O aumento de casos da Covid-19 entre as populações de maior vulnerabilidade, como os indígenas, os quilombolas, ciganos, entre outras, somado às dificuldades apontadas pelos municípios mineiros em trabalhar com ações de prevenção da doença direcionadas a este público, motivaram a realização de uma videoconferência realizada no dia 24 de julho, para tratar dos cuidados com essas populações frente à pandemia do novo coronavírus.

O encontro envolveu as Coordenadorias de Assistência à Saúde (CAS) e as referências técnicas das políticas de promoção à saúde e equidade das Regionais de Saúde de Minas Gerias.  Na ocasião, a referência técnica de Atenção Primária da Superintendência Regional de Saúde de Teófilo Otoni (SRS T.Otoni), Flamorion Alves Fonseca falou do projeto de rastreamento de contatos próximos de casos suspeitos da Covid-19 desenvolvido pelo professor da Universidade Vale do Rio Doce, Roberto Carlos de Oliveira, em parceria com os municípios de Bertópolis, Santa Helena de Minas, Umburatiba e Machacalis.

O espaço foi aberto para o professor explicar sobre o projeto.  Segundo ele, foi realizado um mapeamento prévio das características demográficas e etnográficas das aldeias indígenas Maxakali dos municípios de Santa Helena de Minas e de Bertópolis, utilizando dados do Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (SISAB) e do Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena (SIASI).

Por meio desse mapeamento, foram identificadas as residências com pessoas pertencentes ao grupo de risco da Covid-19 e também o quantitativo de pessoas residentes numa mesma casa. Constatou-se que em algumas delas residem mais de dez pessoas.

Os Maxakali têm o costume de compartilhar um espaço denominado pátio familiar. Nesse local, famílias de residências vizinhas se reúnem para fazer artesanatos, comidas, entre outras atividades.

Roberto Oliveira também falou sobre as crianças Maxakali. Segundo ele, elas têm livre acesso a esses agrupamentos e pátios, seja para transmitir recados, notícias ou entregar pequenos objetos. “Têm inclusive liberdade de tomar refeições em outras casas”, declara.

Diante de todo esse contexto e percebendo a vulnerabilidade dessas pessoas, caso um membro da comunidade seja infectado pelo novo coronavírus, surgiu a necessidade de capacitar os profissionais de saúde e as equipes de saúde indígena dos municípios de Bertópolis e de Santa Helena de Minas. “Realizamos então uma oficina sobre rastreamento de contatos da Covid-19, em que esses profissionais foram habilitados para coletar, registrar, armazenar e encaminhar dados dos contatos próximos da pessoa suspeita ou confirmada por Covid-19 em sua área de referência”, explica Oliveira.

Além de informações básicas sobre a Covid-19, os participantes aprenderam técnicas de entrevistas para um bom rastreamento de contatos, baseadas na metodologia do CVC (Centers for Disese Control and Prevention) adaptada à realidade local. Um dos métodos utilizados é a construção participante dos formulários. “A própria pessoa com suspeita da Covid-19, antes mesmo de realizar os exames, ajuda a preencher o formulário repassando informações dos contatos próximos a ela. Essas informações também são colocadas na ficha de notificação da Covid-19. Caso a pessoa apresente os sintomas, a ficha será encaminhada para a equipe estratégica da saúde da família para os devidos acompanhamentos”, afirma Roberto.

Por Déborah Ramos Goecking