No início de março, aconteceu o último encontro letivo da Especialização em Políticas de Saúde Mental e Atenção Psicossocial da Escola de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais (ESP-MG). Esta pós-graduação está concluindo sua primeira turma, e soma-se a um histórico de várias outras especializações em saúde mental ofertadas pela instituição ao longo dos anos. Ela tem como objetivo promover a formação crítica e reflexiva de trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS), em Minas Gerais, para que possam atuar no âmbito da gestão e do cuidado em Saúde Mental a partir do paradigma da atenção psicossocial.

Ao todo, 34 alunas e alunos estão finalizando o curso que tem as defesas de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), a aula de encerramento e cerimônia simbólica de formatura previstas para maio de 2023. As aulas da Especialização tiveram início em setembro de 2021, momento em que a pandemia da Covid-19 estava intensa e ainda vivíamos em isolamento social e, por esta razão, as aulas aconteceram de forma remota de setembro daquele ano, até fevereiro de 2022.  As aulas passaram a ser presenciais em março de 2022 e continuaram até a conclusão, um ano depois. 

Conforme ressalta uma das coordenadoras do curso, Ana Regina Machado, neste tempo foi possível vivenciar uma diversidade de experiências interessantes na Especialização, sejam elas experiências felizes, outras até mesmo angustiantes, mas todas sempre muito ricas. Ana Machado, recorda que a especialização foi iniciada ainda no contexto da pandemia e que, em razão disso, foi necessário acolher também o sofrimento e dificuldades dos discentes, que tiveram vivências profissionais de cuidado e, também, pessoais, bem complexas. “Precisamos construir estratégias para que o Curso acontecesse e que pudesse manter um certo modo de fazer da ESP-MG que envolvesse a participação, a reflexão, a troca de saberes e práticas sobre o cotidiano do cuidado em saúde mental”, explicou.

A coordenadora comentou sobre a inserção de um conteúdo novo e importante no curso, a atenção psicossocial em situação de desastres, que seguirá também presente na próxima turma, em razão da importância deste assunto para o estado de Minas Gerais, tendo em vista os desastres ambientais e suas consequências em vários âmbitos. 

Ana Regina destacou também que a temática do racismo fez parte da matriz do curso. “O racismo, pelas conexões que tem com o sofrimento, saúde e subjetividade da população negra, mas também porque diz respeito a todos nós e não pode, portanto, ser desconsiderado nas redes de atenção psicossocial no SUS, em Minas Gerais”, enfatizou.  A coordenadora também reforçou o papel de todos os docentes e expositores que participaram das atividades do curso, porque contribuíram de diferentes maneiras com o cuidado em saúde no estado.  

Gratidão e aprendizados 

Nestas últimas semanas também presenciamos pelos corredores da Escola e nas redes sociais, alunas e alunos demonstrando sua gratidão e alguns também se emocionaram ao recordar o período de vivências. Uma dessas estudantes, foi a Patrícia Melo, que é psicóloga e atua na secretaria municipal de saúde de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. Para ela, estudar na ESP-MG foi uma experiência única, algo que marcou muito sua trajetória pessoal e que despertou nela muita gratidão, sendo muito significativo. 

“Agradeço pelo acolhimento, principalmente pelo meu movimento! Foi muito importante para mim perceber o trabalho tão singular que eu faço no meu dia a dia em busca de ser antimanicomial.  A ESP me ajudou a encarar os processos de mudanças que estou vivendo com leveza e desejo. ‘SUStentando’ o cuidado em saúde mental como psicóloga e também como palhaça Merlot. Em 10 anos de dedicação à saúde mental, estudar na ESP-MG é pra mim um reconhecimento! O que eu precisava pra seguir a luta, que continua!”, celebrou. 

O aprendizado e o compartilhamento de experiências também foram sentimentos que fizeram parte da trajetória das professoras e professores da especialização. Para o professor Rodrigo Simas, psicólogo, mestre em saúde pública e profissional com muitos anos de experiência na rede de saúde mental do Rio de Janeiro, foi muito gratificante participar enquanto docente da especialização. Ele conta que a turma era bem heterogênea e também muito rica, assim como o estado de Minas Gerais, em alusão a extensão territorial e diversidade cultural de Minas.

O professor considera a formação dos profissionais como um dos principais desafios do SUS atualmente, especialmente a capacitação daquelas que estão nas cidades do interior e que em razão disso acabam contando com uma oferta menor de cursos e de pós-graduação. Ele relembra que foi muito recompensador ver a quantidade de pessoas de municípios do interior de Minas participando do curso e atuando de forma muito ativa e cuidadosa nas aulas e atividades.

“Também destaco a possibilidade de troca de experiências. Eu costumo dizer que toda rede tem suas dificuldades, mas tem também suas potências e a oportunidade dos colegas falarem entre si das dificuldades e também compartilharem soluções é muito rica. Então foi uma experiência muito interessante e a turma foi muito participativa”, completou.  O professor foi responsável por lecionar dois módulos do curso, o de álcool e outras drogas e o de atenção às crises. 

A especialização contempla um total de 400 horas de carga horária, sendo 368 horas /aula de disciplinas e 32 horas destinadas à elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Fazem parte da turma, 34 alunos, que são trabalhadores com graduação de nível superior, com atuação na atenção ou na gestão em Saúde Mental, Álcool e outras Drogas no Sistema Único de Saúde SUS, em Minas Gerais, nas esferas municipal ou estadual.

Por Vívian Campos e Jean Alves/ ASCOM/ ESP-MG