Com a experiência de quase cinco décadas no tratamento da hanseníase, a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) promove, por meio de suas Casas de Saúde e do Hospital Eduardo de Menezes, a reabilitação das pessoas atingidas pelo bacilo de Hansen e a capacitação de profissionais em todo o território mineiro.
A Fhemig também coopera, no âmbito da Coordenação Estadual de Enfrentamento à Hanseníase, da Secretaria de Estado da Saúde (SES-MG), para a construção das linhas de cuidado relativas à doença e para os programas de enfrentamento da enfermidade (estaduais e nacionais) desenvolvidos pelo Ministério da Saúde.

Desde 2016, o mês de janeiro destina-se à conscientização da sociedade para a importância do diagnóstico precoce da hanseníase e a cor roxa é usada para pontuar as campanhas educativas. Ao longo do “Janeiro Roxo” são intensificadas as ações de busca ativa e de informação sobre a doença.

Reinserir e integrar

O trabalho desenvolvido pelas Casas de Saúde, de reabilitação integral dos ex-internos compulsórios das extintas colônias de hansenianos (residentes em suas unidades), visa à reinserção social e à integração funcional para realizar atividades da vida diária, de modo a assegurar a esses indivíduos qualidade de vida e inclusão social - que lhes foram negadas no passado.

Quatro Casas de Saúde compõem as Unidades Assistenciais de Reabilitação e Cuidados Integrados da Fhemig: Santa Izabel (CSSI), em Betim; Santa Fé (CSSFE), em Três Corações; São Francisco de Assis (CSSFA), em Bambuí e Padre Damião (CSPD), em Ubá.

Como explica o diretor da Casa de Saúde Padre Damião, o fisioterapeuta Adelton Andrade Barbosa, “o trabalho de reabilitação é feito de maneira interdisciplinar e multiprofissional, por meio de uma linha de cuidados específica para os pacientes do período de internação compulsória e os chamados "filhos separados" que foram separados dos pais até 1986”.

As Casas de Saúde têm trabalhado a reinserção social das famílias por meio de ações como a regularização fundiária das áreas das antigas “colônias”, com a cessão da propriedade dos imóveis aos ex-internos e a atração de serviços públicos para o interior de suas áreas como, por exemplo, o Programa de Saúde da Família, o Centro de Referência em Assistência Social e a Unidade Básica de Saúde. Além disso, também promove a modernização e o revocacionamento de suas unidades hospitalares.

Formar para informar

Elementos fundamentais para superar o preconceito, a informação e a formação de pessoal qualificado para atender às pessoas acometidas pela doença são premissas difundidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e postas em prática pelo Ambulatório de Hanseníase do Hospital Eduardo de Menezes (HEM), referência estadual para o tratamento de doenças infectocontagiosas.

O Serviço do HEM é referência macrorregional, cadastrado pelo Ministério da Saúde, o que significa que o trabalho desenvolvido por seus profissionais pode nortear as ações não somente de Minas Gerais, como também dos estados limítrofes.

A chefe da unidade de pacientes externos do HEM, a assistente social Luciana Paione, explica que “como temos o ambulatório de dermatologia ‘Dra. Sandra Lyon’, ao qual o atendimento secundário e terciário da hanseníase está vinculado, sempre temos a possibilidade de, também, realizarmos diagnósticos precoces. O serviço é matriciador para a doença e promove treinamentos técnicos, teóricos e práticos”, esclarece.

No âmbito da qualificação profissional para a abordagem da hanseníase, as Casas de Saúde também realizam a capacitação das equipes multiprofissionais do Programa Saúde da Família e da Atenção Básica dos municípios que integram suas macro e/ou microrregiões, qualificando-as para o atendimento à doença, em consonância com a Secretaria Estadual de Saúde (SES-MG), por meio da Coordenação de Dermatologia Sanitária.

Novos casos

Segundo dados do Ministério da Saúde, em Minas Gerais, entre 2017 e 2021 foram registrados 4.929 novos casos de hanseníase. Desse total, a maior parte dos doentes foi curada 71,8% (3.537), mas o índice ainda está abaixo do mínimo recomendado de 75%. Essa realidade se repete nos demais estados, e faz com que o Brasil seja o segundo país, no mundo, com o maior número de novos casos dessa enfermidade milenar, atrás apenas da Índia, que possui uma população quase sete vezes maior que a brasileira. Além disso, o Brasil concentra mais de 90% do total de casos de hanseníase no continente americano.

