Mensalmente, a Fundação Ezequiel Dias (Funed) analisa a qualidade da água destinada ao uso e consumo humano em 833 municípios mineiros. Nos municípios em que não há atuação da Fundação, as análises são realizadas em laboratórios próprios. A rede estadual é formada pelo Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-MG), da Funed, em Belo Horizonte, e por outros 28 laboratórios em cidades polos, que são as sedes das Regionais de Saúde no estado.

Além do monitoramento periódico, a Funed também atende às denúncias e investigações de surtos. Fazem parte do escopo da Funed análises microbiológicas, que são pesquisas para identificar a presença de microrganismos patogênios, análises físicas (cor, turbidez, odor, sabor), químicas (presença de cloro, cloreto, nitrato, fluoreto, entre outros), toxicológicas (pesquisa de substâncias contaminantes como chumbo, mercúrio, alumínio, cromo, cianeto, entre outros) e pesquisas de resíduos de pesticidas, que observa a presença de agrotóxicos.

Em 2021, foram recebidas mais de 64 mil amostras (pela Funed e pelos laboratórios regionais) e realizadas 120 mil análises para monitoramento da qualidade da água. Segundo o chefe da Divisão de Vigilância Sanitária da Funed, Kleber Baptista, a maioria das amostras analisadas possui qualidade satisfatória. Nas que são identificados problemas, o principal motivo de reprovação é a contaminação microbiológica, ou seja, a presença de microrganismos que podem causar risco à saúde. “Esse tipo de contaminação pode ocorrer devido a falhas no sistema de tratamento, vazamento na rede de distribuição ou falta de proteção do ponto de captação”, explica.

Kleber reforça ainda que é importante que os municípios participem do programa nacional Vigiágua (Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano) e realizem, mensalmente, a coleta das amostras. "A análise laboratorial e o monitoramento são importantes para a saúde pública, já que a água é um meio de transmissão de doenças. Se ela estiver contaminada, pode contaminar a população, diretamente pelo consumo, assim como contaminar indiretamente, por meio de alimentos lavados e preparados com a água contaminada”, detalha.

Risco de contaminação da água devido às enchentes

As fortes chuvas que estão atingindo o país desde dezembro provocaram enchentes em diversas regiões e inclusive em quase todo o estado de Minas Gerais. Devido às tempestades, milhares de famílias ficaram isoladas e sem acesso à água potável para necessidades básicas, como beber, tomar banho e cozinhar. A situação é preocupante, já que expõe crianças e adultos a vírus, bactérias e metais pesados causadores de graves problemas à saúde que, inclusive, podem levar à morte.

A água de enchente ou esgoto é contaminada pela urina de animais infectados e o risco de doenças não desaparece depois que o nível das águas abaixa. As bactérias continuam viáveis, ou seja, vivas, sendo ainda capazes de reproduzirem e até mesmo causar infecção nos objetos e nas superfícies úmidas por muito tempo, sendo preciso estar atento para não se contaminar.

Há mais de três décadas, a Funed disponibiliza diagnóstico para doenças como leptospirose e doenças diarreicas, que são de interesse da saúde pública, assim como análises de águas envolvidas em surtos e epidemias. Somente em 2021, foram realizados exames de mais de 1,2 mil pacientes com suspeita de leptospirose e mais de 400 exames de pacientes com suspeita de doenças diarreicas causadas por bactérias.

Em períodos de chuvas e inundações de rios e córregos, a principal recomendação é evitar o contato com a água de enchente que se acumula nas ruas. Por outro lado, se for inevitável, recomenda-se sempre usar calçados e meias, pois protegem um pouco mais a pele. Também é importante verificar se a enchente afetou o fornecimento de água potável do município. Nesse caso, o município deve providenciar alguma fonte alternativa de água potável como caminhões pipa ou fornecimento de água mineral. Higienizar caixas d’água ou outros reservatórios de água da residência e descartar alimentos que tiveram contato com a água da enchente também são medidas eficazes de proteção à saúde.

Por Ana Paula (ASCOM Funed)