanha Maio Amarelo deste ano, com o objetivo de conscientizar e reduzir os acidentes no trânsito, que têm alto índice de mortes e feridos no país. Todos os dias o Hospital João XXIII (HJXXIII), da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), recebe vítimas de acidentes que muitas vezes poderiam ser evitados se as normas de trânsito fossem respeitadas. De 2015 a 2022, quase 43 mil motociclistas, 14 mil ocupantes de automóveis e mais de 11 mil pedestres foram atendidos na unidade. Desses, quase 7 mil com idade entre 20 e 60 anos, sendo dois terços deles do sexo masculino. Este ano, até abril, o número já ultrapassou 2.500 atendimentos somente desse público.

Divulgação FHEMIG

Segundo o gerente médico de atendimento a adulto do HJXXIII, Rodrigo Muzzi, a gravidade varia de acordo com a velocidade em que o carro estava no momento do acidente. “As vítimas com politraumatismos mais graves, que recebemos no pronto-socorro, são aquelas que estavam em veículos em alta velocidade”, afirma.

De acordo com ele, os números voltaram a crescer após a pandemia da covid-19. “Tivemos uma queda na época do isolamento social, com as pessoas saindo menos nas ruas; agora, já podemos perceber o aumento no número de casos novamente”, afirma Muzzi. Ele explica que a lesão mais comum é a fratura de membros . “São ainda mais frequentes nos casos dos ocupantes de motocicletas, sendo necessárias cirurgias, em alguns casos, e podendo deixar sequelas, como dificuldade de mobilidade. Em casos mais graves, também é comum traumatismos cranianos, que podem ter péssimas consequências”.

Homens jovens são maioria

O Complexo Hospitalar de Barbacena é referência para o atendimento ao trauma, com a única porta de Urgência e Emergência da microrregião de Barbacena. “A maior parte dos acidentes de trânsito atendidos no hospital está relacionada a quedas e colisões envolvendo motociclistas. São atendidas também diversas ocorrências envolvendo bicicletas, atropelamentos e colisões de automóveis em estradas da região”, afirma o ortopedista Mirhel Oliveira Fraga.

O médico endossa que a maioria dos pacientes são homens na faixa etária entre 18 e 30 anos. “Os acidentes têm diversos graus de magnitude e, por isso, mecanismos de traumas variados. Os casos que chegam ao pronto atendimento, em geral, podem apresentar diversos diagnósticos, como trauma cranioencefálico, torácico, abdominal, pélvico, fraturas, ferimentos, entre outros”, relata Fraga.

Muitos deles deixam sequelas que, conforme a gravidade, podem ser definitivas. “Dependendo do trauma inicial e dos possíveis diagnósticos, podem ser estéticas, funcionais ou psicológicas. Algumas como cicatrizes, infecções, dor crônica, síndrome do estresse pós-traumático, rigidez articular, pseudoartrose, osteomielite, amputações e sequelas neurológicas”, explica.

Cuidados Prolongados

A maioria dos pacientes com sequelas graves vai precisar de reabilitação para retomada da autonomia parcial ou total. A Unidade de Cuidados Prolongados (UCP), do Complexo Hospitalar de Barbacena, é um serviço com foco na recuperação física e funcional e conta com 25 leitos destinados também aos pacientes do trauma.

A UCP possui equipe multiprofissional, composta por médicos, enfermagem, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, nutricionista, psicólogo, terapeuta ocupacional e assistente social. O serviço presta um cuidado que possibilita a recuperação das sequelas advindas do trauma e, com isso, torna o atendimento do hospital completo para esses pacientes.

Na região metropolitana de Belo Horizonte, o Hospital Cristiano Machado é a retaguarda do Hospital João XXIII para casos neurológicos e ortopédicos que necessitam de internações de longa permanência.

Aprendizado

Roger Santos foi mais um dos inúmeros motociclistas que se acidentam diariamente na Grande BH e ocupam um andar inteiro no pronto-socorro. Vítima de um grave acidente de moto, em agosto de 2022, após dirigir embriagado, ele ficou internado durante pouco mais de dois meses. “Saí com meus amigos, após um dia cansativo de trabalho, bebi demais e estava voltando pra casa, de madrugada, quando me acidentei com a moto”, lembra.

O resultado, mesmo usando um capacete de alta qualidade, foi um traumatismo craniano, o rompimento dos ligamentos de um dos braços, fraturas de dois ossos da perna, um coágulo no pulmão e uma parada cardiorrespiratória ainda no local do acidente. “Fui ressuscitado quando cheguei ao hospital. Fiquei morto durante alguns minutos. O João XXIII foi fundamental não só no dia do meu acidente como durante o tempo que fiquei hospitalizado. A equipe foi muito atenciosa e me ajudou demais, inclusive psicologicamente, já que tive estresse pós-traumático e achava que minha vida tinha acabado após o acidente. Ali, fiz boas amizades. Tenho um carinho enorme por todos”, elogia.

Apesar de não ter ficado com sequelas, Roger acompanhou de perto outras histórias com finais diferentes e aconselha: “No hospital, conheci vários motociclistas que ficaram com sequelas. É difícil dar conselhos, mas eu diria para as pessoas pensarem mais nas consequências dos seus atos na hora de infringir as leis. Eu dirigi após beber e paguei pelo meu erro. Quantos por aí estão andando corretamente e pegam pelo erro dos outros? Por isso, antes de sair de casa, procurem pensar em quem vocês amam e nas consequências que uma irresponsabilidade pode ter nas suas vidas e nas de outras pessoas”, alerta.

Prevenção

A melhor forma de evitar acidentes é seguir todas as normas de trânsito, respeitando os limites de velocidade. “Evitar manobras arriscadas e andar em alta velocidade, usar o cinto de segurança - no caso dos motociclistas usar o equipamento de proteção adequado (capacete, jaqueta e calça de material resistente e tênis ou bota) - e nunca dirigir após consumir bebidas alcoólicas são regras fundamentais que podem evitar acidentes, principalmente aqueles com maior gravidade”, alerta Rodrigo Muzzi.

Mirhel Fraga reforça a necessidade de conscientização sobre os riscos da associação entre álcool e direção. “Sabemos do potencial efeito letárgico do álcool e, no trânsito, um segundo pode ser a diferença entre a vida e a morte. No dia a dia da urgência e emergência, convivemos com muitas histórias de sofrimento e angústia e, muitas vezes, o condutor alcoolizado pode não ser a única vítima. E o que a gente realmente espera é que esse hábito seja abolido da prática cotidiana”, conclui.

Por Aline Castro Alves e Fernanda Moreira Pinto (ASCOM Fhemig)

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