Mesmo os casos recentes de hanseníase sofrem com a longa carga histórica do preconceito em torno da doença, o que dificulta a adesão das pessoas ao tratamento. O temor da repercussão social do seu diagnóstico e o tratamento levam muitos indivíduos à demora em procurar atendimento, bem como a aceitar sua condição (temporária) de saúde.

O programa de hanseníase é realizado pelos municípios (atenção primária), cabendo às Casas de Saúde atenderem e monitorarem os pacientes inseridos em sua linha de cuidados (atenção secundária). “Os demais atendimentos são realizados no Centro de Testagem e Aconselhamento das prefeituras locais, que direcionam às Casas de Saúde apenas os casos de maior complexidade”, esclarece o diretor assistencial da Casa de Saúde Santa Fé, o psiquiatra Luiz Antônio Moreira.

Papel estratégico

Atualmente, as Casas de Saúde buscam fortalecer sua vocação, por meio da habilitação de seus serviços e, “assim, ocuparem papeis estratégicos e efetivos de atuação nas redes de atenção à saúde em seus territórios regionais, sublinha a diretora da Casa de Saúde São Francisco de Assis, Vanessa Cristina Leite da Silveira.
“A reabilitação, no tratamento das sequelas da hanseníase, é de extrema importância, uma vez que as ações tomadas objetivam prevenir as incapacidades e deformidades, bem como preservar as funções dos órgãos acometidos e favorecer a autoestima e a reinserção social dessas pessoas”, pontua a diretora da Casa de Saúde Santa Izabel, Gabriella Rodrigues da Silva Camargo.

Estratégia global

O Ministério da Saúde destaca que, embora seja observada uma diminuição dos casos de hanseníase no Brasil, ao longo dos anos, a redução mais acentuada nos últimos dois anos pode estar relacionada à menor detecção de casos devido à pandemia de covid-19.

A Estratégia Global da OMS para a hanseníase (2021 a 2030) tem como principal objetivo a interrupção da transmissão e a obtenção de zero casos autóctones (originados no país). A nova abordagem difere das estratégias anteriores que tinham como foco a eliminação da enfermidade como problema de saúde pública, definida como menos de um caso em tratamento por 10 mil habitantes.

A doença

Diagnosticada e tratada precocemente, a hanseníase tem cura e não deixa sequelas. Assim que o tratamento é iniciado, a doença já fica controlada e não avança. Em contrapartida, quando tardios o diagnóstico e o tratamento, a probabilidade de incapacidades físicas permanentes é grande. Por isso, é fundamental que as pessoas saibam quando procurar atendimento médico (nas unidades básicas de saúde) já que o período de incubação da hanseníase, doença infecciosa, transmissível e crônica, é longo. Varia de dois a sete anos, em média, mas pode ultrapassar dez anos.

Classificada como doença infectocontagiosa, é transmitida pelas vias aéreas superiores. Seu tratamento, essencialmente ambulatorial, é o meio mais eficaz para quebrar a cadeia de transmissão. Os pacientes passam por consultas e fazem uso de medicação em domicílio.

A hanseníase é uma doença estigmatizante, malvista, principalmente, devido às deformidades, lesões crônicas, sequelas graves e incapacidades que podem acometer os membros superiores e inferiores. Essas manifestações alimentam o medo e o preconceito sociais, causam vergonha aos doentes por sua aparência, e pode interferir em suas atividades de trabalho, na sexualidade e na relação com seus familiares.

Sintomas

Os principais sintomas são dormência, dor nos nervos dos braços, mãos, pernas e pés; presença de lesões de pele, como caroços e placas pelo corpo, com alteração da sensibilidade; e diminuição da força muscular. Ao apresentar essas manifestações, a pessoa deve procurar o serviço de saúde o mais rápido possível. O tratamento dura de 6 meses a um ano e não pode ser interrompido. Os comprimidos devem ser tomados em casa, pelo prazo definido, de acordo com a orientação do médico.

Por Assessoria Fhemig