A hanseníase teve seu micro-organismo causador identificado em 1873, pelo norueguês Armauer Hansen. Embora essa descoberta tenha contribuído para a desconstrução de muitos mitos em torno da doença, o preconceito e a dificuldade de diagnóstico continuam sendo os principais desafios enfrentados pela saúde pública no controle dessa doença.

Como forma de chamar a atenção da população e dos órgãos públicos para a relevância de se discutir estratégias para o diagnóstico precoce da hanseníase e contribuir para a melhoria dos aspectos de detecção de casos, tratamento, cuidado e reabilitação, anualmente o último domingo de janeiro é marcado como Dia Nacional de Combate e Prevenção da Hanseníase, instituído de acordo a Lei federal 12.135/2009. Neste ano, a data será celebrada no domingo, dia 26/01.

A doença, quando não diagnosticada e tratada na forma inicial, pode se agravar, levando ao aparecimento de incapacidades físicas. Essa evolução ocorre, em geral, de forma lenta e progressiva.

A Coordenadora de Controle da Tuberculose, Tracoma e Hanseníase da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), Maira Veloso, explica que a transmissão ocorre quando uma pessoa com a doença na forma infectante, ou seja, sem tratamento, elimina o bacilo para o meio exterior, infectando outras pessoas suscetíveis. “A eliminação do bacilo pelo doente ocorre pelas vias aéreas superiores (mucosa nasal e orofaringe), que infectam outras pessoas por meio do contato próximo e prolongado, explica a coordenadora.

A hanseníase manifesta-se principalmente por meio de sinais e sintomas dermatoneurológicos. Dessa forma, é preciso estar atento ao aparecimento de sintomas, como manchas esbranquiçadas, avermelhadas ou amarronzadas, com perda ou alteração de sensibilidade térmica (ao calor e frio), tátil (ao tato) e a dor, que podem estar localizadas em qualquer parte do corpo, mas principalmente nas extremidades das mãos e dos pés, na face, nas orelhas, no tronco, nas nádegas e nas pernas.

Em 2018, Minas Gerais registrou 1.047 casos de hanseníase e, de acordo com dados parciais, esse número foi de 968 no ano de 2019.

Apesar da diminuição progressiva do número de casos notificados nos últimos anos, o cenário epidemiológico da doença no Estado é ainda preocupante. Algumas situações confirmam este panorama: a detecção de casos novos com incapacidade física instalada; a detecção em menores de 15 anos e a persistência de municípios silenciosos.

Hanseníase tem cura

O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza, por meio das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e das referências especializadas, tratamento e acompanhamento gratuito para os casos de hanseníase.

O tratamento com Poliquimioterapia (PQT) consiste em uma associação de antimicrobianos, recomendado pelo Ministério da Saúde (MS) e a Organização Mundial de Saúde (OMS). “O paciente deve tomar a primeira dose mensal supervisionada pelo profissional de saúde e as demais são auto administradas. Ainda no início do tratamento, a doença deixa de ser transmitida. Para crianças com hanseníase, a dose dos medicamentos do esquema padrão é ajustada de acordo com a idade e o peso. Já no caso de pessoas com intolerância a um dos medicamentos do esquema padrão, são indicados esquemas substitutivos”, explica Maira Veloso.

Maira Veloso destaca, ainda, que familiares, colegas de trabalho e amigos, além de apoiar o tratamento, também devem ser examinados. “A alta por cura é dada após a administração do número de doses preconizadas pelo esquema terapêutico, dentro do prazo recomendado. O tratamento da hanseníase é preferencialmente ambulatorial e gratuito para todos”, reforça a coordenadora.

Plano Estadual de Enfrentamento da Hanseníase

Apesar da diminuição progressiva do número de casos notificados nos últimos anos, a SES-MG segue atenta ao cenário epidemiológico da doença no Estado. Como forma de estabelecer o compromisso político de Minas Gerais na implementação de estratégias e definição de responsabilidades de cada ponto da rede de atenção, foi lançado, em 2019, o Plano Estadual de Enfrentamento da Hanseníase: estratégias, diretrizes e vigilância.

O Plano foi desenvolvido em consonância com a Estratégia Global que possui como pilares o fortalecimento do controle, da coordenação, das parcerias e das estratégias de governança, o combate à hanseníase e suas complicações, e o combate à discriminação, bem como promoção da inclusão.

Com a implementação do Plano Estadual, espera-se alcançar as seguintes metas em Minas Gerais, até 2022: aumentar a detecção geral de casos novos em 10%; reduzir a proporção de casos novos em menores de 15 anos em 20% (de 5 para 4%); e, reduzir a proporção de casos novos com grau 2 de incapacidade do parâmetro alto para regular (menor que 10%).

Saiba mais em: www.saude.mg.gov.br/hanseniase

Por Fernanda Rosa