Uma das linhas de pesquisa da Fundação Ezequiel Dias (Funed) é na área de desenvolvimento de medicamentos para o tratamento de doenças oculares. Ela é realizada pelo grupo liderado pela pesquisadora Sílvia Ligório Fialho, do Serviço de Desenvolvimento Tecnológico Farmacêutico, da Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento (SDTF/DPD) da Funed.
O trabalho do grupo iniciou há 20 anos, inspirado por estudos da utilização intravítrea de medicamentos como Macugen e Avastin, para doenças retinianas. Desde então, a pesquisa em sistemas de administração de medicamentos para o tratamento de doenças do segmento posterior do olho tem alcançado marcos significativos, conforme revelado por estudos da equipe liderada por Sílvia e pelo professor Armando Silva Cunha, da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “A trajetória da pesquisa tem se concentrado no desenvolvimento de implantes de liberação prolongada, visando melhorar a eficácia e reduzir o desconforto dos pacientes”, explica Sílvia.
O primeiro implante biodegradável de aplicação intravítrea desenvolvido pelo grupo, denominado DDS-25G, continha dexametasona e teve sua patente concedida no Brasil. O sucesso da pesquisa levou à realização do estudo clínico de Fase 1, que apresentou resultados importantes no tratamento de edema macular. “Esse estudo foi tão promissor que proporcionou o desenvolvimento de novos implantes com diferentes fármacos para aplicação em outras doenças oculares”, relata Sílvia. Um caso clínico relevante é o de implantes de clindamicina para o tratamento da toxoplasmose, que proporcionou a liberação por longo período do fármaco e melhora da visão do paciente. Outro caso clínico, recentemente publicado, utilizando implantes de acetazolamida, demonstrou que, após quatro meses de acompanhamento do paciente que apresentava edema macular, houve eliminação do edema e consequente recuperação da visão. Os estudos clínicos do grupo são todos aprovados pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e realizados em colaboração com o médico oftalmologista Rodrigo Jorge, no hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto.
O grupo foi coautor de 129 artigos científicos sobre sistemas de administração de medicamentos oculares e quatro patentes que foram concedidas, além de vários anais de conferências. “O desenvolvimento de sistemas de administração de medicamentos para o tratamento de doenças do segmento posterior do olho tem sido nossa contribuição mais importante para o campo da terapia ocular, e podemos demonstrar que a ciência básica, iniciada no laboratório de pesquisa, é capaz de transpor barreiras para chegar ao paciente”, declara Sílvia.
Os resultados das pesquisas não apenas contribuem para o conhecimento científico, como também oferecem esperança para pacientes que enfrentam doenças visuais debilitantes. “A continuidade desse trabalho promete expandir as possibilidades de tratamento, abordando necessidades não atendidas e impulsionando a medicina personalizada na oftalmologia. Com os avanços na entrega de medicamentos, o futuro do tratamento de doenças oculares parece mais promissor do que nunca”, finaliza a pesquisadora.
O trabalho completo publicado pelo grupo pode ser acessado aqui.